Janaina vê Bolsonaro atuante na gestão Nunes e com “inveja” de Marçal

São Paulo De volta a um cargo eletivo após dois anos de hiato, a ex-deputada estadual Janaina Paschoal (PP) retorna à vida política como vereadora da capital paulista em 2025. Mesmo tendo sido candidata por um partido que apoiou a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), ela afirma, em entrevista ao Metrópoles, que votou em Pablo Marçal (PRTB) e promete manter na Câmara Municipal a mesma postura crítica que provocou o seu rompimento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

De deputada mais votada da história do país em 2018 à derrota na disputa ao Senado em 2022, Janaina chega à Câmara Municipal após ter recebido 48,8 mil votos. Ela já discute pôr fim ao “loteamento” de áreas da cidade entre vereadores e promete se manter independente em relação à gestão Nunes, com a qual alega ter “várias divergências”.

Para a ex-deputada, é difícil que Bolsonaro não tenha alguma participação na gestão, nem que seja por meio do vice eleito de Nunes, Coronel Mello Araújo (PL), indicado pelo próprio ex-presidente.

“Não vejo como ele ser completamente alijado do governo do Nunes. Nem que seja por meio do vice, que é muito apegado a ele, muito próximo, ele vai participar”, diz.

Janaina também afirma que Bolsonaro tem “inveja” de Marçal por ter movimentado um “sentimento de renovação” e critica o ex-presidente por não ter pedido que os manifestantes dos atos golpistas de 8 de janeiro deixassem os quartéis.

“Se ele tivesse dado uma palavra, essas pessoas teriam ido embora. Ele tinha a liderança para isso”, afirma Janaina.

Diferentemente de muitos quadros da direita, a ex-deputada é contrária à possibilidade de o ex-presidente tentar novamente o Planalto em 2026, caso consiga reverter a sua inelegibilidade. Para ela, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deveria tentar um segundo mandato em São Paulo e deixar o caminho livre para o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União) disputar a Presidência.

Confira a entrevista de Janaina Paschoal ao Metrópoles:

Como vê o seu retorno a um mandato no legislativo após dois anos? O que espera de diferença entre a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e a Câmara Municipal?

Olha, eu não gosto de permanecer muito tempo em um lugar. Tenho essa visão de que a vida é mobilidade, assim como a política. Estou feliz de enfrentar um novo desafio, um novo ambiente. As pautas são diferentes. Tem essa questão dos transportes, o impacto das chuvas. São temas que não são tão recorrentes na Assembleia, mas eu tenho certeza que a experiência da Assembleia vai ser relevante pela dinâmica de plenário, pela passagem nas comissões e CPIs.

Acredito que vai ser menos tenso estar na Câmara do que foi estar na Assembleia, sobretudo no início. Eu nunca fui uma pessoa da política, não tenho político na família, então, eu estava sempre tensa na Assembleia. Na Assembleia eu visitava muito os equipamentos e talvez possa fazer até mais na Câmara, porque na Assembleia, pela competência estadual, as distâncias eram muito grandes, os deslocamentos eram muito grandes. Agora, por maior que seja a capital, é uma única cidade.

A sua legislatura na Alesp foi muito polêmica e agora a Câmara também caminha para uma polarização maior. O que você espera dos próximos embates?

É um povo de internet. Aos poucos vão perceber que uma coisa é lacrar na internet e outra coisa é a vida no parlamento. No parlamento tem que ter um pouco mais de consistência. Até dá para fazer um barulho na internet, gravar videozinho, mas vai ser um mandato muito barulhento e nada além disso. Porque as pessoas também percebem, o povo não é tão tonto assim. No início vai ter pancadaria, vai ter confronto, aquela coisa que as redes gostam, mas com o passar do tempo, todo mundo vai perceber que tem que trabalhar.

Você deu uma entrevista ao longo da campanha dizendo que pretende mudar a “mentalidade de loteamento” da Câmara. O que é isso?

É mais ou menos o seguinte: se alguém for até o seu gabinete reclamar de uma rua que fica na subprefeitura de outro vereador, você não vai poder fazer nada a respeito. Como assim? É verdade que tem pessoas que são eleitas por regiões e eu compreendo que essas pessoas têm um olhar mais voltado para aquelas regiões. Mas eu não fui eleita regionalmente, nem como deputada e nem como vereadora, e penso que os vereadores trabalham pela capital. Não posso admitir que alguém venha ao meu gabinete fazer queixa da falta de iluminação em uma rua ou sobre alguma situação e que eu não possa fazer um ofício porque tem um “reizinho” lá nessa região. Não é feudalismo isso? Me preocupo um pouco com essa dinâmica.

O que você espera da nova gestão Ricardo Nunes?

Cheguei a conversar com ele em uma reunião, no início da campanha, entre o prefeito e as lideranças aqui do PP. Eu disse a ele tudo o que eu achava que tinha que melhorar. Não quero cargo, não quero verba, não quero nada. Mas eu vou ter poder de veto se eu não quiser alguém em alguma secretaria? Foi o que eu perguntei.

“Expus a ele várias divergências, ele ouviu, vamos ver como é que vai ser. Porque o primeiro mandato, na verdade, era herança do Bruno Covas. Agora não, agora o mandato é dele.”

Algumas coisas têm que melhorar, tipo a parte da assistência social, que eu considero péssima. Não adianta você gastar milhões com abrigos se você não tem uma equipe que faça a busca ativa para que as pessoas usem esses abrigos. Não adianta mandar fazer um censo de crianças em situação de rua cuja informação principal é se a criança é cis ou trans. Como é que pode ter criança dormindo sozinha na rua? Criança, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), deve ser totalmente protegida.

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Janaina Paschoal durante ato pelo afastamento de Dilma Rousseff na USP, em 2016

Janaína Paschoal discursa no plenário da Alesp
Janaina Paschoal
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Janaina Paschoal durante cerimônia de filiação ao PP

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Janaina Paschoal durante ato pelo afastamento de Dilma Rousseff na USP, em 2016

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Janaína Paschoal discursa no plenário da Alesp

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Janaina Paschoal

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Rafaela Felicciano/Metrópoles

E o seu apoio ao Pablo Marçal no primeiro turno?

Eu votei no Marçal. Mas, na verdade, não é que eu apoiei, eu fiquei neutra. Só que eu me identifiquei muito com ele, com as coisas que ele falava e propunha. E eu tenho essas divergências com o Nunes, sobretudo na área social. Pensei na renovação. E fui muito para a rua, fiz uma campanha de rua muito forte e ele estava muito forte nas ruas. Ele conseguiu movimentar um sentimento de renovação.

“Por isso que o Bolsonaro tem inveja dele, porque ele não surfou a onda de ninguém. Bolsonaro surfou a onda do impeachment e na onda da Lava Jato, por exemplo.”

Mas o Marçal não surfou na onda do bolsonarismo?

Não, ele fez a onda dele. E isso assustou muita gente também.

Acredita que Bolsonaro terá alguma participação na gestão Nunes?

Eu acredito que terá, né? Porque ele indicou o vice. Pode não ter apoiado como o Tarciso apoiou, mas de certa forma ele apoiou também, mesmo que só pelo vídeo. Uma fala dele tem muita força. Nesse sentido, acredito que ele terá participação talvez sugerindo nomes, debatendo pautas. Não vejo como ele ser completamente alijado do governo do Nunes. Nem que seja por meio do vice, que é muito apegado a ele, muito próximo, ele vai participar.

Ao comentar sobre o 8 de Janeiro, você disse nas redes sociais que foi a vaidade do Bolsonaro que colocou o pessoal na prisão. Por quê?

Vamos lá: ele perdeu e aí o povo foi para a frente dos quartéis. Eu vivenciei muito isso, porque há um quartel em frente à Assembleia. Eu via essas pessoas sonhadoras, pessoas boas, não eram pessoas criminosas nem nada. Você percebe que eram pessoas iludidas. Comecei a ficar preocupada porque vi que havia uma movimentação para começar a caracterizar a presença daquelas pessoas na frente dos quartéis como organização criminosa, associação criminosa. Eu não concordo juridicamente com isso. Mas, quem tem a caneta? Não sou eu. Eu subi na tribuna, pedi para os chefes das Forças Armadas, pelo amor de Deus, mandarem as pessoas para casa. Cheguei a escrever para o presidente [Bolsonaro] para que falasse com as pessoas. Não sei se ele recebeu. Mas o que ele fez? Foi para os Estados Unidos.

“Se ele tivesse dado uma palavra, essas pessoas teriam ido embora. Ele tinha a liderança para isso. Agora, ele fica pedindo anistia. Por que não ajudou essa gente quando cabia?”

As condenações são muito injustas, juridicamente falando. Se fossem as condenações por depredação do patrimônio público, por destruição do patrimônio cultural, tudo bem. Mas os crimes que estão atribuindo a essas pessoas, as penas que estão aplicando, são muito injustas. Não tiro a razão de quem critica, mas ele poderia ter ajudado essas pessoas lá atrás. E eu tenho que falar, porque está todo mundo se iludindo com ele de novo. Não sei que tipo de acordo está rolando, mas se a direita se iludir com ele de novo, só quem vai se prejudicar é a direita.

Você não acredita que Bolsonaro seria um nome viável para disputar a Presidência em 2026?

Pode até ser viável, mas não é bom. Essa vaidade, essa coisa de querer poder para a família dele, essa necessidade de ser reverenciado, de ser endeusado… E outra: ele tem uma rejeição muito grande. Se for ele o candidato contra o Lula, vejo mais chances de o Lula ser reeleito do que se nós tivermos um outro candidato, que pode, inclusive, ser apoiado por ele. Ele, particularmente, ser o candidato, só prejudicará a direita.

Quem seria um bom nome para a direita em 2026?

Nós temos vários. Acho o Caiado um excelente nome por já ter ocupado todas as posições. Já foi deputado, senador, governador duas vezes. De certa forma, ele esgotou as outras posições. É um cara que entende do agro, é médico, e tem apresentado uma postura crítica, mais consistente, como nenhum outro tem feito.

Temos o Tarcísio? Temos. Mas o Tarcísio ainda tem um mandato aqui. Ele está fazendo muita coisa que vai ter um desenrolar, tem muitos contratos para cumprir. Acho que ele tinha que ficar por dois mandatos. E o Tarcísio apoiou essa reforma tributária que é um lixo. Acredito que seria melhor ele ficar aqui. E se o Tarcísio sair para concorrer com o Lula e perder, nós ficaremos sem o governo federal e sem o estadual.

Eduardo Leite (PSDB) e Romeu Zema (Novo) podem ir ao Senado. Olha o ganho de qualidade no Senado com o Zema e o Leite. Nós vamos jogar os dois para concorrer à Presidência e perder essas cabeças no Senado?

Não pensa em disputar o Senado de novo?

Eu disputaria, mas acho que não consigo a legenda. Eu não consegui na outra vez e tive que ir para o PRTB, porque nenhum partido grande me deu a legenda. Se eu conseguisse a legenda, eu disputaria, mas acho quase impossível.

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