Ailton Graça: um sambista que também é ator

A carreira de Ailton Graça se confunde entre seus personagens na TV e no cinema e a música. Música essa que vai além das trilhas sonoras que acompanham suas interpretações, misturando sua trajetória pessoal com a artística. O trabalho mais recente do ator paulistano de 59 anos ilustra bem isso: Ailton interpretou Antônio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994), o Mussum, em “Mussum, o Filmis”. O interesse dele pelo personagem, aliás, é tanto que ele torce pela mesma escola que o humorista: a Mangueira.

“Sou mangueireinse por causa do Mussum, de tanto vê-lo nos programas fazendo homenagem à escola. Eu acreditava que o morro da Mangueira era um grande quilombo”, revela para a Billboard Brasil. Pelo papel do comediante, que fez história na trupe dos “Trapalhões” e foi músico do grupo Os Originais do Samba, Ailton foi premiado no Festival de Cinema de Gramado na categoria melhor ator, além de arrancar elogios da crítica e do público.

A conexão entre Ailton e Mussum vai além do amor pela mesma agremiação. “Me impressionou muito como tivemos histórias parecidas”, diz o ator. Mais do que apenas um trabalho na longa carreira do ator, o filme foi uma homenagem a um ídolo. “Eu já era fã do Mussum intuitivamente. Todas as músicas dos Originais do Samba me marcaram. Mas ‘Tenha Fé, Pois Amanhã um Lindo Dia Vai Nascer’ passou a ser um mantra para mim. Isso dizia muito sobre o Mussum: ele nunca teve medo de viver cada detalhe da sua vida”.

A ligação entre música e dramaturgia acompanhou toda a carreira de Ailton. Sua estreia nos cinemas foi em “Carandiru” (2003), de Hector Babenco. Ali, fez o papel de Majestade, um traficante que comanda a venda de drogas dentro do presídio que batiza o longa. O jeito descolado que deu ao meliante foi inspirado em James Brown, pai do funk americano. “O repertório dele deu um norte ao personagem, que tinha um jeito suingado de falar”.

Nascido e criado na zona sul de São Paulo, Ailton é, antes de tudo, um apaixonado pelo Carnaval. Principalmente pelos desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, que acompanhava desde a infância. O primeiro desfile do pequeno Ailton foi aos 8 anos e, desde então, acumula Carnavais como coreógrafo, passista e mestre-sala pela Gaviões da Fiel, sua escola do coração em São Paulo, além de Vai-Vai e Tom Maior.

A paixão de Ailton por Carnaval e sambas-enredo é tão forte que um samba de outra escola marcou um dos seus personagens mais memoráveis: a travesti Xana Summer, da novela “Império”, transmitida pela Globo entre 2014 e 2015. “A Xana era uma personagem muito solar, feliz. E lembro de um samba que dizia: ‘Abre a porta deixa o sol entrar, quero amanhecer no teu olhar’, que transmitia muito do que aquela personagem representava”, relembra. O samba em questão foi desfilado pela escola carioca União da Ilha do Governador, em 2001.

Mesmo com uma grande versatilidade na carreira de ator, como quando viveu o ex-seminarista Quirino, em “Flor do Caribe” (2013), é mesmo o samba que perpassa os grandes personagens de Ailton. E talvez o mais marcante seja Feitosa, da novela “América” (2005), também da Globo, e marcada pelos versos “você é um negão de tirar o chapéu”, da música “Meu Ébano”, de Alcione. “Ela me persegue até hoje, é um trabalho muito marcante”, brinca.

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