Trump é símbolo maior de onda de ascensão da direita no mundo

Donald Trump, um dos principais representantes da extrema direita mundial, venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2024 de forma confortável, fortalecendo ainda mais o cenário político de governos de direita no mundo. Para entender o cenário mundial da extrema direita, o Metrópoles entrevistou Cristina Pecequilo,  professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“É uma sinalização de que é preciso realmente estar atento, porque, mais uma vez, o balanço do eleitorado tem favorecido esses líderes de extrema direita. Simbolicamente, Trump é a grande figura desse movimento e se coloca como o maior representante da extrema direita. Então, obviamente, sua vitória energiza as bases da extrema direita global”, diz a professora.

Atualmente, vemos um cenário preponderante da extrema direita pelo mundo com EUA, Argentina, Paraguai, Peru, Equador, Croácia, República Tcheca, Finlândia, Hungria, Itália, Holanda e  Eslováquia com líderes de extrema direita no poder. Diante disso, a professora explica que esse cenário é o reflexo da desconexão das pautas progressistas com a realidade.

“A questão do crescimento da votação da extrema direita e também dos partidos de centro é atribuída a uma desconexão das pautas progressistas, muitas vezes, com a realidade.  Nós temos uma adaptação maior desses grupos de direita e extrema direita a responder à crise econômica e a questões de segurança pública, temas que muitas vezes não são tratados pelas forças progressistas”, esclarece a professora.

Cristina Pecequilo destaca que os líderes da extrema direita também estão ganhando destaque, porque “acabam abrindo espaço para novas discussões”. Mas, acrescenta ela, eles também estão “limpando um pouco a imagem ao buscarem não exagerar muito, ainda que sejam muitas vezes discursos bastante radicais, muito nacionalistas e muitas vezes xenofóbicos”. De toda forma, a professora destaca que tais nomes também buscam ser mais pragmáticos, respondendo àquilo que o eleitor está buscando.

A professora da Unifesp afirma que outro fator relevante para o crescimento da direita no mundo é “a falta de pertencimento que as pessoas sentem, a desconexão de algumas pautas com as demandas do eleitorado e são pautas super importantes como a valorização da democracia, meio ambiente”, que são mais comuns à esquerda. Daí, o discurso da extrema direita, com nacionalismo e xenofobia, acaba dando resposta mais direta às situações de baixo salário, miséria social e falta de segurança pública.

Vitória de Donald Trump

Donald Trump teve uma vitória bastante confortável nos EUA ao levar 312 dos 538 delegados e receber 49.8% do voto popular, demonstrando mais uma vez a força da direita no mundo. Que, segundo a internacionalista, é resultado da preocupação economica dos eleitores.

“A vitória do Trump foi conquistada, apesar de todos os seus problemas com a justiça, da sua desvalorização da democracia e isso foi atribuído justamente à maior preocupação do eleitor com os temas econômicos”, diz Cristina.

A professora ainda destaca que muitas minorias que tradicionalmente votavam nos democratas acabaram votando no Trump. E isso teria ocorrido para tentar recuperar o poder de compra. Outro ponto importante seria a segurança pública, além de questões correlatas, como combate ao tráfico de drogas e combate à imigração ilegal.

“Quando Trump ganha, obviamente isso traz uma revitalização para os movimentos radicais da direita que se sentiam às vezes colocados em compasso de espera. Mas, de novo, ninguém ganha somente com um discurso de radicalização e essa base radical. Nem mesmo Trump ganhou assim, ele ganha com a classe média e justamente com esse eleitor desencantado”, destaca a professora.

Extrema direita na América Latina

Atualmente, na América Latina, Argentina, Paraguai, Peru e Equador estão sendo governados por governos de extrema direita. E o Brasil, há pouco, estava dentre esses nomes sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A professora Cristina destaca que o principal fator para que isso ocorra é a desconexão do eleitor com o discurso da esquerda.

“A perspectiva da esquerda e da direita na América Latina é baseada na desconexão do eleitor aos partidos políticos. Pois o eleitor vai para o partido que atende suas demandas, seja partido de direita ou de esquerda”, pondera a professora. Ou seja, o eleitor não se identifica tanto por ideologias e está mais preocupado com questões práticas.

Cristina Pecequilo ressalta que é “necessário que todas as forças políticas estejam atentas, principalmente às demandas econômicas do eleitorado”. Mas ela destaca, ainda, outros fatores de crescimento da extrema direita, como religião, conservadorismo e costumes.

“O que assusta hoje na América Latina é o tamanho do avanço dessa extrema direita, porque ela cresce pelas beiradas com a crise econômica, mas aproveita para criar condições de ameaça a direitos e aos próprios regimes democráticos”, destaca a especialista.

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