A cutucada do ministro nos governadores do Rio e do Distrito Federal

Duas fortes cutucadas deu ontem o ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça, nos governadores Claudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, e Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal – o primeiro presente na reunião onde se discutiu a Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública, o segundo ausente. Ibaneis cedeu o lugar à vice-governadora Celina Leão (PP).

Ao defender a proposta que dá poderes à Polícia Federal para que enfrente milícias privadas, Lewandowski citou o assassinato da vereadora Marielle Franco. Então, dirigindo-se a Castro, disse:

– Isso ocorreu no caso Marielle por cinco anos. Me desculpe, governador Claudio Castro. A Polícia do Rio de Janeiro demorou cinco anos para elucidar o crime e não elucidou. A valorosa, combativa Polícia Federal entrou, com sete homens, e desvendou esse lamentável crime.

Castro rebateu a fala de Lewandowski, mas o que ele disse não foi capturado pelos microfones. Após a reunião, Castro negou que tivesse havido qualquer mal-estar com o ministro:

– Não teve desconforto nenhum, ele estava ali querendo exaltar o pessoal dele. Eu entendo. O que eu lembrei a ele é que só resolveu porque a polícia do Rio prendeu os assassinos e teve uma delação, em virtude da prisão.

Na semana passada, o Rio foi palco de novos episódios de violência, do sequestro de ônibus por milícias que se tornaram quase diários, a mais uma interdição da Avenida Brasil, a maior via-expressa da cidade, devido a um tiroteio entre a polícia e traficantes de drogas. Castro tentou culpar o governo federal pelo que aconteceu e cobrou mais ajuda.

Lewandowski também criticou a polícia do Distrito Federal, acusando-a de ter sido inepta durante a tentativa de golpe do 8 de janeiro de 2023:

– Se tivéssemos, no dia 8 de janeiro, uma polícia ostensiva federal, não teriam ocorrido as invasões às sedes dos Três Poderes, porque nós dependemos […] da Polícia Militar do Distrito Federal. Sem nenhuma crítica, mas a Polícia Federal terminou o inquérito em relação a esse assunto, e concluiu que houve grandes falhas por parte dessa honrada e valorosa corporação do Distrito Federal.

Celina ouviu calada. No 8 de janeiro, embora apático, indiferente e mal-informado, quem respondia pelo governo do Distrito Federal era Ibaneis. E ele disse ter acreditado que a situação estava sob controle, apesar dos relatos em sentido contrário que recebeu do ministro Flávio Dino, da Justiça, e da presidente do Supremo Tribunal Federal, a ministra Rosa Weber.

Às primeiras horas da manhã do dia 9 de janeiro, Celina foi acordada com a notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, afastara Ibaneis do cargo e que ela deveria assumi-lo. Celina caiu nas graças do governo Lula por ter tomado com rapidez todas as providências para restabelecer a ordem pública. Desde já, ela é candidata a suceder Ibaneis, cujo destino é incerto.

Incerto também é o destino de Castro, investigado por corrupção. Há mais de seis anos, quando Wilson Witzel governava o Rio e Castro era seu vice, Raul Jungmann, ministro da Justiça do presidente Michel Temer (MDB), alertou:

– Há uma grande articulação envolvendo agentes públicos, milicianos e políticos em um esquema muito poderoso que não teria interesse na elucidação do caso Marielle. Até porque estariam envolvidos neste processo. Se não tanto na qualidade daqueles que executaram, mas na qualidade de mandantes.

Marielle foi morta na noite de 14 de março de 2018. Seu assassino, o ex-policial militar Ronnie Lessa, foi preso pela Polícia Civil do Rio na manhã de 12 de março de 2019. Mas Lessa só confessaria o crime no final de maio deste ano. Talvez não confessasse se a Polícia Federal não tivesse entrado no caso, como afirmou, e com razão, Lewandowski, para desgosto de Castro.

Os mandantes da morte de Marielle estão presos e serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal. A pergunta que carece de resposta agora é esta: quais foram os agentes públicos, milicianos e políticos que tentaram encobrir o crime?

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