Fome bate à porta de família a 4 km do Palácio da Alvorada

O fantasma da fome assombra todos os dias o barraco de lona e madeira, de cerca de 15 m2, de Elenice Santos, 33 anos, Arlem Gomes, 32, e seus cinco filhos. Eles só comem o que recebem em doações.

Em uma caixa repleta de moscas à sombra de uma pequena árvore, Elenice guarda algumas folhas e verduras que ganhou nesta semana. Sem geladeira, ela coloca os alimentos na parte externa para “tomar um ar”.

A mulher costuma cozinhar para o almoço e o jantar o arroz e o feijão da cesta básica que a família recebe mensalmente de igrejas. De manhã, além do café, comem pão, manga ou o que tiver.

A família mora há dois meses em um terreno que invadiu na Vila Planalto. A comunidade fica a quatro quilômetros, cinco minutos de carro, do Palácio da Alvorada, em Brasília, residência oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesta semana, Lula está no Rio de Janeiro, onde acontece a reunião do G20. Um dos temas prioritários do encontro é o combate à fome e à pobreza.

Os R$ 1.500 do Bolsa Família a que Elenice tem direito sustentam as cinco crianças de três a dez anos que moram com o casal, os outros quatro filhos de Elenice, que têm entre 13 e 18 anos, e sua neta. O auxílio é a única fonte de renda da família.

Grávida de três meses e sem ter com quem deixar as crianças, a mulher, que estudou até a quinta série, não trabalha há alguns anos. Desempregado desde que se mudou para o lugar onde vive, Arlem raramente encontra bicos como os que costumava fazer capinando terra ou ajudando na construção de imóveis.

O barraco da família é um dos 21,6 milhões de lares que sofrem com a insegurança alimentar no Brasil, onde há dificuldade de acesso a alimentos, segundo a PNAD Contínua do IBGE de 2023. No mundo, o número chegou a 2,33 bilhões, conforme o relatório Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo da ONU.

Natural de Sento Sé, na Bahia, a quase 700 km de Salvador, o homem sente falta de sua terra e de criar animais para se alimentar. “Gosto mesmo é da roça”, diz ele. Carne nas refeições da família é raro, apenas quando ganham alguma marmita.

O casal pouco se queixa da alimentação precária. O maior desejo deles é ter uma casa própria. Filha de uma usuária de drogas, Elenice foi criada pela avó e lamenta nunca ter morado em uma “casa de verdade”: “Sempre vivi em barracos de lona, improvisados”. E sempre viveu uma dieta de fome.

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