PCC monta “imobiliária” e lucra comprando e vendendo imóveis em SP

O Primeiro Comando da Capital (PCC) montou um “esquema imobiliário” responsável pela desvalorização e valorização de prédios e apartamentos na região central de São Paulo. A estratégia inclui o aumento ou diminuição da criminalidade na área conhecida como “cracolândia” e nas proximidades, interferindo diretamente nos preços dos imóveis.

Imóveis adquiridos na baixa por pessoas ligadas ao PCC são vendidos com valorização a partir de iniciativa da própria facção. Ao exercer o controle sobre atividades criminosas como tráfico e consumo de drogas, prostituição e assaltos, a organização criminosa consegue manipular diretamente a variação de preços.

6 imagens

PCC manipula preços de imóveis na região da cracolândia

Cracolândia é área de domínio do PCC no Centro de São Paulo
Facção usa pontos comerciais para armazenar drogas e produto de roubos
Hotel do tipo hospedaria na região da Cracolândia, alvo de operação da Polícia Civil
Polícia apreende drogas escondidas em fundo falso de carro, no centro de SP
1 de 6

Guardas municipais observam movimento de dependentes químicos em cruzamento da Rua dos Protestantes com a Rua dos Gusmões, na Cracolândia

William Cardoso/Metrópoles

2 de 6

PCC manipula preços de imóveis na região da cracolândia

Reprodução

3 de 6

Cracolândia é área de domínio do PCC no Centro de São Paulo

Reprodução/Polícia Civil

4 de 6

Facção usa pontos comerciais para armazenar drogas e produto de roubos

Reprodução

5 de 6

Hotel do tipo hospedaria na região da Cracolândia, alvo de operação da Polícia Civil

Renan Porto/Metrópoles

6 de 6

Polícia apreende drogas escondidas em fundo falso de carro, no centro de SP

Divulgação/Polícia Civil de SP

Obtida pela coluna, uma investigação realizada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) revelou que essa especulação imobiliária tem gerado lucros para o PCC. “Evidenciou-se por meio de inteligência e do farto material investigativo produzido a partir das prisões e apreensões, a existência de um ‘ecossistema criminal’ que se articula por meio de dinâmica complexa de retroalimentação em que é comum a prática de tráfico de drogas, receptação, prostituição, tudo em proveito do caos generalizado da região, instalado progressivamente nas últimas décadas”, diz trecho documento.

“A rentável venda de drogas e de produtos advindos de crimes contra o patrimônio se associaria a uma questão imobiliária, cujo fluxo de dependentes químicos, manipulado por infratores que, em unidade de desígnios e apoiados por agentes públicos corrompidos também vinculados a tal agremiação ilícita, assumem características de empreitada criminosa complexa, possibilitando a desvalorização de imóveis para que possam ser comprados, a fim de promover ações que possam valorizá-lo em momento posterior, gerando lucro demasiado pela manipulação de fatores”, apontou a investigação.

Segundo o relatório de inteligência, o PCC também tem utilizado estabelecimentos comerciais como depósitos de drogas e produtos roubados. “Em síntese, dependentes químicos praticam furtos e roubos visando sustentar o vício à medida que os produtos ilícitos são armazenados em estabelecimentos comerciais (muitos deles em condição administrativa irregular), tais como ferro-velhos, hotéis, entre outros, gerando uma atividade totalmente rentável e sustentada de maneira arranjada, ao que se evidencia, por organização criminosa”, afirma o relatório.

Reação

A investigação revela também a preocupação do governo paulista com a participação de agentes públicos nas atividades comandadas pelo PCC. O documento atribui o insucesso das ações de segurança executadas na área ao aparato da organização criminosa.

“Não são recentes as notícias e apurações de irregularidades e ilícitos penais e administrativos praticados por agentes e instituições públicas e privadas na região central da Capital que se relacionam, direta ou indiretamente, às cenas de uso e o cenário de degradação ambiental local, evidenciando que os ‘tentáculos’ da organização criminosa que dominou as áreas mencionadas já se incrustou no aparato estatal”, pontua o relatório.

“A manutenção deste amplo ecossistema delitivo, a despeito das inúmeras providências já encetadas pelos órgãos de segurança pública, se explica pela existência e atual local de organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o nítido desiderato de auferir vantagens de natureza econômica por meio da prática sistemática de diversos crimes graves”, diz o documento.

O estudo realizado pela SSP-SP na região central de São Paulo foi encaminhado à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), vinculada ao Ministério da Justiça, e ao Ministério Público de São Paulo (MPSP). O órgão solicitou a abertura de um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para que o MPSP possa investigar de forma autônoma a atuação do PCC na área.

O combate às organizações criminosas, sobretudo ao PCC, é uma das principais bandeiras do governador Tarcísio de Freitas e do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. Recentemente, a Secretaria de Segurança descobriu um plano de um integrante da facção para matar Derrite.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.