Gladiador II: filme diverge da história real, mas é um mergulho visual jamais visto na opulência do Império Romano

Stephan Blum, University of Tübingen e Michael La Corte, University of Tübingen

_Aviso: este artigo contém spoilers de Gladiador II.

Vinte e quatro anos depois de Gladiador, o diretor Ridley Scott retornou com uma sequência arrebatadora de sua história épica. À despeito das impressões artísticas e narrativas que o filme possa suscitar, a tecnologia CGI de última geração é um trunfo absoluto do filme. Que permite ao público experimentar, de forma nunca antes vista, tanto a grandeza de Roma em seu auge civilizatório quanto a sua decadência moral e política.

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Gladiador II se passa anos depois do filme original, durante o reinado dos co-imperadores Caracalla (interpretado por Fred Hechinger) e Geta (Joseph Quinn) no início do século III d.C.

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O filme acompanha Lucius (Paul Mescal), filho do Maximus de Russell Crowe, protagonista do primeiro filme. Agora adulto, ele está vivendo no antigo reino do noroeste da África, Numídia, sob o disfarce de uma nova identidade para escapar da política romana.

Quando as forças romanas, lideradas pelo Tribuno Marcus Acacius (Pedro Pascal), invadem a Numídia, ocorre uma tragédia. A esposa de Lucius é morta e ele é capturado. Comprado como escravo pelo romano Macrinus (interpretado com maestria por Denzel Washington), Lucius é transportado para Roma. Lá, ele é forçado a entrar no mundo brutal dos combates de gladiadores, lutando para que seu captor obtenha lucro na arena.

Mas quais desses personagens foram baseados em pessoas reais da antiguidade – e até que ponto seus destinos correspondem ao arco que eles têm na sequência de Scott?

A cena inicial da invasão na Numídia, ambientada em 200 d.C., diverge da história real. Após a vitória de Júlio César na Batalha de Thapsus, em 46 d.C., a Numídia (atual Argélia) foi dividida. A parte oriental formou a província África Nova e a região ocidental em torno de Cirta tornou-se uma colônia romana. No início do século III d.C., o imperador romano Septimius Severus (não retratado no filme) tornou a Numídia uma província independente.

O retrato que o filme faz de uma cidade numidiana rebelde parece mais um aceno lúdico à série de quadrinhos francesa Asterix e Obelix, em que um pequeno vilarejo desafia a dominação romana. Em vez de refletir as complexidades do imperialismo romano, o filme adota o tropo de um grupo minúsculo e indomável que resiste a um império em uma cidade portuária fortemente fortificada.

Essa mistura de mito e história evoca uma sensibilidade de história em quadrinhos em vez de uma narrativa histórica séria, priorizando o espetáculo em detrimento da precisão.

História reescrita para a tela grande

Ambientado em 200 d.C., o filme coloca Caracalla e Geta no centro da intriga política. Isso ocorre apesar do fato de que os verdadeiros herdeiros imperiais ainda eram apenas crianças, com cerca de nove e dez anos de idade na época.

Retratar os meninos como operadores políticos astutos é um exagero que até mesmo o roteirista mais imaginativo teria dificuldade em defender. Além disso, em 200 d.C., o pai deles, Septimius Severus, ainda estava bem vivo e no controle do império, continuando a governar por mais 11 anos.

Há ainda Lucilla (Connie Nielsen), a segunda filha de Marcus Aurelius. O filme a coloca em um papel de destaque, embora, inconvenientemente, na vida real ela tenha sido executada por volta de 181 ou 182 d.C., quase duas décadas antes dos eventos de Gladiador II.

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A representação de Macrinus é outro erro histórico. Embora tenha subido ao poder sob Septimius Severus e Caracalla, Macrinus não se tornou imperador até 217 d.C.

Denzel Washington interpreta Macrinus no filme Gladiador II. Landmark Media/Alamy Stock Photo
Denzel Washington interpreta Macrinus no filme Gladiador II. Landmark Media/Alamy Stock Photo

O filme dramatiza o papel de Macrinus, mostrando-o orientando Caracalla no assassinato de Geta e até mesmo assassinando Caracalla diretamente no Circus Maximus, acrescentando uma camada fictícia aos eventos históricos. Mas, de fato, embora Macrinus estivesse envolvido na conspiração para eliminar Caracalla, ele não matou fisicamente o imperador.

Relatos históricos, como os de Cassius Dio ou Historia Augusta, não apoiam a descrição do filme de Macrinus esfaqueando Caracalla em um ambiente tão público.

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Na verdade, Caracalla foi assassinado em 217 d.C. durante uma viagem de Edessa, na Turquia, para Carrhae, na Síria. O assassino, um soldado chamado Martialis, desferiu um golpe fatal em Caracalla, supostamente a mando dos partidários de Macrinus, que buscavam elevá-lo ao trono.

Deixando de lado a linha do tempo imprecisa, o filme é um retrato opulento do estilo de vida romano em meados do período imperial. Com cenas de batalha impressionantes, duelos de gladiadores, grandes festividades e figurinos deslumbrantes, ainda há muito a ser feito.

Stephan Blum, Research associate, Institute for Prehistory and Early History and Medieval Archaeology, University of Tübingen e Michael La Corte, Research Associate, Curation and Communication, University of Tübingen

This article is republished from The Conversation under a Creative Commons license. Read the original article.

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