Blindagem, giroflex e sinal sonoro: carro de Gritzbach era “viatura”

São Paulo — Em depoimento à Polícia Civil, o responsável por coordenar a equipe de seguranças de Vinícius Gritzbach, Danilo Lima Silva, afirmou que seu patrão — delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) — circulava em um carro com blindagem de nível 5. No veículo, havia “sirenes e acessórios com sinais luminosos”, usados exclusivamente por viaturas descaracterizadas das polícias.

A “viatura” ilegal de Gritzbach, um Volkswagen Amarok, teria quebrado em um posto de combustíveis, instantes antes da chegada do delator, assassinado com dez tiros, logo após ele desembarcar de um voo no Aeroporto Internacional de São Paulo — região metropolitana — no último dia 8. O nível 5 de blindagem, da caminhonete que deveria buscar o delator, consegue neutralizar até tiros de fuzil, o tipo de arma usada na execução.

Como mostrado pelo Metrópoles, investigação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) identificou que um olheiro teria avisado aos assassinos de Vinícius Gritzbach o momento em que ele se encontrava no saguão do aeroporto de Guarulhos.

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Gritzbach foi solto em 7 de junho

Segundo MPSP, Gritzbach teria mandado matar dois integrantes do PCC
Empresário foi preso em 2 de fevereiro deste ano em um resort de luxo na Bahia
Empresário, preso sob suspeita de mandar matar membros do PCC, foi solto por determinação do STJ
Corpo de rival do PCC executado no aeroporto
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Gritzbach foi solto em 7 de junho

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Segundo MPSP, Gritzbach teria mandado matar dois integrantes do PCC

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Empresário foi preso em 2 de fevereiro deste ano em um resort de luxo na Bahia

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Empresário, preso sob suspeita de mandar matar membros do PCC, foi solto por determinação do STJ

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Corpo de rival do PCC executado no aeroporto

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Corpo de rival do PCC morto em desembarque de aeroporto

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Rival de PCC é morto em aeroporto

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Gritzbach era jurado de morte pela maior facção criminosa do Brasil. No dia de sua execução, quando foi alvo de 29 tiros de fuzil, ele havia acabado de retornar de uma viagem ao Nordeste, onde permaneceu sete dias com a namorada e seguranças particulares, entre eles um policial militar e Danilo, cujo depoimento ao DHPP foi obtido pelo Metrópoles.

Duas “viaturas”

Além do Amarok, usado por Gritzbach e familiares, Danilo Lima Silva afirmou que uma Trailblazer, com nível 3 de blindagem — usada pela escolta particular do delator — também contava com sinais luminosos e sirenes, circulando ilegalmente como uma viatura. Gritzbach pretendia embarcar nesse veículo, mas foi assassinado pouco antes de alcançá-lo.

A instalação dos equipamentos, segue o segurança em seu depoimento, foi viabilizada por um assessor de Gritzbach, identificado como Adriano Gedra, em uma loja de acessórios no Tatuapé, reduto do PCC na zona leste paulistana. Danilo ressaltou, ainda no depoimento, não saber o endereço de onde houve a transformação dos carros em viaturas.

O segurança acompanhou Gritzbach na viagem ao nordeste, acrescentando ter sido o responsável em pegar joias, usadas como parte do pagamento de uma dívida, de R$ 6 milhões, de um homem ao delator.

Sem presos

Até o momento, a polícia não conseguiu identificar ou prender nenhum dos assassinos. Pelo menos 13 policiais são investigados: oito militares que faziam a escolta do delator e cinco policiais civis que foram denunciados, por Gritzbach, por corrupção.

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do MPSP, foi até a sede do DHPP, na tarde desta segunda-feira (18/11), quando se reuniu com o Delegado-Geral Artur José Dian. Ao Metrópoles, ele afirmou que não poderia comentar sobre o encontro “para não atrapalhar as investigações”.

A investigação da Polícia Civil mostra que alguns dos policiais, envolvidos com Gritzbach, são suspeitos de sociedade em diversas empresas. Além de exercerem atividades externas não permitidas pela polícia, eles teriam patrimônio incompatível com os seus rendimentos. Membros do PCC, um agente penitenciário e uma pessoa que devia dinheiro a Gritzbach também estão entre os suspeitos do crime.

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Vinícius Gritzbach era réu em processos pelo suposto envolvimento no homicídio de dois membros do PCC e por lavar dinheiro para a facção. Ele respondia aos crimes em liberdade e, em abril, teve sua delação premiada com o MPSP homologada pela Justiça. O acordo permitiria que ele tivesse redução das penas no caso de eventuais condenações. Em troca, ele denunciou integrantes da facção por estelionato e agentes de segurança por extorsão.

Segundo a defesa de Gritzbach, um áudio que faz parte da delação revela detalhes de sua relação com o advogado Ahmed Hassan, o Mude, que aparece na gravação com um policial civil não identificado oferecendo R$ 3 milhões para ele matar o delator.

 

Gritzbach também acusou policiais civis, entre eles um delegado do DHPP, de cobrarem R$ 40 milhões para engavetarem a investigação sobre os assassinatos dos dois integrantes do PCC, atribuídos ao delator. A propina não teria sido paga.

A investigação do fuzilamento de Gritzbach trouxe à tona detalhes do acordo de delação com o MPSP. Por medo de ser morto pela facção, ele contou à polícia, em 2022, que chegou a ficar 21 dias sem sair de casa, junto de sua família. Segundo os autos, ninguém podia sair de casa nem mesmo para “fazer compras de alimentos e as crianças irem à escola”.

Trocas de e-mails entre a defesa de Vinícius Gritzbach e promotores de Justiça mostram tensão nas tratativas para que ele firmasse o acordo de delação sobre a lavagem de dinheiro para o PCC. Ao longo da negociação, que durou meses, ele tentou blindar ao máximo seu patrimônio, que inclui uma longa lista de imóveis, lanchas e até um helicóptero. Isso levou os promotores a ameaçarem rejeitar a proposta de colaboração.

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