Em reunião no Ministério Público do Trabalho em Sergipe, migrantes fazem apelo por oportunidades

 

As condições difíceis de vida na Venezuela trouxeram Ramón Bucarito a Sergipe, com a filha e a esposa, em 2016. Ao longo desses últimos oito anos, as dificuldades persistem. “Estamos passando por muitos desafios como migrantes. Não conseguimos condições para viver bem, porque é muito difícil encontrar um trabalho sendo um migrante de 60 anos. Trabalhei por três anos e meio e, depois, não tive mais oportunidades”, relatou. Ramón foi um dos cerca de 20 migrantes que participaram de uma reunião pública no Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), nesta quarta-feira (30).

O evento, realizado em parceria com Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem), Pastoral do Povo da Rua, Projeto Banho para Todos, Cáritas Arquidiocesana de Aracaju, Instituto Social Ágatha e Universidade Federal de Sergipe (UFS), foi uma oportunidade para que migrantes cubanos, venezuelanos e um marroquino relatassem os desafios vivenciados em Sergipe. Gregoria Baez, venezuelana e mãe de três crianças, mora há cinco anos no Brasil. Ela está em Sergipe há um ano e lamenta a falta de oportunidades para inserção no mercado de trabalho. “Eu gosto de morar aqui, o problema é o trabalho. Gostaríamos de trabalhar, mas muitos de nós não temos oportunidade. Então, ficamos no sinal pedindo ajuda para comprar comida, fralda e roupa. É muito difícil de vender alguma coisa na rua, porque temos outra cultura, nossa comida é venezuelana, nossos costumes são diferentes”, desabafou.

Durante a abertura do encontro, o procurador-chefe do MPT-SE, Márcio Amazonas, destacou a importância do momento. “Hoje, nós dedicamos essa pauta aos migrantes por entendermos a facilidade para a exploração, já que muitos chegam ao Brasil sem falar o idioma e em situação de possível irregularidade. Esse é um movimento revolucionário, porque estamos aqui para escutá-los. Com isso, vamos tentar traçar um diagnóstico para, a partir de hoje, entender, qualificar, capacitar e buscar oportunidades de trabalho digno para a população migrante do estado”, afirmou.

Conforme explicou o procurador do Trabalho e coordenador da Coordenadoria Nacional de Combate à Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete), Adroaldo Bispo, o intuito da reunião é entender quais direitos não estão sendo assegurados aos migrantes no Estado de Sergipe. “Vocês sairão dessa reunião com a certeza do compromisso do Ministério Público do Trabalho em Sergipe e de todas as instituições parceiras. Nós queremos entender a realidade para começar a olhar para vocês de uma forma diferenciada e garantir que os direitos fundamentais da nossa Constituição sejam assegurados”, ressaltou o procurador.

O coordenador da Pastoral do Povo da Rua, Marcos Corrêa, falou sobre a importância de ouvir essa população. “Aracaju tem, hoje, cerca de 120 pessoas migrantes, que enfrentam uma série de desafios. São condições financeiras complexas, preconceitos e dificuldades de inserção em diversos aspectos. Por isso, precisamos de um olhar humanizado e mostrar que somos irmãos e irmãs, independentemente da nacionalidade”, pontuou.

A professora Tereza Raquel Sena, do Departamento de Fonoaudiologia da UFS, reforçou a necessidade de articulação entre as instituições para o desenvolvimento de soluções eficientes. “Esse é um evento único. Estamos aqui para escutar e, juntos, pensarmos soluções para as aflições dos migrantes, de modo a fazer com que a vida seja melhor. A expectativa é promover vidas dignas, com trabalho e renda. A UFS é a única universidade pública do estado e nosso compromisso é com todas as pessoas que aqui residem. As histórias de vida de cada um de vocês devem ser parte do nosso espaço”, afirmou.

Por fim, o presidente da Comissão de Direito Migratório da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe (OAB-SE), Alex Daniel Ferreira, explicou que o número de migrantes em Sergipe é subdimensionado. “Existem muito mais migrantes no nosso estado do que imaginamos. Nós não temos política pública migratória no Brasil, ela está prestes a ser criada. Enquanto isso não acontece, o Brasil não tem orçamento direcionado com essa finalidade e não consegue enxergar vocês. Esse é um problema gravíssimo que precisamos combater”, disse.

Representantes de diversas instituições participaram da reunião, a exemplo da Secretaria de Estado da Social, Inclusão e Cidadania; Secretaria de Estado da Saúde e do Município de Aracaju; Sebrae; Sesc; Senar; Casas de Passagem Acolher e Freitas Brandão; e Coletivo A Rua. As demandas apresentadas pelos migrantes serão discutidas pelos representantes de cada instituição, em reunião que será realizada em breve.

Fonte: MPT-SE

 

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