Genoma dos percevejos é sequenciado para descobrir porque são tão resistentes

Pesquisadores conseguiram mapear, com quase nenhuma falha, o genoma de duas linhagens de percevejo para descobrir porque algumas cepas do minúsculo inseto são simplesmente imunes a inseticidas. Foram estudadas linhagens “normais” e uma linhagem super resistente, com até 20.000 vezes mais resistência ao veneno.

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Não há evidências de que os percevejos passem doenças aos humanos, mas suas mordidas podem causar erupções cutâneas e infecções de pele secundárias. Apesar de inseticidas como o já banido DDT terem quase apagado toda a população desses bichos nos anos 1960, eles ressurgiram das cinzas, com mutações para resistir a inseticidas.

Percevejos e sua resistência

Há, segundo os cientistas da Universidade de Hiroshima, que publicaram o estudo na revista científica Insects, duas maneiras pelas quais os percevejos se tornam resistentes. Uma é produzindo enzimas que detoxificam os inseticidas — uma resistência metabólica —, e outra envolve a criação de uma camada exterior mais grossa para bloquear produtos químicos (ou seja, resistência à penetração).


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Os percevejos não ameaçam os humanos com doenças diretamente, mas podem causar irritações e infecções na pele após mordidas (Imagem: Pilat666/Envato)
Os percevejos não ameaçam os humanos com doenças diretamente, mas podem causar irritações e infecções na pele após mordidas (Imagem: Pilat666/Envato)

Sem sequenciar o genoma completo dos insetos, não havia como notar especificamente quais mutações teriam sido responsáveis por tal resistência. Agora, o genoma de linhagens do percevejo de cama (Cimex lectularius) coletadas há 68 em campos da cidade de Isagaya, em Nagasaki, foi estudado, junto a uma super linhagem coletada no Hotel da Cidade de Hiroshima, em 2010. 

Os achados mostraram que os percevejos mais poderosos tinham 19.859 vezes mais resistência a piretroides, os inseticidas mais comuns em seu controle. Sequenciar os genomas não foi fácil — o trabalho, que se assemelha a um enorme quebra cabeça, pode incluir entre 160.000 e 160 bilhões de peças. Uma tecnologia de sequenciamento de longas cadeias de DNA foi essencial para o trabalho.

O genoma dos insetos chegou a ficar 97,8% completo, na linhagem comum, com valor de qualidade de 57,0, enquanto a linhagem super resistente teve o genoma 94,9% sequenciado, com 56,9 de valor de qualidade — esse número, quando passa de 30, significa que as sequências são de alta qualidade, com taxa de erro de detecção abaixo de 0,1%.

Sequenciar o genoma da espécie permitiu descobrir quais mutações levaram à incrível resistência a inseticidas, nos dando armas para combater a praga (Imagem: Freepik/Domínio Público)
Sequenciar o genoma da espécie permitiu descobrir quais mutações levaram à incrível resistência a inseticidas, nos dando armas para combater a praga (Imagem: Freepik/Domínio Público)

Com esses dados em mãos, foi possível identificar os genes que codificam proteínas específicas e suas funções. Foram descobertas diferenças entre 3.938 aminoácidos nas duas linhagens de percevejo, com 729 seções que sofreram mutações ligadas à resistência a inseticidas.

Os genes envolvidos têm relação com resposta a danos no DNA, regulação de ciclos celulares, metabolismo de insulina e funções lisossômicas. Assim, poderão ser traçadas novas estratégias para o controle de pestes, já que sabemos quais resistências os percevejos podem ter: técnicas parecidas poderão, no futuro, ser usadas no controle de outros insetos e animais prejudiciais a nós e ao ecossistema.

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