2024, o ano em que desvendamos grandes mistérios dos oceanos

Mais de 70% da superfície terrestre é coberta pelas águas salgadas do mar. Apesar da quase onipotência dos oceanos, as suas profundezas são pouco conhecidas e guardam inúmeros segredos. Em um esforço digno de Poseidon, cientistas de todo o mundo desvendaram grandes mistérios dos oceanos em 2024, como o Canaltech vai lembrar. Temos novas espécies de animais e até estruturas naturais recém-identificadas, com comportamentos únicos.

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Enquanto a ciência investiga os cantos mais obscuros dos oceanos, onde nem a luz solar chega, com drones subaquáticos, técnicas de ecolocalização e outras tecnologias de ponta, muitas regiões deste ecossistema complexo estão em risco por causa das mudanças climáticas

Então, é uma corrida contra o tempo para entender a dinâmica dos mares, o que pode revelar modos de preservá-lo. Neste ano, o paradoxo entre a descoberta e a destruição ficou ainda mais evidente.


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Isso é real!

Em 2024, os centros internacionais de pesquisa descobriram coisas sobre os oceanos que é difícil de acreditar, mesmo com evidências científicas. São os casos de nanoestruturas que geram energia mesmo sem ter vida, no meio do Oceano Pacífico. As investigações ainda estão em andamento, mas esta fonte de geração de energia elétrica pode ter começado antes mesmo dos primeiros organismos vivos.

Fumarolas: impressionantes e misteriosas chaminés salinas foram encontradas no fundo do mar do Pacífico em 2024 (Imagem: Centro HelmHoltz de Pesquisa Ambiental/UFZ)

Ainda no Pacífico, outro grupo de cientistas identificou inusitados fabricantes de oxigênio, que são basicamente minerais metálicos (ou “rochas elétricas”) escondidos no fundo do mar. Esses nódulos polimetálicos não são organismos fotossintéticos e não dependem da luz solar, mas têm essa incrível capacidade de gerar oxigênio, algo até então inédito para a ciência.

Enquanto isso, nas profundezas do Mar Morto, pesquisadores encontraram “fumarolas brancas”. Na verdade, são torres de sal semelhantes a chaminés que expelem nuvens de um fluido brilhante, com implicações ainda desconhecidas. O aglomerado dessas chaminés remete a ideia de cidades de fábricas, em trabalho constante.

Novas criaturas marinhas

Indo além das estruturas misteriosas do fundo do mar, novas e impressionantes espécies de criaturas marinhas foram localizadas pela primeira vez. Em alguns casos, os biólogos conseguiram aprender comportamentos inéditos destes animais pouco vistos, mesmo que já existissem alguns registros raros de avistamento.

Em expedição à Nova Zelândia, um grupo de cientistas encontrou um animal apelidado de porco-do-mar (Scotoplanes globosa) por causa do corpo rosado e pela preferência em “andar” no fundo do mar, como um quadrúpede. Até então, ele nunca tinha sido fotografado em alta definição, em uma profundidade de 4,8 km. 

Neste ano, biólogos aprenderem mais sobre o curioso porco-do-mar, que mora nas profundezas (Imagem: NOAA/MBARI/Wikimedia Commons)

Nos montes marinhos da costa do Chile, biólogos identificaram o bicho-espaguete (Bathyphysa conifera), com ajuda do veículo subaquático operado remotamente (ROV) SuBastian. É um tipo de sifonóforo (invertebrados que lembram vagamente águas-vivas) e se parece com um amontoado de fios ou espaguetes brancos.

Outra descoberta surpreendente foi a do maior coral do mundo, que pertence à espécie Pavona clavus. Com  34 metros de largura, 32 metros de comprimento e 5,5 metros de altura, o megacoral do Pacífico pode ser visto do espaço. A estimativa é que tenha entre 300 a 500 anos de vida.

O ano do golfinho

Diferentes espécies foram estudadas ao longo de 2024, mas dá para considerar que este foi o ano do golfinho. Esses brincalhões nunca foram considerados tão espertos e, em certo sentido, “quase humanos” pela ciência, como agora. Há fortes evidências de que essas criaturas falam sozinhas, quando experimentam a solidão. De forma oposta, podem sorrir com seus companheiros, durante as brincadeiras. De fato, são muito mais inteligentes, ainda mais na hora de caçar.

Apesar dos sucessos, nem tudo foi festa para os golfinhos. Um time de biólogos descobriu que esses animais são expostos a quantidades consideráveis de fentanil, um tipo de analgésico 100 vezes mais potente que a morfina, nas águas do Golfo do México. Ainda não se sabe como o composto farmacêutico os impacta.

Comportamentos estranhos no fundo do mar

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”, diz um dos personagem das peças do inglês Shakespeare. Aqui, no fundo do mar, a máxima se aplica perfeitamente. Ninguém sabe o porquê, mas um drone aquático captou uma cena em que centenas de crustáceos foram vistos “andando” nas profundezas, como uma grande mancha vermelha, no Pacífico.

Tão grande que pode ser visto do espaço, o maior coral do mundo foi descoberto em 2024 (Imagem: Manu San Félix/National Geographic Pristine Seas)

Em outro vídeo surpreendente, centenas de tubarões-martelo foram filmados enquanto nadavam ao redor de um vulcão submarino. A migração em massa ocorre por causa dos sinais magnéticos emitidos naturalmente pela estrutura e captados pelas criaturas, mas o que fazem durante a reunião é um completo mistério. O “enxame” se forma próximo da Ilha Cocos, também no Pacífico. 

Avanços da medicina marinha

Com tanta biodiversidade escondida nos mares, é impossível não pensar que algumas descobertas terão impacto na medicina. Por exemplo, cientistas brasileiros identificaram o poder de algas marinhas, que crescem na costa do Ceará, no Atlântico, em potencializar o efeito de antibióticos. Ainda na luta contra as bactérias resistentes, novas descobertas de genes da zona crepuscular devem impulsionar o desenvolvimento de uma ampla gama de medicamentos.

Embarcações perdidas e achadas em alto mar

No começo deste ano, pesquisadores perderam um importante aliado no estudo das águas congelantes da Antártida,o submarino autônomo Ran. O veículo coletava dados sobre a plataforma de gelo Dotson, quando desapareceu misteriosamente e nunca mais retornou à superfície. Antes de se perder, teve tempo de revelar estruturas nunca antes vistas no gelo da região.

Apesar de algumas embarcações terem sido perdidas, outras foram achadas mesmo que mais de 80 anos depois. Foi isso que aconteceu com um submarino inglês da Segunda Guerra Mundial, que desapareceu em 1943, quando levava três membros da resistência grega para Kalamos. Muito possivelmente, o veículo naufragou após ter colidido com uma mina alemã.

Parte das dúvidas envolvendo a implosão do submarino Titan foi respondida neste ano (Imagem: DVIDS/US Coast Guard/Pelagic Research Services)

Neste ano, também pudemos descobrir melhor o que aconteceu durante a implosão do submarino Titan, que foi destruído enquanto levava um grupo de bilionários para conhecer os destroços do naufrágio do Titanic, no Atlântico. Segundo imagens inéditas dos destroços, os escombros foram encontrados dentro de uma área de 30 mil m².

Oceanos em transformação radical

Em oposição a esse tanto de riqueza encontrado nos oceanos, não se pode esquecer que essas águas estão em acelerado processo de transformação por causa da atividade humana e do aquecimento global. Em 2024, o aquecimento dos mares bateu recorde na história recente do planeta, o que ameaça os recifes de corais e o equilíbrio climático do planeta. Por causa disso, o nível de acidez está aumentando e até a cor das águas se modificam, quando se analisa imagens de satélite. Em alguns pontos, estão mais verdes do que deveriam ser.

De forma complementar, o gelo marinho está em acelerado processo de derretimento. Novamente, o impacto desse colossal montante de água irá afetar todo o planeta. Inicialmente, as cidades e regiões costeiras serão as mais atingidas, com o aumento do nível do mar, mas efeitos poderão ser sentidos também na dinâmica do clima, por exemplo. Diante deste cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta sobre a catástrofe iminente da elevação Pacífico, mas ainda é tempo de ação e o futuro não está perdido. Que venha 2025, com ainda mais descobertas e formas de proteção da biodiversidade marinha.

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