Astrônomos encontram mais um anel de rádio — e não sabem sua origem

Astrônomos liderados por Ray Norris, pesquisador da Universidade de West Sydney, descobriram mais uma emissão misteriosa no espaço. Chamado ORC J0219–0505, o sinal em questão é um anel de rádio com mais de 370 mil anos-luz de diâmetro identificado pelo radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul. Por enquanto, sua origem permanece um mistério. 

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Como o nome indica, a emissão em questão é um ORC (sigla de “Odd Radio Circle”, ou “Círculo Estranho de Rádio”, em tradução livre). Estes círculos estranhos foram observados pela primeira vez em 2019, e são tão grandes que podem alcançar 10 vezes o tamanho da nossa Via Láctea. 

O ORC J0219–0505 se estende por 371.600 anos-luz e parece estar relacionado a uma galáxia do tipo elíptica. Ainda não se sabe muito sobre ele, mas já está claro que esta emissão tem algumas características que o diferencia de outros ORCs — incluindo o fato de que parece ser mais fraco que os outros, e que aparenta estar levemente inclinado. 


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Representação do ORC J0219-0505 (Imagem: Reprodução/Ray Norris., et al/ arxiv (2024))

Segundo o autor, todos os ORCs conhecidos são bem similares, o que trouxe dúvidas aos cientistas: será que eles eram, de fato, parecidos, ou o aparentavam ser devido a algum viés nos métodos de detecção? “Este novo ORC nos diz que era realmente um efeito de seleção”, explicou. No caso, a luminosidade difusa deste ORC é consistente com aquela de outros com tamanho e brilho variados.

Norris comentou que a descoberta dos ORCs é completamente inesperada, já que a física não prevê a existência deles; portanto, eles são como lacunas no conhecimento que se tem do universo e dos processos da natureza. “Esperamos que eles nos digam algo novo sobre como as galáxias se formam e interagem”, acrescentou. 

Apesar de ainda não saberem exatamente como os ORCs se formam, os cientistas têm algumas suspeitas sobre suas origens. Por exemplo, é quase certo que as emissões de rádio por trás deles vêm da chamada radiação síncrotron, que ocorre quando ondas de choque aceleram elétrons e os deixa mais energéticos. 

Os astrônomos têm dois principais suspeitos para o fenômeno. “Um é que os círculos dos ORCs são causados por esferas de gás que se chocou, cercando uma galáxia”, disse. Portanto, o anel do ORC neste caso seria simplesmente a parte de uma esfera em expansão causada por uma onda de choque vinda de alguma colisão cósmica, talvez entre galáxias.

O fenômeno pode ter relação com colisões entre buracos negros (Imagem: Reprodução/NASA/Caltech/R. Hurt (IPAC))

A outra possibilidade é que os anéis sejam o resultado de uma onda de choque plana vinda de alguma outra fonte, que atravessou um dos lóbulos formados por um buraco negro supermassivo que estava se alimentando. Neste cenário, o plano da onda de choque teria se encontrado com a parte mais externa e esférica do lóbulo, formando um anel de elétrons acelerados e capazes de criar radiação síncroton. 

Já que ORC J0219–0505 é tão diferente dos demais descobertos, talvez ele possa indicar os cientistas qual é o modelo correto. “O desalinhamento entre o centro do anel e a galáxia hospedeira não é fácil de explicar no modelo de fusão de buracos negros supermassivos”, observou Norris. “Esse era meu modelo favorito, portanto não estou muito feliz com isso!”, disse. 

O artigo que descreve as descobertas foi publicado no repositório arXiv, sem revisão de pares. 

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Vídeo: 

 

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