Saiba mais sobre primeira caneta de adrenalina desenvolvida contra crises alérgicas graves

 

Um grupo de pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveu a primeira caneta de adrenalina do Brasil. O medicamento é usado em casos de crises graves de alergia (anafilaxia) e pode ser aplicado pelo próprio paciente.

A anafilaxia, forma mais grave de reação alérgica, pode causar sintomas como dificuldade para respirar, perda de consciência, vermelhidão, pressão arterial baixa e alterações na frequência cardíaca, podendo causar até à morte. A caneta serve para estabilizar o paciente.

O Brasil não tem canetas de adrenalina disponíveis no mercado. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente só pode ter acesso a partir de judicialização.

Para importar, é preciso pagar mais de R$ 2.000, mas o valor pode aumentar de acordo com a variação do dólar. Os pesquisadores estimam que o produto nacional seja vendido por R$ 400.

Líder do grupo que desenvolveu a caneta nacional, o pesquisador e professor da UFRJ Renato Rozental explica que os pesquisadores estão em busca da parceria de laboratórios para a produção em larga escala do produto e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Uma vez aprovado pela Anvisa, qualquer brasileiro pode conseguir ter acesso a essa caneta injetável por um preço infinitamente menor do que os praticados por importação ou através de judicialização”, diz.

A caneta está sendo apresentada a um representante da Anvisa durante o 51° Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, em Salvador (BA), de 14 a 17 de novembro.

“A diferença de ter uma caneta dessa é que não requer treinamento de um profissional da área de saúde. Se a pessoa estiver no campo, estiver com trabalho, ela pode aplicar a adrenalina. Basta destravar e apertar o botão. É um processo muito fácil, a agulha perfura até mesmo o jeans, não precisa tirar”, explica Rozental.

Para desenvolver o produto, o pesquisador detalha que foi avaliada a dificuldade de administrar adrenalina fora de áreas hospitalares ou em unidades de saúde que não tenham pessoal treinado e qualificado.

Segundo ele, o processo não é simples. “A pessoa tem que fazer cálculo de dosagem, tem que ter uma certa experiência com ampolas, retirando o conteúdo líquido, posicionando agulhas. Se a pessoa estiver nervosa, pode cometer mil erros”.

A caneta de adrenalina já tem a quantidade exata do medicamento para adultos e para crianças. Com o quadro de saúde estável, o paciente pode ser levado para exames complementares em uma unidade de saúde.

Caso aprovado pela Anvisa, a ideia é que o medicamento esteja disponível em cerca de 11 meses e que o paciente possa manter a caneta por perto, como se fosse uma bombinha de asma. Se incluído no SUS, o produto poderá ser disponibilizado gratuitamente.

Procurado, o Ministério da Saúde disse que, para a incorporação, é necessário o registro na Anvisa e a avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS e que, até o momento, não recebeu nenhuma solicitação para avaliação de incorporação da caneta.

Fábio Chigres Kuschnir, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), explica que o funcionamento da caneta de adrenalina é similar ao de uma caneta esferográfica, mas que no lugar da tinta está o medicamento.

A tecnologia não é nova, mas ele atribui a indisponibilidade no Brasil a uma falta de interesse da indústria de medicamentos. Nos hospitais, existem doses de adrenalina em ampolas, que não são vendidas em farmácias e a aplicação só pode ser feita por profissionais da saúde.

“De alguns anos para cá, nós tivemos um aumento muito grande de alergias, inclusive das alergias mais graves, que a gente chama de anafilaxia. Então, isso tem despertado não só no Brasil, mas no mundo inteiro uma atenção especial”, comenta.

Já são comercializados no país antialérgicos. O presidente da Asbai destaca, no entanto, que esses remédios só começam a agir dentro de 20 minutos e não estabilizam completamente o paciente caso ele esteja com um quadro mais grave. Também há os corticoides, mas só começam a agir dentro de duas horas.

Fonte: Folha de S.Paulo

 

 

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