Apagões em SP: por que é tão difícil religar energia da rede enterrada

São Paulo – Desde a última segunda-feira (18/3), milhares de paulistanos que vivem no centro de São Paulo têm enfrentado uma série de apagões. A falta de luz afetou comércios, hospitais, casas e endereços icônicos da cidade, como os edifícios Copan e Itália.

A Enel afirma que o desligamento foi causado por danos em diferentes pontos da rede subterrânea e que os reparos neste tipo de ocorrência são complexos. O Metrópoles conversou com dois especialistas no tema para entender por que é tão difícil religar a energia no centro da capital e o que pode ser feito para melhorar esse processo.

A primeira dificuldade, segundo ambos, está em achar o local onde o problema começou. Diferente da rede aérea, onde os fios estão expostos e os trechos que precisam de reparos são notados com facilidade, na rede subterrânea é preciso investigar onde estão os cabos que passarão por manutenção.

Diretor do Instituto de Engenharia, Aléssio Bento Boretti diz que, no centro da capital, onde os circuitos foram enterrados ainda no século XX, é difícil saber a localização exata dos fios para fazer os reparos.

“Muitas vezes as pessoas vão fazer a manutenção em um lugar e afetam outro”, explica o professor.

O engenheiro José Aquiles Baesso Grimoni explica que diferentes técnicas são utilizadas para encontrar os pontos de manutenção. Uma delas envolve as próprias ligações dos consumidores, que avisam sobre a interrupção no fornecimento de energia.

“A partir das ligações, eles tentam localizar qual o circuito da rede que está associado àquelas chamadas telefônicas”, afirma Aquiles, que é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).


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O engenheiro diz que a busca pelo local de reparo vai sendo refinada com base nas informações e mapas da concessionária. Quando um ponto provável de reparo é encontrado, começa a etapa de alcançar os cabos que precisam de manutenção. Para isso, é preciso abrir buracos nas ruas e visualizar as tubulações onde os fios ficam enterrados.

“Você precisa identificar qual a gravidade desse defeito e talvez você tenha que refazer a conexão do cabo. Isso também dá trabalho e precisa de gente especializada”, afirma o engenheiro. Ele lembra das demissões de funcionários feitas pela Enel e diz que os profissionais especializados fazem diferença nestas situações.

Aléssio também endossa que a operação de reparo é complexa e precisa de especialistas no ramo. “Tem que usar equipamentos especiais, entrar embaixo da terra, o isolamento dos cabos alguns são mais modernos, outros mais antigos”, diz o professor.

Para Aléssio, no entanto, mesmo com a complexidade do processo, o tempo gasto pela Enel para resolver os danos na última semana não é aceitável.

“A rede subterrânea também deveria ser rapidamente resolvida”, afirma ele. “Energia elétrica é muito importante, é segurança, saúde. Não pode ficar assim”, diz ele.

Os dois especialistas defendem a ampliação da rede subterrânea na cidade e dizem que o modelo sobrevive melhor às intempéries e problemas como furtos e vandalismo.

Aléssio acredita que a concessionária precisa investir em melhorias para o sistema de cabos enterrados, com maior controle, proteção e mapeamento da rede para evitar novos problemas. “Falta modernização”, afirma.

Em nota, a Enel lamentou os transtornos causados aos clientes por causa das ocorrências envolvendo a rede de distribuição subterrânea da companhia no centro. A empresa diz que restabeleceu, até 16h desta sexta-feira (22/3), o serviço para 97% dos clientes impactados pelo desligamento na região de Santa Cecília e República ocorrido nesta quinta-feira (21/3).

“A Enel reitera que tem empenhado todos os esforços e recursos para restaurar os parâmetros originais e a configuração das redes afetadas. A companhia também tem disponibilizado geradores de médio e grande porte para abastecer os clientes impactados, enquanto segue trabalhando nos reparos até a plena normalização do serviço”, diz o texto.

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