Análise: o que Melania Trump pode ter comunicado com o look da posse?

Um casaco azul-marinho sobre uma camisa branca de gola alta, um chapéu redondo de abas largas com uma faixa branca e sapatos de salto, tudo na mesma cor. As escolhas de Melania Trump para o look da posse presidencial do marido, Donald Trump, deram o que falar e fizeram o público especular o que significa cada elemento do visual. A seguir, a coluna destrincha os detalhes da roupa e dos acessórios, com análise da consultora de branding e imagem política Deniza Gurgel.

Vem entender mais:

  • Na última segunda-feira (20/1), Donald Trump assumiu seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, quatro anos após encerrar o primeiro, quando o adversário Joe Biden ocupou o cargo.
  • Para a cerimônia, pela manhã, a agora primeira-dama, Melania Trump, vestiu um look clássico, minimalista e feito sob medida, em azul-marinho, do estilista nova-iorquino Adam Lippes.
  • Mesmo usando grifes europeias com mais frequência, ela escolheu um designer estadunidense para a posse, como na anterior, quando vestiu Ralph Lauren.
  • Apesar de receber elogios pela elegância, o visual também recebeu críticas – e memes – pelo tom sério e até enigmático das escolhas. A maquiagem discreta e a ausência de acessórios, com brincos pequenos, também chamou atenção.
  • Entre os comentários, repletos de especulações sobre o simbolismo de cada elemento, o público questionou o significado do chapéu, cuja aba e a sombra projetada cobriam os olhos de Melania em grande parte do tempo.
  • Em determinado momento, Donald Trump tentou beijar o rosto da esposa, mas não conseguiu alcançar a bochecha, devido à aba do acessório de cabeça, desenhado pelo designer Eric Javits.
Melania Trump na posse presidencial de Donald Trump - Metrópoles
Para a posse de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos, Melania Trump usou este visual enigmático que dividiu opiniões. Para parte das pessoas, elegante. Para outras, “pesado” e até caricato

Referência militar

Não é novidade que Melania Trump – cujo styling fica sob os cuidados do designer de moda franco-americano Hervé Pierre, ex-diretor criativo da grife Carolina Herrera – mantém um perfil reservado e gosta de um estilo atemporal e discreto. No entanto, devido à relevância da posse presidencial estadunidense, a possível simbologia do look escolhido por ela foi motivo de análises, como tradicionalmente ocorre.

“Pensando tecnicamente nos códigos de vestimenta previstos para um tipo de cerimônia como a posse presidencial dos Estados Unidos, ela estava mais do que adequada”, argumenta Deniza Gurgel. “Ao mesmo tempo, transmitia uma imagem de muito distanciamento, o que pode não ser muito bom quando estamos falando de uma primeira-dama, da qual as pessoas tendem a gostar de se sentir próximas e admirar.”

A especialista explica que a modelagem e a cor vestidas por Melania remetem a uniformes femininos das décadas de 1950 e 1960, das mulheres que serviam à Força Aérea. Inclusive, não é a primeira vez que ela escolhe um look com aspecto militar. “Quando você vê a roupa que ela usou à noite, é uma outra linguagem. Se no evento público, ela trouxe muitos elementos de distanciamento, no evento privado, onde não teria contato com o público, ela estava com uma roupa bem feminina, com os cabelos soltos”, continua.

Donald e Melania Trump no Commander-in-Chief Ball - Metrópoles
Para as celebrações à noite, no mesmo dia, o visual escolhido pela primeira-dama foi este, mais festivo e ousado

Simbolismo do chapéu

O chapéu, como explica a consultora de imagem política, não é tão utilizado por mulheres em solenidades nas Américas, diferentemente da cultura inglesa. O fato de as abas taparem os olhos e as expressões contribuiu para a sensação de distanciamento. “Naturalmente, foi usado pela oposição para reforçar a ideia de que ela não se importava com as pessoas e que ela não queria vê-las. Recuperaram, inclusive, aquela foto de um momento em que ela usou uma parka escrito ‘I really don’t care’”, analisa Gurgel.

Visto de frente, o chapéu tem linhas retas, assim como o resto do visual, o que contribui para o aspecto de poder, autoridade e status. “Antigamente, creditava-se que os homens eram mais inteligentes e superiores às mulheres, porque os crânios deles eram maiores. Então, eles faziam questão de fazer chapéus grandes para eles, para reforçar essa diferença de lugar entre os dois na sociedade”, observa. Durante o Movimento Sufragista, como explica a especialista, as mulheres usavam chapéus maiores, trazendo uma provocação a essa ideia.

Melania Trump na posse presidencial de Donald Trump - Metrópoles
Com abas largas, o acessório escondia os olhos de Melania, a depender do ângulo

Apelo discreto

Outra análise possível, na visão de Gurgel, seria Melania não gostar do status de primeira-dama. “Questiono muito se, quando ela casou com Trump, um empresário que resolve virar presidente, a vida dela muda completamente. Por mais que possa ser dada essa interpretação de não se importar com as pessoas, é possível pensarmos nessa outra situação, de deixar claro que ela detesta estar nessa posição”, indaga a especialista, da Quartzo Comunicação Estratégica.

Faz um bom tempo desde a última vez em que uma primeira-dama havia usado chapéu para assistir ao juramento do marido como presidente dos Estados Unidos. A segunda metade do século passado tem alguns exemplos, como Hillary Clinton (em 1993) e Jackie Kennedy (1961), entre outras.

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