Brasília, Brasil – 9 de junho de 2025 – O ex-presidente Jair Bolsonaro anunciou que não recorrerá ao direito constitucional de silêncio durante seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), previsto para esta segunda-feira (9), às 14h, no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe militar que visava anular as eleições de 2022.
A decisão foi confirmada por seu advogado, o criminalista Celso Vilardi, em entrevista à CNN Brasil. A estratégia da defesa busca apresentar Bolsonaro como colaborativo e “confiante na própria versão dos fatos” — mesmo diante de evidências e delações que apontam seu envolvimento direto no planejamento da ruptura institucional.
“Temos a verdade do nosso lado”, diz Bolsonaro
Na última sexta-feira (6), durante um evento do PL Mulher em Brasília, Bolsonaro antecipou sua disposição em depor e conclamou apoiadores a acompanharem a oitiva. “Não vou lá para lacrar, para querer crescer, para querer desafiar quem quer que seja. Estarei lá com a verdade ao nosso lado”, disse.
A fala reforça sua retórica de vítima e mártir político, já conhecida desde sua derrota eleitoral em 2022. Com esse discurso, o ex-presidente tenta mobilizar sua base, minimizar os efeitos do processo judicial e manter viva sua influência nas eleições municipais de 2024 e nas articulações para 2026.
Embora afirme “não fugir de qualquer chamamento”, Bolsonaro manteve silêncio em outros depoimentos durante o inquérito da Polícia Federal que investiga o chamado núcleo golpista — grupo de militares e ex-ministros que teria atuado para subverter o resultado eleitoral por meio de medidas como um estado de sítio fabricado e uso ilegal das Forças Armadas.
STF ouve réus do “núcleo 1”
A nova rodada de depoimentos no STF inclui sete figuras-chave da trama golpista, todos investigados por suposta tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, organização criminosa e outros crimes previstos na Lei de Segurança Nacional.
Estão na lista:
- Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da ABIN;
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, ex-ministro e ex-candidato a vice, que deporá por videoconferência devido à prisão preventiva.
A primeira oitiva do dia será a do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, considerado peça central por ter revelado conversas e documentos que corroboram a existência de um plano articulado para não reconhecer o resultado eleitoral e manter o então presidente no poder.
Defesa tenta blindar Bolsonaro das delações
A expectativa é que Bolsonaro use o depoimento para negar qualquer intenção golpista e responsabilizar subordinados diretos ou figuras militares de seu entorno. A estratégia não é nova: ao longo dos últimos meses, a defesa tem tentado desvincular o ex-presidente de atos concretos, mesmo com delações de Mauro Cid e apreensões da PF que apontam o envolvimento direto de Bolsonaro na redação de minutas golpistas e em reuniões com comandos militares.
O advogado Celso Vilardi tem atuado para afastar a narrativa de que o silêncio anterior do ex-presidente em investigações era sinal de culpa. Agora, ao colocá-lo como “cooperativo”, a defesa aposta em criar um contraste simbólico com as revelações de Cid, que passou a colaborar com o Ministério Público Federal e forneceu provas que envolvem Bolsonaro diretamente.
Pressão institucional cresce no STF
A condução das oitivas está a cargo da Primeira Turma do STF, que centralizou os depoimentos do núcleo mais próximo de Bolsonaro. A presença dos ex-comandantes militares e de figuras políticas do alto escalão do governo anterior coloca o Judiciário no centro de um processo que não apenas julga crimes, mas delimita os limites institucionais da democracia brasileira após 2018.
Walter Braga Netto, preso preventivamente desde dezembro de 2024, será ouvido remotamente do Rio de Janeiro. As autoridades consideram que seu papel como ponte entre os militares e o núcleo político bolsonarista é um dos elos mais comprometedores do esquema.
O CARIOCA ESCLARECE
Por que Jair Bolsonaro resolveu falar agora?
Bolsonaro avalia que o silêncio poderia ser interpretado como admissão de culpa, sobretudo após a delação de Mauro Cid. Ao depor, ele busca marcar posição política, reforçar sua narrativa de perseguição e tentar influenciar o julgamento da opinião pública.
O que está em jogo nos depoimentos?
Mais do que eventuais condenações individuais, os depoimentos testam a capacidade institucional do STF em reagir a um plano articulado de golpe de Estado. O tribunal busca demonstrar que a democracia brasileira tem mecanismos para responsabilizar figuras centrais do poder.
Qual o risco político para Bolsonaro?
O depoimento pode reforçar sua base mais radical, mas enfraquece sua posição diante do centrão e de eventuais aliados de 2026. Caso entre em contradição com provas já conhecidas, a fala pode ser usada como evidência de falso testemunho ou obstrução de justiça.