Crítica Posso Te Contar Um Segredo? | Documentário não esmiúça o cyberstalking

Imagine ser alvo de uma perseguição online sem sentido. Você não conhece o hacker e não faz ideia do porquê ele está infernizando a sua vida. Foi isso que aconteceu com mais de 60 mulheres do Reino Unido que foram vítimas de Matthew Hardy, um homem que recebeu a maior condenação do país por cyberstalking. Toda essa história é contada no documentário Posso Te Contar Um Segredo? que estreou no dia 21 de fevereiro na Netflix. Só que, ao contrário do que esperado, a obra não aprofunda no caso e deixa o espectador com mais perguntas do que respostas.

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Dividida em apenas dois episódios, a série mostra as vítimas Lia, Abby e Zoe explicando como as chantagens começaram. Segundo elas, o hacker usava uma conta falsa para se aproximar. Para umas, fingia ser fotógrafo; para outras, alguém que poderia lhes oferecer um emprego. E, assim, ia se aproximando delas e de suas famílias até conseguir informações confidenciais ou que pudesse lhes envergonhar.

 

Não demorava muito para que o Matthew tivesse todas as ferramentas necessárias para continuar sua caça, mas uma coisa não ficava clara: qual a sua motivação para fazer isso tudo? E é nesse momento que o documentário peca. Além de não esmiuçar a vida do hacker, a trama ainda falha em explicar alguns pontos importantes, como o porquê da polícia não ter dado credibilidade à denúncia de Abby e também a forma como o policial Kevin Anderson, de Cheshire, conseguiu solucionar o caso.


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Desse modo, a trama não apenas soa apressada demais, como desimportante. É como se a Netflix e os produtores não dessem à situação o peso que ela merece. Também não há tempo para o público criar empatia suficiente com as vítimas. Quem são essas meninas? Por que eu deveria me importar? Essas são algumas perguntas que ficam no ar.

Além disso, sem nenhum elemento inédito ou que realmente chame a atenção, Posso Te Contar Um Segredo? é só mais um em meio aos vários documentários de true crime da Netflix.

Posso Te Contar Um Segredo conta a história de vítimas de cyberstalking. (Divulgação/Netflix)

Já as partes positivas (porque elas existem!) ficam por conta dos depoimentos sinceros das vítimas e da coragem de expor seus casos. Uma das moças comenta que o seu namorado da época a abandonou depois que o hacker inventou uma mentira sobre ela estar dormindo com o sogro. Apesar de ser abordado rapidamente, esse fato mostra até onde uma mentira virtual pode chegar. 

A obra também faz refletir como é importante ter leis mais rígidas para esses tipos de crime e como a polícia precisa estar preparada para acolher as vítimas nessa situação. Ainda assim, mesmo com pequenos acertos e um desfecho feliz — Matthew recebeu uma condenação de nove anos —, o documentário não é tudo aquilo que se espera dele, e poderia ter dedicado mais tempo para esmiuçar a trama, o TEA (Transtorno do Espectro Autista) do hacker e o ponto de vista das vítimas.

Em Posso Te Contar Um Segredo, as vítimas contam como o hacker invadiu suas vidas. (Divulgação/Netflix)
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O cyberstalking no Brasil

Apesar de não ser um crime tão novo assim, o cyberstalking começou a ser reconhecido pelo judiciário recentemente. Aqui no Brasil, a lei que pune esse tipo de delito foi sancionada em abril de 2021 e tipificada no art. 147-A do Código Penal. Ela define o cyberstalking como:

O ato de perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

A pena para este tipo de crime varia de seis meses a três anos de prisão, e a sentença ainda pode ser aumentada caso a vítima seja menor de idade, idosa, gestante, tenha deficiência ou se o crime for cometido por motivo torpe ou com emprego de violência ou grave ameaça.

Leia a matéria no Canaltech.

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