Rio de Janeiro – Em tempos de retrocessos e apagamentos forçados, a exposição “Indomináveis Presenças” finca o pé no Centro Cultural Banco do Brasil RJ como um grito visual de resistência. A mostra, com entrada gratuita até 30 de junho, reúne 114 obras de 16 artistas de diferentes territórios do Brasil, propondo uma travessia potente por narrativas contra-coloniais.
Com curadoria de Luana Kayodè e Cíntia Guedes, e idealização da AfrontArt – Quilombo Digital de Artes, a exposição apresenta um ecossistema artístico que conecta ancestralidade, dissidência e futuro, por meio de suportes que vão da escultura à inteligência artificial. Tudo isso em um dos espaços culturais mais simbólicos do país, desafiando o velho Brasil de elite e exclusão.
Desafiar a normatividade com arte
A presença de Indomináveis Presenças no CCBB RJ não é só simbólica — é estratégica. Segundo as curadoras, ocupar o Rio é dialogar com um território de forte identidade negra e periférica, historicamente invisibilizado pelas lentes da “brasilidade oficial”. A mostra não se limita a expor: ela convoca, tensiona, reescreve.
Artistas que reimaginam o Brasil
Entre os destaques, está Rafa Bqueer, com a série Oyá – Imagens de Revolta (2023), que ressignifica a força do orixá Oyá em imagens incendiárias. Já Mayara Ferrão provoca com as séries Verdade Tropical e Álbum de Desesquecimentos, recém-premiada com o Sauer Art Prize. Em outra frente, Gê Viana mistura memórias afro-indígenas e colagens na série Sapatona.
Os nomes seguem fortes:
- Adu Santos (SP), revira os bastidores da museologia oficial;
- Bernardo Conceição (BA) e Cosmos Benedito (MS), desestabilizam noções de tempo e ancestralidade;
- Bixa Tropical (BA) e Panamby (SP/MA) dançam entre o rito e o deboche;
- Emerson Rocha (SP) e Rainha F (RJ) tocam o corpo negro e homoafetivo como território político.
A lista ainda inclui Uyra Sodoma (PA), a “Árvore que Anda”, em suas performances que cruzam floresta e cidade, além de Lucas Cordeiro, Juh Almeida, Helen Salomão, Rafaela Kennedy e Edgar Azevedo — cada qual empunhando a arte como flecha crítica contra os vícios coloniais.
Reflorestar o imaginário coletivo
Mais do que uma exposição, Indomináveis Presenças é uma disputa simbólica. “Nossa proposta é reflorestar o imaginário coletivo“, dizem Kayodè e Guedes. Num país onde a extrema-direita ataca políticas de diversidade e cultura com fervor censório, a mostra oferece o exato oposto: um lugar de escuta, criação e permanência.
E se Bolsonaro e seus fiéis ainda acham que cultura é “coisa de vagabundo”, aqui está a prova viva — e vibrante — de que arte é território de luta, memória e invenção de futuros.
Serviço
Indomináveis Presenças
De 30 de abril a 30 de junho de 2025
Centro Cultural Banco do Brasil – R. Primeiro de Março, 66 – 4º andar, Centro, Rio de Janeiro
De quarta a segunda, das 9h às 20h (fecha às terças)
Entrada gratuita — Retire seu ingresso aqui
Mais informações: afrontart.com