Rio de Janeiro – A paisagem da Barra da Tijuca vai virar cenário de mais uma jogada do setor imobiliário travestida de evento de bem-estar. Nos dias 24 e 25 de maio, a incorporadora Tegra realiza a primeira edição carioca do chamado Circuito Esportivo Tegra RJ, uma ação gratuita recheada de atividades físicas, brindes e sessões de massagem – tudo para atrair os olhares do público para o luxuoso Gaea Home Resort, seu mais novo empreendimento na Avenida Evandro Lins e Silva.
Pedalada, corrida e… marketing
No sábado (24), a programação começa cedo, às 5h30, com concentração para um passeio de bicicleta ao longo da orla. O ponto de encontro é o estande do Gaea. Depois do pedal, os participantes ganham um café da manhã e podem participar de uma aula funcional às 9h. Já no domingo (25), é a vez da corrida de rua, com largada às 6h30 e outra atividade funcional em seguida.
Não faltarão mimos: pontos de hidratação, cadeiras de massagem, banheira de gelo, botas de compressão e brindes “exclusivos” reforçam o tom promocional do evento. Tudo isso organizado sob os cuidados de uma assessoria esportiva contratada, que vai dividir os atletas em pelotões e garantir a ordem do espetáculo.
Bem-estar a serviço da vitrine
Essa não é a primeira vez que a Tegra realiza o evento. Em São Paulo, o Circuito Esportivo já apareceu em bairros nobres como Vila Olímpia e Moema, sempre associado aos empreendimentos da incorporadora. No Rio, o formato segue a mesma lógica: vender qualidade de vida como se fosse acessível a todos, enquanto a cidade real segue convivendo com a ausência de infraestrutura básica em boa parte da sua geografia.
A proposta até soa simpática: ocupar o espaço urbano com atividades saudáveis e gratuitas. Mas no pano de fundo, o que se vê é a habitual apropriação do bem público – neste caso, a orla da Barra – para reforçar a vitrine de imóveis voltados para uma elite. O que deveria ser política pública, vira peça de marketing.
Qualidade de vida com CEP privilegiado
A Tegra afirma que o evento simboliza seu “compromisso com o bem-estar nas comunidades onde atua”. Uma bela frase, se desconsiderarmos o histórico da urbanização carioca, que concentra investimentos em regiões de alto valor imobiliário como a Barra da Tijuca e ignora territórios populares. Em um município marcado pela desigualdade no acesso a áreas verdes, transporte e equipamentos de lazer, iniciativas como essa mais vendem do que promovem qualidade de vida.
Enquanto isso, a cidade carece de políticas públicas efetivas de incentivo ao esporte, com parques degradados, praças abandonadas e escolas sem estrutura para atividades físicas. A integração entre saúde, lazer e espaço urbano continua dependendo do bom humor das incorporadoras — e isso, convenhamos, é tudo menos democrático.
O Carioca esclarece
O que é o Circuito Esportivo Tegra?
É um evento gratuito promovido pela incorporadora Tegra com atividades como corrida, ciclismo e aulas funcionais, acompanhado de brindes e massagens.
Por que o evento acontece na Barra da Tijuca?
A Barra é um dos bairros mais valorizados do Rio e abriga o empreendimento Gaea Home Resort, que é promovido durante o evento.
Quem pode participar do Circuito Esportivo Tegra?
Qualquer pessoa pode se inscrever gratuitamente. No entanto, o foco da ação é atrair consumidores em potencial para o estande de vendas do condomínio.
Como isso afeta a ocupação urbana do Rio?
Eventos desse tipo reforçam a lógica de urbanismo seletivo, em que áreas nobres recebem investimentos e visibilidade, enquanto regiões periféricas seguem negligenciadas.
