Por medo de ser executado, delator do PCC ficou 21 dias em casa

Por medo de ser morto por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, contou à polícia, em 2022, que chegou a ficar 21 dias sem sair de casa, junto com a família. Dois anos depois, o delator do PCC acabou sendo assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos com dez tiros por dois homens não identificados e encapuzados na sexta-feira (8/11).

Na época, em um dos pedidos de soltura de Gritzbach, então preso preventivamente por supostamente mandar matar outros dois integrantes da facção criminosa, a defesa argumentou que ele havia ficado “enclausurado em seu apartamento durante 21 dias, temendo por sua vida e de seus familiares”, porque “a todo o momento recebe informações que sua morte está decretada pelo PCC”.

Segundo os autos, ninguém da família podia sair de casa nem mesmo para “fazer compras de alimentos e as crianças irem à escola”. Na época, ele estava sendo acusado de mandar matar Anselmo Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, no Tatuapé, na Zona Leste da capital, em 2021.

O empresário teria mandado matar Cara Preta porque havia supostamente recebido dele quase R$ 200 milhões para investir em criptomoedas, mas teria desviado o dinheiro, e foi descoberto. Gritzbach operava a compra e venda de imóveis para Cara Preta no esquema de lavagem de dinheiro do PCC.

Com o dinheiro investido por Cara Preta para comprar criptomoedas, Gritzbach estaria comprando imóveis, carros, helicópteros e até mesmo jet skis. No inquérito, a defesa do delator do PCC afirma apenas que seu cliente intermediava a compra e venda de imóveis e relata que, no fim de 2021, pouco depois dos assassinatos, Gritzbach passou a ser ameaçado.

Em janeiro de 2022, ele teria recebido uma mensagem de uma pessoa conhecida como “Cigarreiro”, solicitando um encontro para “conversar” no Tatuapé. No local, além do homem que o havia chamado, foram chegando outros supostos integrantes do PCC que formavam o chamado “tribunal do crime”.

A defesa alega que o empresário foi mantido sob o poder da facção, sendo pressionado e ameaçado de morte, por nove horas. À policia, o delator do PCC contou que conhecia essas pessoas como sendo empresários de jogadores de futebol, contraventores do ramo do jogo de bicho e donos de lojas de alimentos.

Em fevereiro, outras duas pessoas também supostamente da facção teriam invadido a imobiliária do empresário e levado documentos, contratos, cheques, dinheiro e arquivos digitais.

Investigação

Uma força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) investiga três principais hipóteses para tentar esclarecer a execução de Gritzbach. O Ministério Público (MP) acompanha as apurações e a Polícia Federal (PF) também faz sua investigação própria. A Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos apura por qual motivo seus agentes não estavam no local no momento da execução.

O delator era réu na Justiça por lavagem de dinheiro para o crime organizado e também acusado por um duplo homicídio. Ele fez a delação premiada para revelar quem são os agentes de segurança e integrantes do PCC envolvidos em um esquema ilegal de lavagem de dinheiro para o crime organizado. A Justiça homologou a delação com o Ministério Público em março.

Oito dias antes de ser executado, Gritzbach fez uma denúncia de extorsão na Corregedoria da Polícia Civil. Ele acusou policiais civis de exigirem R$ 40 milhões para deixar de investigá-lo pela morte de integrantes do PCC, em dezembro de 2021.

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