Nicolás Maduro usa eleição para reafirmar controle sobre Essequibo

Caracas – Com pose de pacificador e punho de ocupante, Nicolás Maduro foi às urnas neste domingo (25) transformando a eleição legislativa da Venezuela num palanque expansionista. Do alto de sua retórica bolivariana, o presidente cravou: o território disputado do Essequibo, até então sob administração da Guiana, é agora o “25º estado” venezuelano — com direito a governadores e deputados próprios, como se a Constituição se impusesse por decreto onde o direito internacional diz outra coisa.

Acompanhado da primeira-dama Cilia Flores, Maduro votou na Escola Ecológica Simón Rodríguez, em Caracas, e tratou de usar o processo eleitoral como vitrine política e geopolítica. Sem rodeios, chamou a Guiana de “ocupante ilegal” e “herdeira do colonialismo britânico”. E, como quem distribui terras, prometeu investimentos no Essequibo — mesmo sem controle de fato sobre o território. A estratégia é clara: transformar disputa jurídica em fato consumado, por meio de eleições unilaterais.

Essequibo vira arma eleitoral de Maduro

A tentativa de anexar o Essequibo, rica região amazônica de 160 mil km² sob litígio histórico, ganhou tração com o referendo promovido por Maduro em dezembro de 2023, considerado ilegal pela Corte Internacional de Justiça. Agora, o governo chavista aprofunda o gesto ao criar estruturas administrativas na área — embora sem qualquer presença efetiva ou reconhecimento internacional.

“É o exercício da soberania real”, afirmou Maduro, encenando um discurso de fundação nacional. Para ele, o processo representa “o nascimento da soberania venezuelana da terra de Simón Bolívar” — figura sempre invocada quando o chavismo precisa legitimar sua próxima cartada.

O Essequibo, claro, não é apenas uma abstração nacionalista. A região concentra jazidas de petróleo recém-descobertas, despertando o apetite do governo venezuelano num momento em que sanções e crise econômica fragilizam a renda estatal.

Reforma eleitoral à moda chavista

Maduro também anunciou que pretende enviar à nova Assembleia Nacional, em janeiro de 2026, um projeto de reforma constitucional para “modernizar” o sistema eleitoral. A proposta, segundo ele, será baseada em circuitos comunais, expressão que no vocabulário bolivariano costuma significar centralização do poder sob disfarce de participação popular.

“A estrutura política do país exige uma atualização das leis eleitorais”, declarou. O chavismo, que já controla o Conselho Nacional Eleitoral, as instituições judiciais e o Parlamento, agora prepara terreno para blindar sua hegemonia num modelo à prova de alternância.

Enquanto isso, as eleições deste domingo envolveram mais de 21 milhões de eleitores, incluindo 200 mil estrangeiros residentes. O presidente celebrou o clima de “paz” e a mobilização de comunidades indígenas, mesmo sob “condições climáticas adversas”. Mas, como de praxe, não faltou o fantasma dos “fascistas”.

“Conseguimos derrotar a violência que os terroristas prepararam para o país. Derrotamos de novo os violentos, os fascistas”, afirmou, sem apresentar evidências. No chavismo, qualquer suspeita vira certeza retórica — e qualquer crítica, “sabotagem imperialista”.

A mão estendida (com dedos cruzados)

Mesmo diante da tensão geopolítica e da radicalização interna, Maduro tentou posar de democrata. Afirmou estar disposto a dialogar com os eleitos, “independentemente de quem sejam”, e estendeu a mão para governadores opositores nos 24 estados. Mas o gesto soa ensaiado demais vindo de um governo que já prendeu dezenas de opositores, perseguiu juízes e impediu candidaturas como a de María Corina Machado, favorita nas pesquisas.

Nos bastidores, o que se costura é a permanência indefinida no poder, sob a casca de um sistema eleitoral cada vez mais moldado à imagem do chavismo.


O Carioca esclarece

O que é o Essequibo e por que está em disputa?
É uma região de 160 mil km² administrada pela Guiana, mas reivindicada pela Venezuela desde o século XIX. A disputa ganhou novo fôlego após a descoberta de petróleo.

Por que Maduro incluiu o Essequibo na eleição?
Para criar um fato político interno e reforçar o discurso nacionalista, mesmo sem controle territorial efetivo.

O que significa a reforma eleitoral anunciada por Maduro?
Mais poder para os conselhos comunais, ou seja, maior centralização sob o controle chavista.

Como isso afeta a democracia na Venezuela?
A simulação de pluralismo e reformas aprofunda a erosão das instituições e reforça o autoritarismo de Estado.

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