Ilha de Shedao: a ilha chinesa com o maior número de cobras do mundo

A ilha com mais cobras venenosas nativas do mundo não é brasileira, mas, sim, chinesa. É a Ilha de Shedao, localizada a mais de 10 km da costa do gigante asiático. Cercado por pedras e penhascos, o local é densamente habitado por mais de 15 mil indivíduos da espécie conhecida como víbora-de-shedao (Gloydius shedaoensis).

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Com acesso restrito, a ilha das cobras chinesa tem como ponto mais próximo do continente a cidade de Dalian, na península de Liaodong. Para situar melhor, a perigosa ilha (para humanos) está localizada na região nordeste do país.

 

A víbora-de-shedao é uma excelente caçadora de aves e de pequenos roedores, que vivem (ou visitam) a ilha das cobras. Apesar do veneno, a espécie é pequena, medindo entre 65 a 70 cm quando adulta. É pouco ao comparar o padrão com a jararaca-da-mata (Bothrops jararaca), que pode atingir até 1,6 m na maioridade.


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Ilha com mais cobras venenosas do mundo?

“A Ilha Shedao é um local geograficamente único”, afirmam os pesquisadores da Universidade Médica de Dalian, em estudo publicado na revista The Anatomical Record. “Penhascos imponentes cercam quase completamente a ilha, tornando-a absolutamente remota”, acrescentam sobre a região.

Localizada na China, a Ilha Shedao é mais habitada por cobras venenosas nativas do mundo (Imagem: Shuqing et al., 2010/The Anatomical Record)

Segundo os autores, a população de víboras vive nas sombras de árvores, rachaduras no solo e ravinas (sulcos no solo formados pela erosão). Estas “se alimentam de pássaros migratórios e ratos que vivem na ilha”, complementam.

Para caçar, as cobras chinesas podem se pendurar nos galhos ou criar emboscadas entre as pedras no solo. De modo geral, “as víboras juvenis dependem principalmente de posições de emboscada arbóreas, enquanto os adultos usam locais arbóreos e terrestres”, afirma outro estudo sobre a espécie, publicado na revista Ethology

E a Ilha das Cobras no litoral de São Paulo?

Ilha de Shedao leva o verdadeiro título de ilha com mais cobras nativas no mundo por hectare, mas costuma existir bastante confusão em relação à Ilha da Queimada Grande, localizada no litoral do estado de São Paulo, entre as cidades de Itanhaém e de Peruíbe. No local, reinam as serpentes da espécie jararaca-ilhoa (Bothrops insularis).

A estimativa é de que a ilha das cobras brasileira seja habitada por 2 a 3 mil serpentes. No entanto, “sabemos que existe pelo menos uma ilha, a ilha de Shandong, na China, em que você tem ali 15 mil cobras”, explica Otávio Marques, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, para o Canaltech.

Isso significa que a ilha chinesa conta, em média, com 200 cobras por hectare. A prevalência é quatro vezes maior que a taxa de ocupação identificada na Ilha da Queimada Grande. “Possivelmente, a densidade populacional da ilha da Queimada Grande é a segunda no mundo, então, a ilha da China é a primeira”, pontua o pesquisador. 

Vale observar que o ranking de ilhas mais habitadas por cobras nativas pode eventualmente ser reformulado com a descoberta de locais inóspitos do globo densamente habitados por serpentes.

Veneno da víbora-de-shedao

Hoje, a ilha das cobras chinesas tem acesso controlado, mas nem sempre foi assim. A região somente foi definida como uma reserva natural nos anos 1980, o que facilitou a preservação desta espécie única e exclusiva de víboras (elas não existem naturalmente em nenhum outro lugar fora da ilha). 

A ilha das cobras chinesa é densamente povoada pela espécie conhecida como víbora-de-shedao (Imagem: Shine et al., 2002/Ethology)

Antes disso, a víbora-de-shedao enfrentava a ameaça constante da perda de habitat e da caça por causa de seu veneno. As comunidades locais consideram que as toxinas presentes têm aplicações medicinais (como é o caso de outros venenos), o que impulsionava a captura dos animais para a produção de fórmulas e compostos supostamente benéficos para a saúde. 

A busca pelo elixir ocorria mesmo com o potente veneno da serpente, que causa bastante dor, como conta Wang Xiaoping, chefe do departamento de pesquisa científica da reserva natural SILMNNR.

“No começo, parecia que tinha sido picado apenas por uma agulha, não senti nada demais. Duas horas depois, quando cheguei ao hospital, meu braço estava inchado, [e o inchaço estava] se espalhando até a cintura”, detalha Wang para o jornal China Daily. “Nunca senti nada tão doloroso, o tipo de dor que faz você querer cortar seu braço fora”, completa. No caso das aves, a picada costuma ser precisa e rapidamente fatal.

Curiosidade: o número total de cobras na Ilha de Guam, que pertencem aos EUA, supera o número de indivíduos na Ilha de Shedao. Entretanto, é necessário observar que as cobras desta ilha são exóticas (ou seja, foram introduzidas de forma irregular no território povoado por humanos e se reproduzem sem controle) e a concentração não é a mesma por hectare (densidade). 

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