Pesquisadores apontam como ideais religiosos afetam a vida sexual

Um estudo recente apontou que mulheres que se identificam como “conservadoras” estão fazendo sexo “ruim” e podem até estar sentindo dor na relação íntima por falta de conhecimento. A pesquisa, publicada na revista Sociology of Religion e conduzida por cientistas de diversas universidades canadenses, descobriu que os ideais religiosos conservadores de pureza sexual estão conectados tanto ao aumento de distúrbios de dor sexual quanto à diminuição da satisfação conjugal.

Os pesquisadores notaram um aumento da chamada “cultura da pureza”, que gira em torno do conceito de que o sexo antes do casamento pode prejudicar espiritualmente uma mulher e que seu corpo e sexualidade são “presentes” que devem ser desfrutados apenas pelo marido.

“Aprender que o sexo é algo pecaminoso ou sujo tem um enorme impacto negativo na felicidade e orgasmicidade das pessoas”, aponta a sexóloga Paula Fernanda. “Embora o termo pecaminoso venha da cultura cristã, não se restringe a ela. O taoísmo, por exemplo, prega que devemos usar nossa energia sexual com sabedoria para termos uma vida longa e saudável.”

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Uma vida sexual ativa e saudável tem impacto direto no bem-estar

O prazer e o orgasmo liberam hormônios responsáveis pela diminuição do estresse e pela melhora do sono
É possível manter a sexualidade ativa e saudável até a terceira idade
No sexo, tudo é liberado desde que com total consentimento de todos os envolvidos e segurança
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O sexo é um dos pilares para uma vida saudável, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)

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Uma vida sexual ativa e saudável tem impacto direto no bem-estar

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O prazer e o orgasmo liberam hormônios responsáveis pela diminuição do estresse e pela melhora do sono

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É possível manter a sexualidade ativa e saudável até a terceira idade

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No sexo, tudo é liberado desde que com total consentimento de todos os envolvidos e segurança

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A pesquisa

Em uma entrevista ao PsyPost sobre o artigo, a autora, Joanna Sawatsky, da Universidade de Saskatchewan, disse que depois que ela e seus coautores leram livros best-sellers sobre casamento e sexo pautados pela cultura cristã, ficaram “horrorizados” ao ver o tipo de conselho que estavam dando às mulheres que “apagava completamente a sexualidade feminina, transformava o sexo em uma luta pelo poder e apresentava os homens como seres sexualmente incontroláveis”, disse.

Usando a técnica de amostragem bola de neve, que envolve pedir aos participantes que indiquem seus amigos como uma tática de recrutamento, os pesquisadores acabaram falando com mais de 5.489 mulheres cristãs. Eles perguntaram as voluntárias sobre sua relação percebida entre pureza e satisfação conjugal e sexual, bem como sua experiência com dor sexual.

Os pesquisadores sugeriram que o estresse mental e emocional, associado aos ensinamentos da cultura da pureza — como ver o sexo como algo arriscado ou pecaminoso — pode contribuir para uma resposta semelhante a um trauma no corpo, manifestando-se como distúrbios de dor sexual.

Educação positiva

De acordo com Paula Fernanda, a mudança vem por meio da educação com uma visão positiva em relação ao sexo, mirando não apenas cuidados com doenças transmissíveis e gravidez indesejada, mas ensinando sobre a anatomia do prazer, como despertá-la e compartilhar essas dádivas de forma segura e consentida.

A educação sobre o prazer não necessariamente envolve ter relações sexuais, e sim preparação física, mental e emocional, comenta a sexóloga, que acrescenta que “autoconhecimento é a chave para tornar as relações íntimas prazerosas e alinhadas com as necessidades, desejos e com os valores de cada pessoa.”

Namoro cristão ou relacionamento santo

As redes sociais são disseminadoras de várias tendências, como o namoro cristão e o relacionamento santo, comentado por diversos famosos como a influenciadora fitness Manu Cit e o influenciador Luigi Cesar, filho de Cesar Filho.

“Tanto a cultura da pureza quanto da promiscuidade envolvem pressões sociais e componentes externos, ditando a sexualidade feminina, como a mulher deve se comportar ou deixar de se comportar. Em nenhum dos casos olha para as reais necessidades e desejos daquela mulher”, defende.

Paula também comenta que a expansão e o empoderamento sexual feminino não está nem em um polo, nem no outro. Deve, sim, centrar-se na capacidade de cada mulher olhar para si e conhecer seu próprio corpo, para, assim, respeitá-lo.

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