“Democrata é o cacete”, escreveu coronel que atuou por golpe militar

Em conversas com o general Mário Fernandes obtidas pela Polícia Federal (PF), o coronel Roberto Raimundo Criscuoli defende o fim da postura “democrata” adotada no final do governo Bolsonaro e a adoção de medidas radicais. “Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata agora”, escreveu o oficial.

Os diálogos entre Fernandes e Criscuoli ocorreram entre os dias 1º e 6 de novembro de 2022, logo após a vitória de Lula nas eleições presidenciais. Eles foram encontrados em equipamentos eletrônicos apreendidos com Fernandes no âmbito da operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro deste ano para investigar o planejamento de um golpe militar que impediria a posse de Lula. O general foi preso pela PF nesta terça-feira (19/11), na Operação Contragolpe.

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Oficiais são acusados de tramar morte de Lula, Moraes e Alckmin

Mario Fernandes trabalhou com Bolsonaro
Tenente-coronel Helio Ferreira Lima também foi preso por plano para matar Lula
O tenente-coronel do Exército Rafael Martins de Oliveira
General Mario Fernandes visitou Mauro Cid na prisão ao lado de Pazuello em maio de 2023
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General Mário Fernandes foi preso pela PF nesta terça-feira

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Oficiais são acusados de tramar morte de Lula, Moraes e Alckmin

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Mario Fernandes trabalhou com Bolsonaro

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Tenente-coronel Helio Ferreira Lima também foi preso por plano para matar Lula

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O tenente-coronel do Exército Rafael Martins de Oliveira

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General Mario Fernandes visitou Mauro Cid na prisão ao lado de Pazuello em maio de 2023

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General Mario Fernandes com Jair Bolsonaro

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Coronel Criscuoli pediu execução imediata de plano de golpe militar

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O desabafo de Criscuoli demonstrou a apreensão do militar em adiar o golpe e, com isso, perder apoio popular. O coronel revela ainda a preocupação com o afastamento dos militares de maior patente a partir da posse do então presidente eleito. Para o oficial, uma “guerra civil” seria inevitável.

“Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade, vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem uma justificativa, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara [Lula] vai destruir o Exército, vai destruir tudo. Aí o povo vai dizer assim: ‘Agora que mexeram com você, vocês vão pra rua, vão resolver’. Então vai ficar feio”, disse o coronel.

“Ele [Lula] vai destruir todo o Exército. Ele vai mandar todos os quatro estrelas embora. Vai ficar com o GDias [General Gonçalves Dias, fiel a Lula, que ocupou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência] e alguns outros aí. Cara, não vai ficar legal, cara. É melhor ir agora. O povo tá na rua e pedindo, que daqui a pouco nós vamos ir por interesse próprio. Aí não vale. Aí eu não vou. Aí eu não vou. Então a hora de ir é agora, cara”, afirmou Criscuoli no dia 4 de novembro de 2022.

“Acabou o jogo”

O militar lembra ainda a recorrente frase de Bolsonaro, de que atuaria “dentro das quatro linhas”, para cobrar uma ação imediata contra a posse de Lula. O coronel demonstra temer que a demora na tomada do poder dê aos “vermelhos” mais tempo para organizar uma reação ao golpe.

“Tem que ir agora que o povo está pedindo. Não porque eu vou mandar os generais pra reserva. Então eu acho que essa decisão tem que ser tomada urgente, cara. E o presidente [Bolsonaro] não pode pagar pra ver também, cara. Ele vai destruir o nosso país, cara. Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir ferozes. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora”, disse.

“Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não. Amanhã é o que eu quero dizer daqui a pouco. Por interesses outros eu não vou. Nem eu e nem a turma daqui. Um saco cheio de explicar pro civil que as coisas estão sendo tomadas, que tem um cara lá que tá fazendo isso, tem um pessoal que vai falar, tem um pessoal que tá acusando, estamos pegando prova. Porra, não dá mais, cara. Não dá mais. Não dá mais pra ter prova, não. Quer mais prova do que já teve? E o povo tá na rua pedindo. Vambora, pô. Pau”, provocou o oficial.

Assim como Mário Fernandes, o coronel Roberto Criscuoli é apontado como um dos “kids pretos”, oficiais de alta patente, da ativa ou não, que se especializaram em operações especiais do Exército, com foco nas ações de sabotagem e incentivo a revoltas populares ou “insurgência popular”. Em 2021, ele foi apontado como integrante da “Abin paralela” de Bolsonaro, uma rede de informações da qual o então presidente se valia para obter informações de interesse do governo.

No mesmo ano, o coronel foi citado na CPI da Covid por intermediar o contato entre representantes da Davati Medical Supply e o Ministério da Saúde, o que resultou no escândalo do pedido de propina para a compra de vacinas contra a doença.

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