Bolsonaro é o Paraguai de Trump, e o Brasil é Paraguai até do Paraguai

A entrevista de Jair Bolsonaro aos jornalistas Camila Mattoso e Ranier Bragon é uma nesga de sol nesta manhã nublada em São Paulo.

Ao comentar a sua sujeição a Donald Trump, o ex-presidente disse que “está para ele (o presidente eleito dos Estados Unidos) como o Paraguai está para o Brasil”.

Como não pensei nessa imagem antes para definir Jair Bolsonaro? É perfeita: se há um país que representa à perfeição o contrabando, a imitação barata, a falsificação, esse país é o Paraguai. Obrigado, Bolsonaro.

Como imitação barata de Donald Trump, que deu a volta por cima dos seus processos, o ex-presidente acha que o vento pode mudar para a direção que o permita concorrer ao Palácio do Planalto, porque “quase tudo o que acontece lá (nos Estados Unidos) acontece aqui”. É verdade: não é só ele que nutre ambições paraguaias nesta terra em que se adubando dá, e como dá. É um atributo nacional.

Jair Bolsonaro, que depende de Alexandre de Moraes para poder ir à posse de Donald Trump, em janeiro, em Washington, foi até aonde a sua vista alcança para comentar a sua situação jurídica.

“Há dois anos querendo me incriminar como golpista, vai à merda, porra. O cara está há dois anos com a mulher, tô desconfiando que está me traindo e tô há dois anos dormindo com ela. E tô investigando, me traiu, não me traiu… resolve essa parada logo, tenha altivez. Manda soltar esses coitados que estão presos a 17 anos de cadeia”, disse o ex-presidente, com décadas de experiência em resolver paradas que superam as limitações literárias.

Se transposto o obstáculo do STF e puder se candidatar ao Planalto, nesse 2026 que se aproxima como estrela alvissareira para a direita e meteoro exterminador para a esquerda, ele não descarta que o seu vice na chapa possa ser Michel Temer, nome que se ventilou.

Quer dizer, Jair Bolsonaro ouviu dizer que pode ser Michel Temer. Perguntado se o caminho para a sua redenção seria mesmo a anistia, visto que há dois anos tentam incriminá-lo como golpista-vai-à-merda-porra, ele respondeu:

“Anistia para o 8 de janeiro. A minha [anistia] tem um prazo certo para tomar certas decisões. Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível. Ele que vai ter que dizer isso aí, mesmo que tivesse conversado com ele, não falaria. [Mas] tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse [a ser] candidato. Está na mídia, não sei se é verdade ou não, eu não falo sobre esse assunto, é o [Michel] Temer [MDB] de vice.”

Aquele arauto petista da moralidade pública, Delúbio Soares, disse em uma reunião do partido, lá se vão mais de 20 anos, que “transparência demais é burrice”.  Não se transfira automaticamente a máxima do campo das finanças para o campo do cálculo político.

Ao citar o nome de Michel Temer para vice, “que está na mídia”, Jair Bolsonaro manda um recado simpático ao seu algoz no STF, que foi indicado ao tribunal pelo vice-presidente que sucedeu Dilma Rousseff e com o qual Alexandre de Moraes mantém uma relação próxima.

Michel Temer jura de pés juntos que não será vice de ninguém, que já saiu da vida pública e coisa e tal. Tudo bem, com Michel Temer ou sem Michel Temer (ninguém é insubstituível), o que importa saber é que, pelo visto, pelo entrevisto e pelo não visto, as negociações entre os poderes para anistiar Jair Bolsonaro estão em andamento.

O negócio, chefia, pode ser bom para todo mundo, inclusive para Lula, merrmão, que acredita ter no capo bolsonarista o seu melhor concorrente em 2026 — se é que o chefão petista não mudou de ideia depois da vitória de Donald Trump. O Brasil é o Paraguai até do Paraguai.

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