Por que tantas marcas estão desistindo de fabricar apenas carros 100% elétricos?

As vendas de carros elétricos puros, os chamados BEVs, vêm crescendo exponencialmente ao redor do mundo, mas, curiosamente, algumas marcas estão “colocando o pé no freio” e corrigndo a rota quando o assunto é a eletrificação total da frota.

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O movimento antagônico já conta com algumas das principais fabricantes de carros, exceção feita, claro, às marcas chinesas. Afinal, elas ganharam notoriedade no mercado justamente pela larga vantagem que têm no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a eletrificação dos carros.

Até mesmo a União Europeia, que havia decretado uma data para a extinção completa dos carros a combustão em prol da adoção dos motores 100% elétricos, resolveu rever a decisão e estender o prazo para as montadoras se adaptarem às novas tecnologias na transição da frota.


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A montadora mais nova a mudar a rota e anunciar que está revendo os planos de eletrificar sua frota por completo até 2030 foi a Porsche. Lutz Meschke, CFO da marca, revisou os planos traçados para modelos como Panamera e Cayenne. Segundo o executivo, a atitude foi tomada porque “muitos clientes no segmento premium e de luxo estão buscando carros com motor a combustão”. 

Retração nas vendas do Taycan e aumento da procura por modelos a combustão fez Porsche repensar estratégia (Imagem: Ivo Meneghel Jr./Canaltech)

“Hibridização” justifica mudança de rumo

A primeira marca a repensar os planos em relação à eletrificação foi justamente quem liderou o movimento em prol dos BEVs: a Chevrolet. Após descartar investir em tecnologias que não fossem totalmente elétricas, a fabricante alterou a rota.

A revelação partiu da própria Mary Barra, CEO da GM. Ela avisou aos acionistas do grupo, em fevereiro de 2024, que passaria a investir em carros com propulsores híbridos plug-in, exceção feita ao mercado dos Estados Unidos, “casa” da General Motors.

De acordo com a executiva, a GM desistiu do plano de fabricar apenas carros elétricos por uma série de razões, embora o plano original de descarbonização total da frota até 2035 “continue inalterado”.

GM previu futuro 100% elétrico nos próximos anos, mas mudou de ideia (Imagem: Divulgação/GM)

O “movimento híbrido” reverberou em outras marcas importantes. Mercedes-Benz, Ford, Volvo e, como dissemos acima, a Porsche, também reviram seus planos de eletrificação pura da frota. Todas resolveram apostar na hibridização como “ponte” para adotar somente carros elétricos puros até o fim da década.

“Vontade do cliente”, preço de revenda: o que as marcas alegam

Cada montadora tem motivos diferentes para “recalcular rota” e repensar seu plano de eletrificação da frota. Lutz Meschke, CFO da Porsche, não fez qualquer mistério sobre o assunto: “Renovaremos nossos carros com motor a combustão, incluindo o Panamera e o Cayenne e, claro, continuaremos a contar com híbridos plug-in. Somos muito flexíveis quanto a isso”.

Presidente da Ford descartou eletrificar totalmente a frota e garantiu “vida” até aos motores a combustão (Imagem: Paulo Amaral/Canaltech)

No caso da GM, Fabio Rua, vice-presidente de relações públicas, comunicação e ESG para a América Latina, atrelou a mudança de rumo à demanda do mercado. Segundo o executivo, “o cliente sinalizou” que espera ver um motor híbrido nos carros da Chevrolet e, por isso, “a partir de 2025, ele verá”.

Martin Galdeano, presidente da Ford América do Sul, confidenciou ter uma visão semelhante. Em entrevista recente ao Canaltech, o executivo afirmou que “o poder de escolha é do cliente” e, por isso, a marca continuará investindo em todas as tecnologias.

Outro ponto que fez algumas marcas recuarem no plano de adotar apenas BEVs até o fim da década diz respeito à queda nos valores de revenda dos carros puramente elétricos. Até mesmo marcas premium, como Mercedes-Benz e a própria Tesla (que só vende carros elétricos) enfrentaram problemas com a alta retração nos preços desses modelos.

Carros da Tesla têm sofrido com desvalorização no mercado de usados (Imagem: Divulgação/Tesla)

A baixa é causada pela preocupação dos consumidores com a deterioração das baterias e com a infraestrutura, que ainda é bastante precária no Brasil e em outros países menos desenvolvidos.

Eletrificação total segue como foco

Apesar do desvio de rota, as montadoras garantem que não desistiram de eletrificar 100% dos carros em um futuro próximo. Mesmo que isso não ocorra até o término da década, em 2030, como previsto anteriormente.

À reportagem do Canaltech, a Volvo deixou clara sua posição.

“Nossos modelos elétricos e híbridos são hoje parte de um portfólio que claramente pavimenta nosso futuro 100% elétrico. Enquanto acreditamos fielmente que a eletrificação é o futuro, esta transição não será linear e seguiremos investindo na ampliação de nossa linha de produtos, tanto lançando novos 100% elétricos como aprimorando os existentes até a completa substituição a longo prazo”.

A GM seguiu o mesmo tom no discurso e também assegurou que o “game plan” tem como objetivo final a eletrificação completa do portfólio da marca. “Nosso futuro é elétrico”, sintetizou Fabio Rua.

Leia a matéria no Canaltech.

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