Suplemento de fibras pode combater problemas intestinais crônicos

A Organização Mundial de Gastroenterologia estima que 20% da população adulta mundial sofra de problemas intestinais crônicos, sejam relacionados à diarreia ou a prisão de ventre. Entretanto, estudos recentes revelam que suplementos de fibras poderiam diminuir drasticamente a manifestação dos transtornos.

Os distúrbios intestinais não são só incômodos: eles comprometem a saúde e a qualidade de vida do paciente. Tanto o ressecamento das fezes como a sua expulsão frequente em forma líquida podem favorecer a formação de feridas na mucosa intestinal e de fissuras no ânus, além de estarem muito associados à incontinência fecal.

O suplemento de fibras pode ser uma solução?

Para reverter este quadro, um reforço na ingestão de fibras pode ajudar. É isso que aponta uma pesquisa conduzida pelo coloproctologista Ilário Froehner Júnior, do Hospital São Marcelino Champagnat, de Curitiba (PR).

Publicada na revista científica Gastroenterology em maio de 2024, a pesquisa reuniu 776 pacientes com problemas intestinais de três tipos: constipação, diarreia ou síndrome do intestino irritável (diagnóstico que combina características tanto do intestino preso como solto).

Ao incluir a goma guar parcialmente hidrolisada (GGPH) na alimentação dos participantes, 97,1% passaram a apresentar um ritmo fecal normal, defecando no intervalo entre três vezes ao dia e uma vez a cada três dias. Isso ocorre pela espécie de película protetora que as fibras criam no intestino, processo chamado de gelificação.

“Há casos de pacientes que nem comendo tudo bem certinho conseguiam ter controle do intestino e conseguiram isso apenas ao melhorar a ingestão de fibras. No nosso estudo, trabalhamos com pacientes que, por vezes, tomavam 26 medicamentos diferentes, então não era possível recorrer a um remédio pelo risco das interações. Além disso, estávamos lidando com pacientes com comprometimentos graves: uma delas ia ao banheiro 46 vezes por dia. Mesmo nestes casos, só a ingestão de fibras já melhorou a percepção da qualidade de vida em mais da metade”, indica o especialista.

Em uma análise mais detalhada sobre a consistência fecal, feita com 310 pacientes, se observou uma melhora na qualidade de vida dos pacientes em 63% com apenas quatro semanas de uso e 71% passaram a ter um padrão normal de textura de fezes.

Foto de um homem com dor pressionando com a mão a região do intestino
Alguns pacientes pasticipantes da pesquisa tinham problemas tão graves de intestino que chegavam a defecar 46 vezes por dia

Como avaliar a consistência fecal?

O padrão ideal de fezes é que elas tenham uma textura semelhante à da pasta de dente, nem muito ressecada, nem líquida, diz Froehner Júnior.

Fezes duras costumam ser divididas em pequenos bloquinhos e sugerem a necessidade de hidratação e aumento da ingestão de fibras solúveis. Por isso, no protocolo do estudo, pessoas com constipação receberam as fibras solúveis dissolvidas em mais água (300 ml) na dose diária.

Para quadros de fezes amolecidas, a orientação foi reduzir a quantidade de líquido na mistura. Por isso as fibras eram diluídas em pequenas quantidades de água, apenas 50 ml, para levar a uma maior gelificação das paredes intestinais e, consequentemente, uma melhor absorção dos líquidos das fezes.

Entre os 310 pacientes analisados, 71,7% atingiram padrão normal. As fezes se mantiveram em consistência líquida em 12,4% dos pacientes, e ressecadas em 15,9%.

No grupo que seguiu a orientação de forma irregular, 23,7% atingiram a consistência ideal, enquanto 52,5% mantiveram fezes ressecadas e 23,7% continuaram com fezes amolecidas.

Consumo adequado de fibras na rotina

Segundo a nutricionista Cris Ribas Esperança, de São Paulo, a ingestão diária ideal de fibras de um adulto deve ficar em 30 gramas. O número parece baixo, mas é difícil de ser alcançado: mesmo frutas ricas no nutriente precisam ser ingeridas em grandes quantidades para alcançar a meta.

São necessárias, por exemplo, quase quatro goiabas vermelhas em um dia para chegar às 30 gramas de fibra. Por isso, cada vez mais pessoas têm optado por suplementá-las.

Froehner Júnior destaca a suplementação como uma alternativa eficaz, especialmente em casos onde a dieta equilibrada não é suficiente para suprir a necessidade. “O ideal é manter uma alimentação saudável, mas a dieta regrada nem sempre é fácil de seguir e os tratamentos acabam tendo maior adesão quando se adiciona o suplemento do que com a mudança na alimentação,” explica o especialista.

Imagem mostra várias frutas e legumes ricos em fibras em um fundo amarelo - Metrópoles
Alimentos ricos em fibras são cruciais para dietas saudáveis

Alternativas à goma guar

Na pesquisa foi utilizada a goma guar, que é obtida de plantas nativas da Índia e muito usada na indústria de alimentos como espessante e estabilizante de cremes e sorvetes.

Não é apenas a goma guar que pode ser usada para aumentar a ingestão de fibras. Alternativas como psyllium e farelo de trigo também são eficazes, mas possuem sabores marcantes que podem dificultar a adesão a longo prazo.

Cris lembra que as fibras também podem ser obtidas na alimentação. Entre os ingredientes ricos no nutriente estão:

  • Feijão preto, rico em fibras insolúveis que favorecem o trânsito intestinal;
  • Lentilhas, que além da fibra, fornecem proteínas vegetais;
  • Abacate, fonte de fibras solúveis que auxiliam na digestão;
  • Sementes de chia, que formam um gel no intestino e regulam o funcionamento digestivo;
  • Peras, que contém fibras solúveis e insolúveis para equilíbrio intestinal;
  • Quinoa, um grão nutritivo que promove saciedade.

Cuidados com o excesso de fibras

Além disso, não se deve fazer um aumento súbito da ingestão de fibras sem recomendação médica. O acréscimo do nutriente deve ser feito gradualmente, acompanhado de uma hidratação adequada. A deficiência de líquidos em uma dieta rica em fibras pode intensificar a constipação e causar desconforto abdominal ainda mais intenso.

“Um aumento repentino na ingestão pode levar a desconforto digestivo, como inchaço, gases e cólicas abdominais. Ouvir seu corpo e ajustar a ingestão de fibras gradualmente enquanto monitora os sintomas é a chave para maximizar os benefícios da fibra para a saúde sem desconforto”, conclui Cris.

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