Jejum de dopamina funciona? Veja o que dizem médicos e especialistas

Não é raro ver circulando conteúdos que sugerem um “jejum de dopamina” para “resetar o cérebro” e abandonar o vício no celular. Mas será que essa “dieta” funciona? Veja o que dizem especialistas sobre a estratégia para resgatar o autocontrole e o domínio sobre o próprio tempo, muitas vezes desperdiçado rolando o feed sem parar.

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“Não tem nenhuma evidência de que isso funciona a longo prazo. De certa forma, acaba diminuindo a busca compulsiva pela gratificação instantânea”, explica Larissa Fonseca, psicóloga doutoranda pela Unifesp em Ansiedade, Depressão, Estresse, Sono e Sexualidade Feminina. 

Raphael Ribeiro Spera, neurologista especializado em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, lembra que, no mundo de hoje, as pessoas estão expostas o tempo todo a atividades que liberam dopamina.


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“Um jingle que lembra uma música do Queen, uma tela mostrando um show, uma notificação do celular… tudo isso libera dopamina. Isso é inédito para a espécie humana, ficar com essa liberação constante no seu cérebro”, afirma Spera, que também é membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Apesar de o “jejum de dopamina” ser uma interpretação errônea da neurociência, uma vez que ela se trata de um componente essencial para o funcionamento normal do cérebro e não tem como ser completamente interrompida, o médico diz que uma pausa pode ajudar o cérebro a se reestabelecer.

O que fazer, então?

Segundo Spera, quando há um estímulo muito constante, o cérebro reduz o número de receptores de dopamina e o indivíduo fica dessensibilizado. Um outro exemplo disso, de acordo com ele, é a cafeína. Quando há uma grande ingestão de bebidas com esse componente, há uma redução dos receptores cerebrais dessa substância. 

“Quando você faz o ‘jejum’, você vai estar se isolando dessa liberação desenfreada. E aí o cérebro retorna a uma fisiologia normal de liberação de dopamina. Mas isso demora um tempo, cerca de 21 dias, para reduzir o número de receptores e voltarem a produzir de maneira normal”, diz Spera. 

Outros vilões

Além da cafeína e do celular, existem outras fontes de altas dosagens de dopamina que também são muito prejudiciais. Entre elas, alimentos gordurosos/ricos em açúcar, jogos eletrônicos e compras online.

Ao diminuir esses estímulos, segundo Larissa, o cérebro pode se tornar mais sensível a prazeres simples e reais, como passar tempo com amigos ou praticar um hobby.

“Essa prática ajuda a ‘reajustar’ nossos hábitos e diminuir a necessidade de recompensas instantâneas, mas não se trata de um ‘reset cerebral’, e sim de uma mudança gradual de comportamento”, explica.

Leninha Wagner, psicóloga PhD em neurociência, diz ainda que quando exposto a recompensas frequentes, o cérebro eleva seu limiar de prazer, tornando atividades comuns menos satisfatórias, o que evidencia a necessidade de adotar novos hábitos para recalibrar o sistema.

“Saber dosar é o ideal. Não somos mais crianças, que não conseguem se distanciar de situações que não fazem bem”, conclui Larissa. 

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