Tratamento com cannabis traz qualidade de vida e esperança para autistas em Sergipe

 

Desde o início de outubro, Sergipe é pioneiro no país por disponibilizar a distribuição responsável e qualificada de produtos derivados de Cannabis spp para o tratamento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O segundo protocolo clínico para o uso da cannabis medicinal no estado é direcionado ao tratamento do comportamento agressivo em pacientes maiores de 5 anos. A iniciativa faz parte das ações da Política Estadual da Cannabis e já alcançou mais de 40 pacientes em Sergipe em pouco mais de um mês.

A auxiliar de enfermagem Jardy Calisto, 28, é mãe de Benjamin, de 7 anos, que começou a ser atendido no Núcleo de Acolhimento em Terapias Especializadas (Nate) neste mês de novembro. A unidade, localizada no Centro Especializado em Reabilitação José Leonel Aquino (CER IV), oferece orientações técnicas para a condução terapêutica de tratamento à base de canabidiol.

O acolhimento recebido a partir da política pública do Governo de Sergipe vai permitir que Jardy e Benjamin tenham uma qualidade de vida melhor ao conseguir dar continuidade ao tratamento, o que estava inviável para ela como mãe solo, devido ao alto custo. “Ele precisa usar 3 frascos por mês, que custam R$ 800 cada. Eu deixei de trabalhar desde que ele era pequeno, porque dedico todo meu tempo a ele, então só recebemos o Benefício de Prestação Continuada (BPC) do Benjamin, mas ele precisa de alimentação específica, sem glúten, por exemplo, fralda e outros medicamentos. Então, no momento, só conseguia comprar um dos três frascos que ele precisa, mesmo assim com a ajuda da família e de rifas que faço. Vai ser um alívio receber a medicação gratuita. Com esse suporte do governo, acredito que ele vai apresentar bastante melhoras com relação ao comportamento”, contou.

Jardy chegou ao Nate por meio do encaminhamento feito pelo médico especialista que acompanha Benjamin desde o diagnóstico, obtido quando a criança tinha 1 ano e 10 meses, um quadro complexo que engloba autismo severo, suporte 3, transtorno opositor desafiador (TOD) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

“Ele já usa o canabidiol há 4 anos, então já vi o resultado. E a continuidade do uso é primordial para nós, porque ele melhorou muito tanto a alimentação quanto a concentração e ficou uma criança menos agressiva, o ponto que foco bastante, porque é o que mais atrapalha no dia a dia”, comenta Jardy.

Atendimento especializado

O médico especialista em medicina endocanabinoide, Sérgio Luiz de Oliveira, que é um dos responsáveis pelos acolhimentos de pacientes com TEA no Nate, explicou os pré-requisitos para o atendimento no Núcleo de Acolhimento em Terapias Especializadas do Estado. “A gente tentou fazer um protocolo que fosse bastante simples de entender para pacientes e médicos. Há um pré-requisito de que os pacientes que venham para cá sejam encaminhados por especialistas, pelo seu médico assistente, que pode ser neurologista infantil ou adulto, neurocirurgiões e psiquiatras, profissionais que têm capacidade de fazer o melhor diagnóstico e a melhor indicação desse tipo de tratamento. Mas a gente também recebe pacientes encaminhados de generalistas desde que também tenham um aval de algum especialista que os acompanha paralelamente”, avaliou.

O enfermeiro e referência técnica do Nate, Luciano Queiroz, informou que no Nate, após a avaliação da equipe profissional, é disponibilizado o Laudo de Solicitação, Avaliação e Autorização de Medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (LME), documento necessário para o paciente ou responsável retirar o medicamento no Centro de Atenção à Saúde de Sergipe (Case).

“Esses medicamentos são uma segunda linha de tratamento, quando a primeira linha farmacológica já não está atendendo por reações adversas ou porque já chegou na dosagem máxima e não tem mais o efeito. Nosso médico aqui, após a avaliação, libera a LME e o paciente entrega no case também o receituário azul, de medicamento controlado, e a prescrição do nosso médico. Já o acompanhamento é paralelo, conjunto, é obrigatório que o paciente esteja sendo acompanhado pelo médico assistente também e tem o acompanhamento que fazemos aqui, tanto para renovação do medicamento quanto para verificarmos os resultados”, completou Luciano Queiroz.

Expectativa e sonhos

Com a assistência do Governo de Sergipe, por meio da Política Estadual da Cannabis, a mãe de Benjamin espera que o filho consiga ter um melhor desenvolvimento. “A agressividade dele era bem evidente, ele não brincava, se isolava ou quando não isolava agredia outra pessoa. Todo dia recebia uma reclamação da escola e muitas vezes precisava buscá-lo. Nem as terapias ele conseguia fazer direito. Já com o medicamento de canabidiol, ele consegue ir para escola, fazer as terapias e se desenvolver melhor. Agora ele está no primeiro ano escolar”, afirmou Jardy, que é moradora de Nossa Senhora do Socorro.

O apoio econômico com a medicação gratuita e a evolução de Benjamin no tratamento vai permitir ainda que Jardy possa fazer planos para o futuro. “Com a disponibilização do medicamento e doses adequadas vou conseguir ter um alívio. Hoje ele fica só comigo 24h, pois nem todos sabem lidar com o comportamento agressivo, mesmo da família, e tenho que estar presente para poder controlar e acalmar ele. Mas sem a interrupção do tratamento, ele vai poder ficar com outras pessoas que possam me dar esse suporte, vou ficar mais tranquila ao deixar ele com outras pessoas. Então penso em voltar à faculdade de Enfermagem até para dar um futuro melhor para ele e melhorar minha vida também”, almeja Jardy.

Protocolos

Enquanto o segundo protocolo é direcionado para pacientes com o comportamento agressivo no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), o primeiro protocolo é direcionado para pessoas com epilepsia refratária que se encaixam em doenças específicas como síndrome de Dravet, síndrome de Lennox–Gastaut (SLG) e Complexo Esclerose Tuberosa (CET). Por meio dos dois protocolos, mais de 80 pessoas já foram atendidas no Nate para receber o medicamento.

Em ambos os protocolos, o encaminhamento é feito pelo médico assistente especialista, utilizando-se também de uma ficha de encaminhamento padronizada, informando a falta de resposta aos medicamentos de primeira linha, os antipsicóticos. Não são exigidos exames laboratoriais, apenas é cobrado o preenchimento de um questionário rápido que comprove objetivamente o comportamento agressivo.

Após esse processo, o paciente deve se deslocar para a sede do Nate levando toda documentação necessária, para realizar a triagem e posterior agendamento da consulta de acolhimento. A retirada do produto será no Centro de Atenção Integral à Saúde (Case) onde o paciente deve realizar o cadastramento. Em caso de dúvidas, o cidadão pode entrar em contato com o Nate por meio do telefone 79 3209-8599, de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h.

Fonte: Secom

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