Cães também têm câncer de próstata; saiba interpretar os sinais

O câncer de próstata é um dos tipos mais comuns de câncer em homens no Brasil, e a doença ganha visibilidade durante o Novembro Azul, mês focado na saúde masculina. Entretanto, o que pouca gente sabe é que esta doença também pode aparecer em cachorros com menor frequência. Nos cães, o exame de toque retal pode se tornar rotina para os mais idosos, que é quando o risco do tumor aumenta, dependendo da orientação do médico veterinário.

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A vantagem dos animais de quatro patas é que a incidência do câncer de próstata é rara, mesmo que possa representar riscos. Isso ocorre quase sempre nos casos em que o diagnóstico é feito muito tarde, ou seja, quando o câncer já se encontra na fase de metástase. Neste momento, as células cancerígenas já se espalharam para outras partes do corpo.

Para os homens, a tendência é que o número de casos deste tipo de câncer aumente nos próximos anos. A previsão não pode ser replicada para os pets por falta de dados, mas é interessante notar que as soluções encontradas podem ajudar as duas espécies. Inclusive, os cachorros estão ajudando a revolucionar o tratamento oncológico. 


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Câncer de próstata em cachorros

“O câncer de próstata é raro em cães e gatos”, avisa Rodrigo dos Santos Horta, professor adjunto da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador setor de Oncologia no Hospital Veterinário da universidade, para o Canaltech. Apesar da baixa incidência, a doença tem riscos. 

Exame de toque pode se tornar rotina para cachorros idosos devido ao risco do câncer de próstata, mesmo que a doença seja rara (Imagem: Kat von Wood/Unsplash)

“O câncer de próstata ocorre com uma prevalência inferior a 1% em cães e gatos, muito inferior ao reportado nas pessoas em que pode acometer 1 a cada 10 homens”, detalha o bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em comparação, é mais frequente encontrar nos cachorros os tumores testiculares — estes são “bastante raros” em gatos.

No entanto, há algumas diferenças entre o câncer de próstata normalmente observado em homens e nos cães por causa da origem. No melhor amigo do homem, o câncer tende a ter origem urotelial (carcinoma urotelial) do que as formações acinares (adenocarcinoma), que ocorrem nos seres humanos.

Então, “diferente do homem, nos cães, a maioria dos cânceres prostáticos são hormonalmente independentes e a testosterona não exerce qualquer influência“, acrescenta o médico veterinário. 

Existe risco para a saúde do animal?

Como nos homens, o câncer de próstata em cães pode se tornar um sério problema de saúde para o pet. Afinal, Horta explica que “o crescimento é insidioso [enganador] e a taxa de metástase é elevada. Sendo assim, a maioria dos pacientes são diagnosticados em estágio avançado”. Em relação aos gatos, ainda falta informação sobre esse tipo de câncer considerando a raridade do diagnóstico.

Sinais de alerta e tratamento oncológico

Em cachorros, os principais sintomas de câncer de próstata são: 

  • Alteração na forma das fezes (por restrição à passagem das fezes);
  • Esforço excessivo e dor para urinar e/ou defecar;
  • Sangramento urinário;
  • Letargia (cansaço);
  • Hiporexia (perda de apetite);
  • Perda de peso;
  • Dificuldade respiratória, quando há metástase. 

Nestes casos, “o aumento prostático é usualmente percebido por exames de imagem, como a ultrassonografia, mas o toque retal pode ser de grande auxílio na identificação e deve ser realizado, obrigatoriamente, durante o exame clínico de rotina de cães com mais de 6 anos”, alerta o especialista na área da oncologia.

Vale lembrar que nem todo aumento prostático é sinal de perigo, mas deve ser investigado. Para além do câncer, o crescimento anormal pode indicar um quadro de hiperplasia prostática benigna, cistos prostáticos ou prostatite.

Possíveis terapias para câncer de próstata

Com o diagnóstico de câncer de próstata em mãos, é preciso avaliar as possibilidades. Segundo o médico veterinário, a cirurgia (prostatectomia parcial e total) é recomendada para cães em estágio inicial, quando há um cenário favorável. Isso porque a prostatectomia total envolve a ressecção e reconstrução uretral, o que é associado a altas taxas de complicações, como incontinência urinária. 

“Outros tratamentos incluem radioterapia e terapia medicamentosa sistêmica, destacando-se o uso de anti-inflamatórios, com benefício clínico comprovado, e quimioterapia, cujos resultados ainda são pouco previsíveis”, detalha Horta.

Importância do check-up

Para reduzir o risco de um diagnóstico tardio de câncer de próstata, a recomendação é que cães idosos realizem check-ups a cada seis meses, com exame físico completo, incluindo o toque retal. “Podem ser solicitados exames de sangue, radiografias e ultrassonografia”, acrescenta.

Em homens mais velhos, é possível que o médico urologista solicite, em primeiro lugar, um exame de sangue para análise do Antígeno Prostático Específico (PSA), antes do toque. Por causa das particularidades do tumor nos cães, este teste acaba não sendo útil. 

Fatores de risco para o câncer

Quando se pensa em cães e outros animais domésticos, a castração é uma forma de diminuir diferentes tipos de câncer. No entanto, ela não exerce efeito protetor evidente na maioria dos casos do câncer de próstata.  

“Ainda não está clara a relação entre castração e câncer de próstata em cães, mas essa enfermidade pode ocorrer de forma similar em cães castrados e não castrados”, comenta Horta. 

“Uma vez que a maioria dos cânceres prostáticos em cães tem origem urotelial, não existe dependência hormonal, e a influência da testosterona ou da relação testosterona/estrógeno é possivelmente menor do que o observado em seres humanos com adenocarcinomas prostáticos”, completa o especialista. Aqui, o mais importante é estar de olho na saúde do animal, ainda mais quando ele envelhece.

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