Ciência descobre como baleias cantam — e como as atrapalhamos nisso

Graças a estudos de baleias encalhadas, cientistas descobriram como são produzidas as canções desses animais, revelando o funcionamento de sua laringe e como a evolução providenciou uma forma de comunicação de longa distância aos enormes mamíferos marinhos.

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O subgrupo em questão é o das baleias-de-barbatana, ou misticetos, que se alimentam através de um filtro de queratina que mantém a comida dentro da boca, permitindo a expulsão da água. A descoberta dos sons e canções produzidas pelas baleias ocorreu há pouco mais de 50 anos, e, até agora, a ciência não sabia como funciona o processo biológico.

A evolução da fala nas baleias

O estudo foi conduzido por cientistas vocais das Universidades do Sul da Dinamarca e de Viena, que lembram que tanto os grupos cetáceos misticetos quanto odontocetos (com dentes) evoluíram de mamíferos terrestres que tinham uma laringe multifunção. Além de produzir sons, o órgão ainda protegia as vias aéreas.


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A barbatana dos cetáceos misticetos é uma espécie de filtro de queratina que expulsa a água e deixa o alimento dentro da boca das baleias (Imagem: bobwright/PxHere)
A barbatana dos cetáceos misticetos é uma espécie de filtro de queratina que expulsa a água e deixa o alimento dentro da boca das baleias (Imagem: bobwright/PxHere)

Quando os animais passaram a viver completamente na água, tornou-se necessária uma nova laringe que evitasse o afogamento submarino. Segundo a análise dos cientistas, as baleias modernas conseguem produzir sons com sua laringe, mas também evoluíram novas estruturas para fazê-lo.

As pequenas cartilagens também presentes na nossa laringe, chamadas aritenoides e servindo para mudar a posição das pregas vocais, mudaram bastante nesses mamíferos. Nos cetáceos, as aritenoides se tornaram cilindros grandes e longos que se juntam na base, formando um enorme “U” rígido que tem quase o tamanho de toda a laringe.

Isso, segundo a análise, seria um modo de ter uma abertura aérea rígida na hora da respiração explosiva na superfície. Descobriu-se, especialmente, que a estrutura é pressionada contra uma enorme “almofada” de gordura no interior da laringe — quando o ar é expulso para além dessa parte macia, uma vibração se inicia, gerando sons de baixa frequência debaixo d’água.

Apesar de serem eventos infelizes para as baleias, os encalhamentos são oportunidades únicas para estudar sua fisiologia, incluindo a laringe (Imagem: WikimediaImages/Pixabay)
Apesar de serem eventos infelizes para as baleias, os encalhamentos são oportunidades únicas para estudar sua fisiologia, incluindo a laringe (Imagem: WikimediaImages/Pixabay)

Quando baleias encalham e falecem, é gerada uma oportunidade única de estudo, mas sua fisiologia ainda é difícil de se avaliar, já que o tecido apodrece muito rápido. Além disso, baleias costumam explodir por conta dos gases da putrefação. Graças a instituições dinamarquesas e escocesas que registram encalhamentos, foi possível extrair rapidamente a laringe de uma baleia-sei, uma baleia-de-minke e uma baleia-jubarte para estudo laboratorial.

Interferência humana

Um modelo computacional de uma laringe de baleia foi construído, o que permitiu entender o funcionamento dos músculos e cartilagens em 3D, simulando o controle da frequência a partir de movimentos musculares. Agora, sabemos como a anatomia das baleias faz com que consigam se comunicar no ambiente submarino.

Os cientistas também descobriram o limite fisiológico de muitas baleias-de-barbatana, indicando que elas não conseguem escapar da interferência acústica humana — seus sons são abafados pelos navios com hélices, perfurações submarinas e armas sísmicas, e elas não conseguem “cantar” em outras frequências.

Sua voz acaba tendo um alcance bastante limitado, já que converge totalmente com os sons humanos em seu limite de profundidade para comunicação — 100 m. O estudo é finalizado com um pedido de regulação dos sons submarinos produzidos por nós, cada vez mais presentes nos oceanos. Estamos atrapalhando muito a vida das baleias, e isso pode acabar acelerando a extinção de diversas espécies.

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