Ary Girota*
O que está por trás da nova tentativa de privatização da CEDAE Produção? Neste mês de maio, que comemoramos o Dia Internacional do Trabalhador, fomos surpreendidos em noticiário veiculado na grande imprensa, que o governador Cláudio Castro, determinou a realização de estudos¹ para viabilizar a entrega dos serviços de produção de água, que hoje são realizados pela CEDAE, para mais de 11 milhões de pessoas.
Não custa lembrar as crises de tolueno na bacia de Imunana/Laranjal (2024) e o excesso de rejeitos industriais oriundos de rios da Baixada Fluminense, afluentes da bacia do Guandú (2021). Tais eventos após sanados, deram origem a processos de reestruturação e aprimoramento dos sistemas de controle de qualidade em toda cadeia produtiva da água. As urgentes demandas climáticas e sócio ambientais, fizeram com que a CEDAE atuasse pesadamente no monitoramento desses sistemas 24h por dia, com uso de drones e helicópteros em voos diários nas respectivas bacias.
Nossos técnicos estão de prontidão diuturnamente, monitorando as bacias em vistorias com embarcações subindo e descendo os rios afluentes diariamente. Essa rotina visa garantir a qualidade da água produzida em nossos sistemas, obviamente esses esforços não teriam espaço ou apelo se fossem operadores do sistema de produção, as empresas privadas.
E isso não é uma opinião, após 03 anos de privatização dos sistemas de distribuição de água, o número de reclamações na justiça, pelos maus serviços prestados pelos entes privados, aumentou em alguns casos em mais de 100%. Sem falar nas questões técnicas operacionais, onde podemos observar um aumento significativo do rompimento de adutoras, falta de água em locais que nunca tiveram esse tipo de problema.
Na realidade, essa nova investida de atores políticos para privatização da Cedae Produção, esconde a dilapidação do patrimônio público, a corrupção que levou ao caos financeiro e ingresso no RRF (Regime de Recuperação Fiscal) do estado, colocando na berlinda, a única empresa pública estatal que gera receita para os cofres do Estado. Omite ainda, a possibilidade de fazer uso do dinheiro arrecadado com a possível venda, para financiar suas aspirações eleitorais para o ano de 2026.
A discussão deveria ser pautada primeiramente, em quais custos e benefícios a sociedade carioca teria com a entrega da CEDAE Produção, principalmente, no que concerne ao fictícia narrativa de que a abertura de capital ou venda direta de ações da companhia, oxigenaria o caixa do estado, e ainda aumentaria a capacidade de investimento da empresa. Haja vista que hoje a empresa tem uma receita hoje na casa dos R$ 3.3 bilhões, podendo chegar a R$ 4 bilhões com a instalação dos macro medidores, ao final de 2025. Este fato é de total conhecimento das concessionárias privadas, e despertou a voracidade desses, para se apropriar de todo sistema, transformando o monopólio da produção de estatal para privado.
Finalizando, não há justificativa plausível para a tentativa de entrega da produção de água, seja através de abertura de capital ou venda direta, pois a empresa hoje é saudável do ponto de vista financeiro e, atua com responsabilidade e investimentos no que tange a qualidade da água produzida e segurança hídrica de nossa população.
A CEDAE PRODUÇÃO, será um dos maiores negócios do Brasil na área de saneamento dos últimos anos. Podendo lucrar até R$ 2 bilhões/ano, sem risco no mercado, por ser detentora do monopólio da operação de tratamento de água no Rio de Janeiro.
Talvez você leitor, possa responder à pergunta inicial com relação ao que está por trás do interesse na venda açodada e descabida da Cedae.
* Ary Girota é presidente do Sindágua-RJ
¹ – LICITAÇÃO LI – Nº 013/2024 “CONTRATAÇÃO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PARA DESENVOLVIMENTO DE ESTUDOS, ANÁLISES PRELIMINARES, AVALIAÇÃO, ESTRUTURAÇÃO E EXECUÇÃO DE EVENTUAL PROJETO VOLTADO AO FORTALECIMENTO DA ESTRUTURA DE CAPITAL DA CEDAE” PROCESSO SEI-150001/023473/2023
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Diário Carioca
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