Boletim do golpe: Morte e ressurreição de Alexandre de Moraes

Considere que o líder da conspiração para impedir a posse de Lula, de pouca experiência militar uma vez que sua carreira foi interrompida por má conduta, não é e nunca foi exemplo de uma inteligência notável, haja visto a brilhante ideia de gravar a reunião ministerial de planejamento do golpe, mas não só;

Considere que militares e civis que cercaram o líder durante quatro anos – à exceção de Paulo Guedes, ministro da Economia, que se não apoiou o golpe, também não se opôs, calando-se – nunca se destacaram pelo brilhantismo em suas respectivas áreas de atuação; foi a pior equipe de governo jamais montada;

Considere, por fim, que as maiores potências do mundo, à frente os Estados Unidos, já tinham avisado que seriam contra qualquer tentativa de abolição do Estado de Direito Democrático no Brasil, e que sanções seriam aplicadas caso isso acontecesse; diga-me: como poderia ter dado certo o golpe (ou golpes) dos sonhos de Bolsonaro?

Porque o Cavalão, apelido de Bolsonaro à época em que serviu ao Exército, sonhava em dar um golpe desde que era deputado federal. Eleito presidente, começou a criar as condições para dar o golpe tão logo assumiu o cargo. Os generais sabiam disso, mas fingiam que não. Por duas vezes antes das eleições de 2022, o golpe esteve na mesa.

Passada as eleições, voltou à mesa no início de novembro, ali se manteve até o final do mês seguinte, e segundo disse o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, por muito pouco não foi dado. Faltou apoio militar. Mas da parte deles, faltou empenho para abortar a aventura bolsonarista de 8 de janeiro.

Quando nós, jornalistas, imaginamos saber quase tudo sobre a trama golpista investigada pela Polícia Federal, vazam novos detalhes ou surgem fatos novos que deveriam nos obrigar a baixar a crista, mas não baixamos. Pesquisa, qualquer uma e sobre qualquer assunto, é um retrato do momento – assim como nossos relatos.

No início deste ano, em entrevista ao Globo, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, contou uma história que soou inverídica aos ouvidos dos seus críticos, e por isso foi alvo de intensa pancadaria. Moraes disse que existiram três planos para puni-lo caso o 8 de janeiro fosse um sucesso:

“O primeiro previa que as Forças Especiais do Exército me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. No terceiro, eu seria preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”.

Sabe-se agora, e a Polícia Federal dispõe de provas, que o segundo plano era o mais plausível: a prisão do ministro por soldados do Comando de Operações Especiais, unidade do Exército sediada em Goiânia; sua execução e a desova do corpo a meio do caminho de Goiânia em local onde não seria encontrado.

Àquela altura, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordem de Bolsonaro, já estaria no comando das tropas de Operações Especiais. A versão oficial a ser oferecida ao distinto público era a de que Moraes fugira para o exterior. Acreditasse quem quisesse. O Brasil já seria uma ditadura, e ditadura dispensa explicações.

Tempos depois, por artes da Inteligência Artificial e se fosse necessário, aparecia uma foto de Moraes em Paris, saindo sorrateiramente de um lugar público, talvez um restaurante.  Parece inacreditável? O golpe para anular o resultado das eleições de 2022, e o seguinte do 8 de janeiro, também pareciam.

Como difícil de acreditável é a desculpa dada em depoimento à Polícia Federal pelo ex-comandante do Exército, o general Freire Gomes, para o fato de não ter denunciado Bolsonaro à justiça ao ser convidado a participar do golpe. A mãe do general estava doente; ele temia ser sucedido por comando do Exército por um golpista.

Assim achou melhor ficar quieto e, na medida do possível, atuar junto aos demais generais para que não aderissem ao golpe – nem ao de dezembro, nem ao de janeiro batizado de “A Festa da Selma”.  Freire Gomes não esvaziou o acampamento dos golpistas nas vizinhanças do QG do Exército porque Bolsonaro não deixou, ele afirma.

Por que antes, junto com os demais comandantes militares, assinou uma nota em defesa do direito dos golpistas de se manifestarem? Ora, porque o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, mandou. Sei… A Polícia Federal deve saber por que Freire Gomes e os demais assinaram a nota e ficaram só olhando no que tudo ia dar.

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