A Fábula da Floresta dos Acordos em Brasilândia

Na distante floresta de Brasilândia, a política não era apenas uma arte — era um verdadeiro espetáculo natural. Cada animal representava um arquétipo, uma estratégia, um temperamento, e juntos protagonizavam as tramas mais inusitadas. Desta vez, os holofotes estavam voltados para os habitantes da Floresta do “Sistemão”, onde, como sempre, o jogo de poder era mais ardiloso do que qualquer armadilha.

Fábio Mitidieri, o Leão, reinava com um rugido firme, mas com garras muitas vezes retraídas. Na selva, sua fama era ambígua. Alguns diziam que ele era justo e cumpridor de promessas, outros o acusavam de ser bom apenas em discursos. “Prometer é fácil, meu caro”, murmurava a Onça Emília Corrêa, afiando as garras contra o tronco de uma árvore, “quero ver sustentar o rugido quando os ventos mudam.”

O Leão, porém, não parecia se abalar. Sua juba brilhava sob o sol de Brasília enquanto ele caminhava entre os corredores do poder, arrancando aplausos de uns e resmungos de outros. Afinal, ele sabia que o rugido ecoava longe, mesmo quando o resultado demorava a aparecer.

Emília Corrêa, a Onça, era uma figura à parte. Sua promessa de “quebrar o Sistemão” havia causado calafrios em toda a fauna. Mas, entre rugidos e sussurros, os bichos mais atentos notavam que até mesmo uma onça precisa negociar com o sistema para sobreviver. Ela tinha o olhar afiado, mas, às vezes, era vista em conversas misteriosas com o Camaleão Ricardo Marques, que mudava de cor conforme a plateia.

“Quebrar o Sistemão é uma boa ideia”, dizia o Elefante Gustinho Ribeiro, “mas quem vai carregar as promessas quando ele estiver desmontado? Certamente não será a Onça.” Ela apenas rosnava em resposta, sabendo que o elefante também tinha seus trunfos.

Ricardo Marques, o Camaleão, era o mestre das adaptações. “Neutralidade é meu sobrenome”, dizia enquanto mudava do verde da esperança para o azul da cautela, ou o vermelho das paixões. Sua habilidade de agradar a todos e a ninguém ao mesmo tempo fazia dele uma figura indispensável no jogo político. “O segredo não é ser constante, mas ser conveniente”, confidenciava a quem quisesse ouvir.

Seus truques fascinavam uns e irritavam outros, mas ninguém podia negar: o Camaleão sabia onde pisar, e raramente era pego desprevenido, mesmo em selfies nos aeroportos.

Gustinho Ribeiro, o Elefante, era um gigante em Brasilândia. Seu gabinete era um ponto de encontro obrigatório para prefeitos, vereadores e outros bichos menores que buscavam apoio para suas demandas. Ele era direto e pragmático, pois sabia que sua força estava em sua memória — e em sua capacidade de lembrar quem lhe devia favores.

Laércio Oliveira, o Galo, era o símbolo da conciliação. Seu canto não apenas anunciava o amanhecer, mas também trazia uma mensagem de união. Enquanto o Leão rugia e a Onça afiava as garras, o Galo ciscava pacientemente, unindo grupos improváveis e costurando acordos. “Brigas não alimentam ninguém”, dizia, “mas um campo de grãos cultivado em conjunto, sim.”

Ainda assim, sua paciência era muitas vezes confundida com submissão, algo que ele corrigia com um olhar incisivo e um novo canto inspirador.

Alessandro Vieira, a Toupeira, preferia os bastidores às grandes clareiras. “O que importa não é o brilho da superfície, mas a solidez das raízes”, dizia enquanto cavava túneis invisíveis que sustentavam alianças inesperadas. Alguns bichos reclamavam que ele agia nas sombras, mas a Toupeira sabia que os maiores avanços são feitos longe dos holofotes.

“Eu trabalho no subsolo, mas meu impacto é sentido lá no alto”, dizia com um sorriso forçado e enigmático.

Enquanto isso, nos cantos mais humildes da floresta, os animais pequenos se digladiavam com fervor. Defendiam apaixonadamente o 12, o 13, o 22, o 50, o 10 ou qualquer outro número que estampava suas bandeiras improvisadas. Organizavam passeatas, queimavam as patas em manifestações e lambiam os berços das promessas políticas. Tudo isso com a esperança de mudar o destino da floresta.

E o chão da floresta fervia com essas batalhas ideológicas, os grandes animais se reuniam longe dali, em restaurantes finos e caríssimos como o Fausto Manuel e o Dom Francisco, regados aos melhores vinhos e cardápios repletos de especiarias. Lá, eles riam, brindavam e trocavam anedotas sobre as disputas acaloradas dos pequenos. “Ganhamos a eleição”, dizia o a Onça, saboreando um prato de camarões grelhados. “No fim, todos acabam trabalhando por nós.”, acrescentou o Camaleão.

O Leão balançava a cabeça em tom de desprezo com um rugido contido, enquanto o Elefante concordava com o rugido do Leão e sequer erguia a taça. A Onça observava todos à mesa, talvez ruminando sobre quando seria sua vez de liderar Aracajupólis.

Na floresta da política, as paixões fervem nos galhos mais baixos, enquanto os líderes banqueteiam-se nas copas das árvores. O espetáculo dos pequenos é real, mas, muitas vezes, apenas alimenta os risos dos grandes. A verdadeira pergunta é: quem está realmente no comando, e quem está apenas segurando as bandeiras?

E assim segue a Floresta da Brasilândia, com seus atores e espectadores. No fim, resta saber: quem está mudando o mundo, e quem apenas assiste ao show?

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