Musk endossa ultradireita alemã a dois meses da eleição

Após apoiar Donald Trump na eleição americana e abrir negociações para financiar populistas no Reino Unido, o bilionário Elon Musk voltou suas atenções para a próxima eleição federal da Alemanha, endossando o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD).

Na sua rede X, o bilionário escreveu nesta sexta-feira (20/12): “Só a AfD pode salvar a Alemanha”.

A mensagem foi imediatamente celebrada e reproduzida por líderes do partido, que é rotineiramente acusado de abrigar neonazistas e que tem vários diretórios estaduais classificados como “extremistas de direita” por serviços de inteligência, que monitoram de perto as atividades de seus membros.

Musk já havia deixado claro suas simpatias pela AfD no passado, ao interagir com políticos da sigla na rede X e questionar a vigilância policial sobre o partido. Agora, o endosso ocorre a dois meses da próxima eleição federal na Alemanha, na qual a AfD aparece com entre 18% e 20% das intenções de voto em pesquisas e com chances de formar a segunda maior bancada de deputados no Parlamento alemão (Bundestag).

O endosso de Musk foi publicado na forma de um comentário acima da reprodução de um vídeo de uma influencer de direita alemã chamada Naomi Seibt, de 24 anos. Ela se tornou conhecida em 2020 ao se apresentar como uma “anti-Greta Thunberg” e propagar nas redes discursos que negavam as mudanças climáticas. Ela também já publicou diversos elogios ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro em suas redes.

No vídeo comentado por Musk, Seibt se queixou da posição da conservadora União Democrata Cristã (CDU) – partido alemão que está na liderança das pesquisas – de refutar a possibilidade de formar uma aliança com a AfD e dividir o poder com os ultradireitistas em 2025. As críticas de Seibt foram diretamente dirigidas a Friedrich Merz, líder da CDU e candidato ao posto de chanceler federal, que nos últimos meses deu uma guinada mais à direita no seu partido, mas que continua a descartar trabalhar com a AfD.

Dessa forma, Musk, que vai ocupar um cargo de secretário de “eficiência governamental” no futuro governo Trump, não apenas manifestou apoio à AfD, mas também endossou às críticas a Merz, visto no momento na Alemanha como o favorito a assumir o posto de chanceler federal no ano que vem.

Em setembro do ano passado, quando as eleições ainda não estavam no radar, Musk já havia mostrado simpatia pela AfD ao comentar uma publicação que se queixava de operações de salvamento de imigrantes irregulares no Mediterrâneo. “Vamos esperar que a AfD ganhe as eleições e interrompa o suicídio europeu”, escreveu Musk na ocasião.

Em novembro, Musk também já havia chamado o atual chanceler federal, o social-democrata Olaf Scholz, de “tolo”.

AfD celebra apoio de Musk

A mensagem desta sexta-feira foi imediatamente celebrada pela AfD e membros do partido. Alice Weidel, colíder da sigla e candidata ao posto de chanceler federal, comentou sobre a publicação de Musk. “Sim, você tem toda a razão, Elon Musk! Dê uma olhada também na minha entrevista sobre o presidente Trump, como a socialista Merkel arruinou nosso país, como a União Europeia Soviética destrói a espinha dorsal econômica dos países e sobre o mau funcionamento da Alemanha!”

A deputada da AfD Beatrix von Storch, que em 2021 ganhou destaque por se encontrar com membros da família Bolsonaro no Brasil, também celebrou o endosso de Musk. “É isso mesmo! A Alemanha precisa da AfD assim como os EUA precisam de Trump e a Argentina precisa de Milei. Mais: toda democracia precisa de liberdade de expressão – X! É isso que está desmoronando na Alemanha”, escreveu a deputada na sua conta no X.

“Palavras claras do dono do Twitter (sic) : ‘Só a AfD pode salvar a Alemanha’, escreve Elon Musk num tuite. Milhões de pessoas já reconheceram isso há muito tempo – e o número está aumentando constantemente!”, publicou o perfil oficial da AfD na rede X.

Reações no meio político alemão

Questionado sobre o endosso de Musk, o chanceler federal alemão Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), adversário da AfD, se limitou a afirmar que “a liberdade de expressão também se aplica a multimilionários, mas isso também significa que é permitido dizer coisas que não são corretas e que não são um bom conselho político”.

Já outros políticos alemães foram mais diretos em criticar Musk, acusando o bilionário de “interferência”.

“Fiquei um pouco surpreso, porque geralmente ouvimos que Elon Musk é um prodígio talentoso, mas quando vejo esses comentários, tendo a duvidar disso”, disse o deputado federal Alexander Throm, da conservadora CDU, à DW.

“A mudança só pode ser feita por aqueles que governam. E o AfD não governará. Porque nenhum outro partido formará um governo com eles”, acrescentou.

A deputada Clara Bünger, do partido de Esquerda, disse à DW enxergar nos comentários de Musk uma “interferência” no processo eleitoral alemão, mas também apontou que o bilionário “realmente não sabe como as discussões políticas funcionam na Alemanha”.

Anton Hofreiter, deputado pelo Partido Verde, por sua vez, chamou os membros da AfD de “traidores comprados por bilionários” e “um bando de fascistas que não apenas foram comprados pelo [presidente russo Vladimir] Putin, mas que agora estão sendo apoiados por um multimilionário que se tornou extremista de direita”.

Por fim, Christian Lindner, líder do Partido Liberal-Democrático (FDP, na sigla em alemão), uma legenda que recentemente rompeu com o governo Scholz, criticou a AfD, mas estendeu a mão para Musk, dando a entender que seu partido é que deveria ser apoiado pelo bilionário.

“Embora o controle da migração seja crucial para a Alemanha, a AfD é contra a liberdade [e] os negócios – e é um partido extremista de direita”, escreveu Linder em uma publicação no X dirigida a Musk. “Não tire conclusões precipitadas de longe. Vamos nos encontrar, e eu lhe mostrarei o que o FDP representa.”

Musk no mundo em 2024

O endosso de Musk à AfD se soma a outros episódios registrados em 2024 no qual o bilionário de origem sul-africana se envolveu em questões políticas. Nos EUA, ele declarou abertamente seu apoio à eleição do republicano Donald Trump, na esteira da tentativa de assassinato em julho.

Musk acabou direcionando milhões de dólares para a campanha, chegando a liderar esforços locais para conquistar votos, especialmente no estado da Pensilvânia. Alguns desses esforços chegaram a levantar acusações de compra de votos.

O bilionário também se envolveu em disputar judiciais no Brasil, direcionando críticas ao Supremo Tribunal Federal. Também protagonizou embates como governo da Austrália, após as autoridades do país promoverem um projeto de lei para tentar coibir disseminação de desinformação em redes sociais.

Mais recentemente, Musk também voltou suas atenções ao Reino Unido, publicando críticas ao primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer. O bilionário também abriu negociações para direcionar valores ao partido populista de direita Reform UK, liderado por Nigel Farage, que se opõe a Starmer. Farage e Musk se encontraram nesta semana numa das propriedades de Trump na Flórida. O anúncio das negociações provocou alarme entre políticos britânicos, temerosos de que uma doação vultuosa de Musk para o Reform UK possa desequilibrar o jogo partidário, marcado por campanhas enxutas e baratas.

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