PCC usava ONG de fachada para orquestrar manifestações, diz polícia

São Paulo — Investigação da Polícia Civil do estado em parceria com o Ministério Público aponta que o Primeiro Comando da Capital (PCC) utilizava a ONG Partido do Sistema Carcerário (PSC) para orquestrar manifestações populares, simulando episódios de violência prisional. Nesta terça-feira (14/1), 12 pessoas foram presas em operação deflagrada contra o esquema.

Entre elas, Luciene Neves Ferreira e Geraldo Sales, presidentes da ONG. Também foram alvos da operação advogados que integravam a Sintonia dos Gravatas do PCC e integrantes encarcerados da facção.

O delegado Edmar Rogério Dias Caparroz, do Deinter 8, afirma que a investigação descobriu um novo setor do PCC: o “Setor das Reivindicações”. O departamento da facção foi descoberto a partir de um manuscrito apreendido em novembro de 2023 dando ordens para uma manifestação que ocorreria no mês seguinte.

O documento, segundo o delegado, orientava presos a simularem episódios de violência prisional e falava em ataques a agentes públicos.

“Nesse manuscrito, o contexto trazia um orquestramento de manifestações que deveriam ocorrer em todo o país. E no âmbito nas manifestações esse manuscrito sugeria para que os presos simulassem torturas e inclusive sugeria a morte de agentes públicos”, afirma o delegado.

A manifestação de 2023 teria ocorrido em 13 de dezembro. No dia anterior, diz o delegado, faixas que seriam usadas no ato teriam sido apreendidas em um endereço com armas e munições.

“Nas vésperas dessa manifestação, em 12 de dezembro de 2023, tomamos conhecimento da apreensão, durante buscas em São José dos Campos, interior de São Paulo, de duas pessoas que armazenavam no imóvel armas, coletes, rádios comunicadores e para a nossa surpresa as faixas que seriam usadas nas manifestações”, diz Caparroz.

A investigação teve início em setembro de 2021, quando uma mulher foi pega tentando entrar na Penitenciária I de Presidente Venceslau com um cartão de memória que continha arquivos com pastas do setor de saúde do PCC e diversos materiais relativos à ONG.

A partir disso, a polícia descobriu que a entidade arregimentava médicos e dentistas para realizar tratamentos de saúde e estéticos para alguns dos maiores criminosos do estado. Muitas vezes, a partir de laudos médicos falsos.

Com a quebra de sigilo da ONG, a polícia teria descoberto que a entidade, criada em 2019, não arrecadava recursos públicos ou privados, e que todo seu custeio seria feito pelo PCC.

“O que a investigação aponta é que esse plano de saúde, embora funcione no âmbito da organização criminosa, ele não está disponível para todos. Ele é somente acessível a uma fatia privilegiada”, diz Edmar Caparroz.

Segundo ele, entre os integrantes do PCC que teriam se beneficiado estão lideranças como Andinho, Gegê do Mangue e Neblina.

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