Fóssil em âmbar revela que já houve floresta verde onde hoje é a Antártica

Apesar de ser famosa pelo gelo e pelos pinguins, a Antártica nem sempre foi um deserto de neve. Em eras passadas, o continente mais ao sul já foi coberto de florestas pantanosas, e, agora, pesquisadores conseguiram encontrar resina de árvore fossilizada — ou seja, âmbarno local pela primeira vez na história.

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A amostra foi achada em um núcleo sedimentar de gelo recuperado a 946 metros de profundidade, na Enseada do Mar de Amundsen, no oeste antártico. O objeto possui cerca de 90 milhões de anos, datando do Período Cretáceo (145 mi a 66 mi de anos atrás) e foi descrito na revista científica Antarctic Science.

Âmbar e florestas na Antártica

O estudo do âmbar foi realizado pela equipe de Johann Klages, geólogo marinho do Instituto Alfred Wegner. Os mesmos cientistas já haviam publicado sobre o assunto na Nature, em 2020, quando reconstruíram um modelo das florestas do continente gelado.


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A amostra de âmbar contém matéria orgânica preservada no interior — note que, no Cretáceo, a Austrália era mais próxima da Antártica, como mostra o mapa (Imagem: Alfred Wegener Institut/V. Schumacher)
A amostra de âmbar contém matéria orgânica preservada no interior — note que, no Cretáceo, a Austrália era mais próxima da Antártica, como mostra o mapa (Imagem: Alfred Wegener Institut/V. Schumacher)

Eles descobriram que a região tinha florestas úmidas e um ambiente temperado de terras baixas, existindo pelo menos entre 92 milhões e 83 milhões de anos atrás, bem diferente do gelo atual.

Uma simulação do clima local também havia sido montada, com base em uma rede de raízes fossilizadas com três metros de comprimento encontrada em lamito, um tipo de rocha sedimentar formada pela litificação (processo que transforma sedimentos em rochas) de silita e lama.

as amostras de âmbar são pequenas, e foram cortadas quando o núcleo de gelo foi fatiado para análise microscópica. Segundos os cientistas, é possível que o âmbar ainda retenha casca de árvore original em micro-inclusões, algo que continua sendo analisado.

Grudenta e viscosa, a resina de árvore pode acabar prendendo criaturas do passado, como insetos, se solidificando como âmbar e preservando a matéria orgânica perfeitamente. 

O âmbar, que é uma resina de árvore fossilizada, pode guardar pólen, micróbios e pequenos insetos em seu interior na solidificação (Imagem: Azar et al./Cretaceous Research)
O âmbar, que é uma resina de árvore fossilizada, pode guardar pólen, micróbios e pequenos insetos em seu interior na solidificação (Imagem: Azar et al./Cretaceous Research)

Até o momento, o material confirma diretamente a presença de árvores produtoras de resina na Antártica, mas pode conter outros segredos. No material, podem ficar grudados pólen, microorganismos e bichos minúsculos. Os pesquisadores querem descobrir qual árvore produziu a resina.

Muitas formas de vida antiga já foram descobertas no continente gelado, geralmente madeira ou folhas litificadas, bem como alguns ossos fossilizados. Um dos aspectos importantes do achado recente é que ele estava perto da superfície, ficando fresco e não litificado — caso estivesse mais fundo, os cientistas nunca o teriam encontrado.

Agora, sabemos que todos os sete continentes já tiveram árvores, e, nas amostras antárticas, foram vistas evidências de fluxo de resina, algo que as plantas fazem quando estão protegendo casca danificada por pestes ou incêndios. É um indicativo dos eventos que se desenrolaram na Antártica do passado, e um convite para investigarmos cada vez mais fundo a gelada terra.

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