Derretimento do gelo do Ártico pode afetar a circulação oceânica global

A equipe internacional de pesquisadores do Centre for Ice, Cryosphere, Carbon and Climate (IC3) alerta para o risco do derretimento do gelo do Ártico. Se a região polar chegar ao ponto de inflexão (quando não há mais retorno), alterações no clima afetarão todo o planeta, incluindo pontos mais distantes. Isso porque a circulação oceânica global será modificada.

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No estudo recém-publicado na revista Nature, os cientistas do IC3 compartilham novas evidências do que teria ocorrido, há mais de 100 mil anos, quando o Ártico sofreu com o degelo marinho em massa. Os achados apontam para mudanças globais, que colocam em risco a forma como o planeta funcionava.

“Isso nos lembra que o clima do planeta é resultado de um equilíbrio delicado, facilmente interrompido por mudanças na temperatura e na cobertura de gelo”, pontua Mohamed Ezat, cientista do centro e autor do estudo, em nota.


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O que é circulação oceânica?

Antes de seguir, vale explicar que a circulação oceânica é um regulador-chave do clima no planeta, já que armazena e transporta as “coisas” pelo mundo. Entre essas “coisas”, estão: calor, nutrientes e dióxido de carbono. Apesar de sua importância, está diretamente ligado ao fluxo de água doce, que pode alterá-lo em caso de derretimento de grandes blocos de gelo.

De modo geral, a circulação oceânica é dividida em duas:

  • Circulação superficial: bem mais rápida, esta é impulsionada pelos ventos da atmosfera;
  • Circulação profunda: mais lenta, esta é predominante nas águas mais profundas dos oceanos. Ela se move por diferenças de densidade.

Como a circulação oceânica mudou no passado?

No estudo do IC3, a equipe investigou a assinatura química de sedimentos do fundo do mar e outras amostras (que preservam em seu interior pistas de como o mundo era a dezenas de milhares de anos, incluindo as temperaturas). Essas amostras foram coletadas nos mares nórdicos, localizados entre a Groenlândia e a Noruega e, posteriormente, analisadas em laboratório.

Derretimento do gelo no Ártico deve alterar a dinâmica da circulação oceânica e impactar todo o globo, como ocorreu no passado (Imagem: SteveAllenPhoto999/Envato)

A partir desses vestígios, os autores explicam que, conforme o gelo marinho derretia no último período interglacial, há mais de 100 mil anos, os padrões de salinidade e a densidade da água se modificaram, o que interrompia o fluxo de correntes marítimas. Assim, a circulação oceânica e, consequentemente, a distribuição de calor foi alterada. Como resultado da mudança, partes da Europa sofreram com o resfriamento e queda das temperaturas médias. 

“Nossa descoberta de que o aumento do derretimento do gelo marinho do Ártico provavelmente resultou em resfriamento significativo no norte da Europa no passado da Terra é alarmante”, destaca o cientista Ezat

Impacto na circulação oceânica no Atlântico

Por causas diferentes, o Ártico está novamente em acelerado processo de degelo, ou seja, impactos globais da mudança poderão ser observados, se nada for feito. Em busca de soluções, um grupo de cientistas de 15 países divulgou uma carta aberta indicando os riscos das mudanças na circulação oceânica para o oceano Atlântico.

“Tal mudança na circulação oceânica teria impactos devastadores e irreversíveis, especialmente para os países nórdicos, mas também para outras partes do mundo”, afirmam os autores. “Os impactos, particularmente nos países nórdicos, seriam provavelmente catastróficos, incluindo um grande resfriamento na região enquanto as regiões vizinhas esquentam“, acrescentam. 

“É provável que muitos outros impactos sejam sentidos globalmente, incluindo uma mudança nas faixas de precipitação tropical, redução da absorção oceânica de dióxido de carbono (e, portanto, aumento atmosférico mais rápido), bem como um grande aumento adicional do nível do mar, especialmente ao longo da costa atlântica americana, e uma reviravolta nos ecossistemas marinhos e na pesca”, completam.

Saiba mais:

Bem longe do Ártico e de toda essa questão, algumas regiões do globo enfrentam fortes ondas de calor e as temperaturas batem recorde. Você sabe como a elevação das temperaturas impacta a saúde do seu celular? Confira a resposta a seguir:

 

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