Misterioso molusco brilhante é o ornitorrinco das profundezas do oceano

Com características únicas e que intrigam a ciência há mais de 20 anos, o misterioso molusco Bathydevius caudactylus é o ornitorrinco das profundezas do oceano devido à dificuldade de classificação. Afinal, a criatura usa a bioluminescência comum em vagalumes, perde a “cauda” como um lagarto e captura presas como uma planta carnívora, algo totalmente incomum para as típicas lesmas-do-mar. 

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Oficialmente, o misterioso molusco brilhante é um nudibrânquio, como as lesmas-do-mar, mas é tão diferente que deu origem a uma nova família na classificação biológica: a Bathydeviidae. Por enquanto, a criatura que tem muitos paralelos com o ornitorrinco (uma espécie que causou acalorado debate entre os cientistas na época da descoberta) foi encontrada apenas no Oceano Pacífico, próximo à costa dos EUA

 

O ornitorrinco das profundezas vive flutuando na zona batipelágica do oceano, também conhecida como zona da meia-noite devido à ausência de luz solar. A faixa de profundidade vai de mil a 4 mil metros da superfície. Em raros momentos, desce até o fundo do mar, como na hora da desova, segundo estudo publicado na revista Deep-Sea Research Part I.


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Ornitorrinco das profundezas do oceano

A maioria das lesmas-do-mar vive no “chão” dos oceanos, enquanto usa a sua língua áspera para capturar e se alimentar de presas encontradas no cascalho ou em corais. De forma muito diferente, o misterioso molusco nada lentamente pelas águas profundas, flexionando o corpo para cima e para baixo, ou flutua por longos períodos.

Quando precisa se alimentar de crustáceos, como camarões, o molusco utiliza o seu “capuz” volumoso para capturar as pequenas presas, de modo semelhante ao que faz uma planta carnívora que caça insetos. Para evitar ser alimento de um predador maior, a criatura facilmente se esconde com seu corpo transparente, quase como a camuflagem de uma iguana, em águas tão profundas que nem a luz solar pode penetrar. 

Misterioso molusco brilhante é tão diferente de outras espécies próximas que pode ser chamado de ornitorrinco das profundezas do oceano (Imagem: Reprodução/MBARI)

Se o misterioso molusco é ameaçado, outras estratégias de defesa são ativas. Isso inclui a bioluminescência, ou seja, a sua capacidade de emitir luz a partir de reações químicas. Algo visualmente próximo de um vagalume, mas há um controle das áreas do corpo que se iluminam, o que é fundamental para a sua sobrevivência. 

Aqui, vale detalhar a anatomia deste animal tão único. Ele tem a cauda plana como um remo, mas esta é cercada por pequenos “dedos” nas extremidades. Dependendo das circunstâncias, apenas um desses dedos se acende e, assim, pode ser abocanhado pelo predador, como uma isca. O detalhe é que os dedos podem ser perdidos e se regeneram, assim como a cauda de um lagarto. Enquanto o outro acha que conseguiu pegar o seu lanchinho, o misterioso molusco pode fugir.

O mais curioso é que todas essas habilidades do ornitorrinco das águas profundas do oceano estão concentradas (e minimizadas) num corpo que mede aproximadamente 14,5 centímetros. Por causa da sua transparência, pode muito bem passar despercebido. 

Primeiro avistamento do misterioso molusco

O primeiro avistamento da criatura brilhante e misteriosa das águas profundas do Pacífico foi feito no começo dos anos 2000 por uma equipe do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI). Na expedição, os pesquisadores usavam um veículo operado remotamente (ROV) para explorar a Baía de Monterey, no estado da Califórnia. Naquele momento, o molusco estava a 2,6 mil metros de profundidade.

De lá para cá, a equipe do MBARI identificou outros 150 avistamentos da espécie que lembra um ornitorrinco do mar. Em um desses encontros, a criatura foi capturada e levada para o laboratório, onde passou por análises detalhadas de anatomia e genética. Este trabalho permitiu resolver o mistério por trás das características tão únicas do molusco.

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