Lula propõe reforma financeira global e critica desigualdade: ‘A globalização neoliberal fracassou’

Rio de Janeiro – O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma ampla reforma da arquitetura financeira global durante a abertura da segunda sessão da Cúpula do G20, nesta segunda-feira (18). Em seu discurso, Lula criticou as decisões tomadas durante a crise financeira de 2008, quando se priorizou salvar bancos em detrimento de pessoas.

“A globalização neoliberal fracassou. Escolheu-se salvar bancos, não vidas. Optou-se por economias centrais, ignorando países em desenvolvimento. Isso fomentou desigualdades que alimentam ódio e extremismo”, afirmou Lula.


Propostas de Lula no G20

O presidente destacou a necessidade de mudanças estruturais no sistema financeiro e político global, citando pontos como:

  • Revisão do sistema de governança internacional: Lula defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU, criticando o uso indiscriminado do veto pelos membros permanentes.
  • Redução da desigualdade tributária: Estudos apresentados no G20 indicam que uma taxação global de 2% sobre super-ricos pode arrecadar até US$ 250 bilhões anuais para combater desafios sociais e ambientais.
  • Revisão de políticas financeiras globais: Lula destacou que países em desenvolvimento enfrentam dívidas externas superiores aos recursos disponíveis para infraestrutura, saúde e educação.

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Críticas à governança internacional

Lula também mencionou o impacto das decisões recentes sobre conflitos e crises humanitárias. Segundo ele, intervenções desastrosas no Afeganistão e na Líbia, além da indiferença com o Sudão e o Haiti, demonstram a fragilidade das instituições multilaterais.

O presidente reforçou a importância de uma nova governança global, adaptada ao cenário multipolar, com representatividade e inclusão. Ele propôs uma conferência de revisão da Carta da ONU, com base no artigo 109, para repensar o papel e as regras das Nações Unidas.


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A relação com o futuro sustentável

Outro ponto destacado foi a necessidade de cooperação tributária internacional e a urgência de políticas que garantam maior equilíbrio entre países ricos e em desenvolvimento. Lula reforçou que o combate às desigualdades deve estar no centro da agenda global, especialmente diante dos avanços tecnológicos, como a inteligência artificial.

“O futuro será multipolar. Reconhecer isso é essencial para construir a paz e uma governança mais equilibrada”, afirmou.

Leia o discurso:

“A história do G20 está entrelaçada com os abalos sofridos pela economia global nas últimas décadas.

Ações oportunas evitaram que a crise de 2008 redundasse em um colapso de proporções catastróficas.

O ímpeto reformador foi insuficiente para corrigir os excessos da desregulação dos mercados e a apologia do Estado mínimo.

Naquele momento, escolheu-se salvar bancos em vez de ajudar pessoas.

Optou-se por socorrer o setor privado em vez de fortalecer o Estado.

Decidiu-se priorizar economias centrais em vez de apoiar países em desenvolvimento. 

O mundo voltou a crescer, mas a riqueza gerada não chegou aos mais necessitados.

Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sob ameaça.

A globalização neoliberal fracassou. 

Em meio a crescentes turbulências, a comunidade internacional parece resignada a navegar sem rumo por disputas hegemônicas.

Permanecemos à deriva, como se arrastados por uma torrente que nos empurra para uma tragédia.

Mas o confronto não é uma fatalidade.

Negar isso é abrir mão da nossa responsabilidade.

Em torno desta mesa estão os líderes das maiores economias e blocos regionais do planeta. 

Não há ninguém em melhor posição do que nós para mudar o curso da humanidade.

Este ano, a reforma da governança global entrou em definitivo na agenda do G20. 

Pela primeira vez, o grupo foi à ONU e aprovou, com o endosso de outros quarenta países, um Chamado à Ação.

Mas esse chamado é apenas um toque de despertar.

A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional. 

O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes.

Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor.

Intervenções desastrosas subverteram a ordem no Afeganistão e na Líbia.

A indiferença relegou o Sudão e o Haiti ao esquecimento.

Sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis.

As instituições de Bretton Woods impuseram obstáculos aos próprios objetivos de desenvolvimento sustentável que deveriam promover.

Impasses recentes em torno do Tratado de Pandemias, do Pacto para o Futuro e da COP da biodiversidade de Cáli mostram que a diplomacia vem perdendo terreno para a intransigência.

Não deve haver debates interditados, nem linhas vermelhas intransponíveis.

Por isso, o Brasil propôs, em Nova York, a convocação de uma conferência de revisão da Carta da ONU, nos termos do artigo 109.

Apenas 51 dos atuais 193 membros das Nações Unidas participaram de sua fundação.

Também é urgente rever regras e políticas financeiras que afetam desproporcionalmente os países em desenvolvimento.

O serviço da dívida externa de países africanos é maior que os recursos de que eles dispõem para financiar sua infraestrutura, saúde e educação.

A cooperação tributária internacional é crucial para reduzir desigualdades.

Estudos encomendados pela Trilha de Finanças do G20 são reveladores.

Uma taxação de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar recursos da ordem de 250 bilhões de dólares por ano para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais do nosso tempo.

A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio.

O futuro será multipolar. Aceitar essa realidade pavimenta o caminho para a paz.

Também é chave na construção de uma governança que maximize as oportunidades e mitigue os riscos da Inteligência Artificial.

A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo.

Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita.

Em 1940, o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema chamado “Congresso Internacional do Medo”, que traduzia o sentimento prevalente em meio à Segunda Guerra Mundial.

Para evitar que o título desse poema volte a descrever a governança global, não podemos deixar que o medo de dialogar triunfe.

Muito obrigado, companheiros.”


Entenda, saiba mais tire suas dúvidas

O que Lula quis dizer com o “fracasso da globalização neoliberal”?
Ele criticou políticas que priorizaram o salvamento de bancos e economias centrais, ignorando os mais necessitados e ampliando desigualdades.

Qual é a proposta de taxação dos super-ricos?
Trata-se de um imposto global de 2% sobre grandes fortunas, com potencial de arrecadar US$ 250 bilhões anuais para enfrentar desafios sociais e ambientais.

Como Lula propõe reformar a ONU?
Ele sugere uma conferência para revisar a Carta da ONU, tornando as instituições multilaterais mais representativas e inclusivas.

Por que o serviço da dívida externa é um problema para países africanos?
Esses países destinam mais recursos ao pagamento de dívidas do que ao financiamento de infraestrutura, saúde e educação, dificultando seu desenvolvimento.


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