Nosferatu: releitura com Lily-Rose Depp evoca moda gótica no figurino

Os filmes do cineasta estadunidense Robert Eggers são conhecidos pelo cuidado meticuloso com os detalhes. Com Nosferatu, releitura do clássico de 1922, não é diferente. O horror de época, ambientado em uma cidade alemã fictícia no ano de 1838, é marcado por uma atmosfera gótica que se estende para o figurino, assinado por Linda Muir. A artista é colaboradora de longa data de Eggers e detalhou a criação das roupas em entrevistas à imprensa internacional.

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Atriz Lily-Rose Depp em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Em Nosferatu (2024), Ellen Hutter (Lily-Rose Depp) cresceu atormentada por convulsões e pesadelos com uma figura sombria. A trama se desenrola quando o marido da personagem, Thomas Hutter (Nicholas Hoult), viaja para selar uma proposta profissional, sem saber os horrores que enfrentará

Ponto de partida

Segundo Linda Muir, Roberts Eggers tem uma visão clara no início de cada projeto. Tudo começa com uma longa pesquisa, incorporada ao roteiro, e um lookbook, que serve como ponto de partida. Para Nosferatu, a partir das informações e referências visuais apresentadas pelo diretor, a figurinista estudou peças vintage e livros de materiais têxteis alemães do início do século 19, com apoio de pinturas, ilustrações de moda e textos – naquele período, a fotografia ainda estava começando.

As peças do figurino foram feitas especificamente para o filme, de acordo com a artista. Cada detalhe de roupas, acessórios e calçados foi pensado segundo a realidade daquele período, além de fatores práticos do set. Muir analisou, por exemplo, como os tecidos reagiam à pouca iluminação dos cenários, marcados por velas, fogo e muitas sombras. Uma das fontes de consulta foi um diário de moda de 1838, ano em que a trama se ambienta.

Atriz Lily-Rose Depp em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Pinturas, ilustrações de moda e textos de época foram usados como referências para construir os visuais da versão de Robert Eggers para Nosferatu

 

Ator Nicholas Hoult em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
A trama é ambientada em 1838, principalmente em uma cidade fictícia da Alemanha

 

Ator Willem Dafoe em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Grande parte das cenas do filme têm pouca iluminação, normalmente com velas e fogo, e o figurino precisava conversar com essa peculiaridade

 

Ator Nicholas Hoult em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Um dos materiais de referência foi um diário de moda do ano de 1838

 

Vestidos e alfaiataria

Além das referências mais diretas, como materiais, estampas e silhuetas, há mensagens comunicadas de forma sutil, como as diferenças entre as roupas de Ellen Hutter (Lily-Rose Depp) e Anna Harding (Emma Corrin). Enquanto a protagonista, de classe média, tem recursos limitados e poucas roupas, Anna vem de uma família rica e está sempre com looks diferentes. A joias de Ellen são de prata, enquanto as de Anna são douradas e pesadas. Linda Muir buscou cores claras e tecidos reluzentes para os looks femininos.

Os impulsos sexuais de Ellen também são contados com auxílio do figurino, como os corsets de contenção usados para amarrar a personagem à cama, ou o corpete feito com uma costura estratégica para facilitar que Depp o rasgasse durante uma das cenas.

Já no vestuário masculino, Muir precisou traduzir um período em que a alfaiataria não era padronizada. Naquela época, cada profissional fabricava as peças do próprio jeito. Um artesão especializado somente em casacos poderia não ser o melhor em camisaria, por exemplo. Até aqui, alguns aspectos sutis ajudam a comunicar a realidade de cada personagem. Quanto mais tecido usado em uma única peça, por exemplo, maior o poder aquisitivo.

Atrizes Lily-Rose Depp e Emma Corrin em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Ellen (Lily-Rose Depp) e Anna (Emma Corrin), apesar de compartilharem de um gosto similar, tinham diferenças nos visuais de acordo com os recursos de cada uma

 

Atores Nicholas Hoult e Aaron Taylor Johnson em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Segundo a figurinista, naquele período, não havia tantos padrões para a alfaiataria, detalhe que reflete nos visuais masculinos do longa

 

Ator Willem Dafoe em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
A releitura de Eggers é repleta de detalhes visuais, como os trabalhos anteriores do diretor

 

Ator Nicholas Hoult em cena do filme Nosferatu, dirigido por Robert Eggers - Metrópoles
Uma atmosfera gótica paira por todo o filme

Conde Orlok

O visual mais diferenciado, e um dos mais importantes, é o do antagonista, Conde Orlok (Bill Skarsgård). O personagem é três séculos mais velho do que os demais, e isso precisava transparecer nas vestes. Tecidos luxuosos, pesados e caros de centenas de anos atrás, típicos dos condes ilustrados em pinturas, agora vestiam um vampiro decadente e quase adoecido.

Além de parecer envelhecidas, as peças de Orlok, para manter o mistério, precisavam esconder as feições quase decompostas do personagem, como a capa de pele e as botas de couro utilizados pelo vilão na cena em que Thomas Hutter (Nicholas Hoult) o encontra no castelo. Por conta do peso, o casaco precisou de um arnês embutido para facilitar a performance de Bill Skarsgård.

Assim como outros profissionais de artesanato de trabalhos anteriores, Linda Muir assinou o figurino dos outros três longas-metragens de Robert Eggers: A Bruxa (2015), O Farol (2019) e O Homem do Norte (2022). A releitura de Nosferatu era um desejo antigo do diretor. No ensino médio, ele chegou a dirigir uma peça de teatro baseada no clássico do cinema que, por sua vez, é inspirado no romance Drácula, de Bram Stoker.

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