São Paulo 471 anos: histórias da cidade mostram que existe amor em SP

São Paulo – “Existe muito amor na cidade, sim. Sempre existiu e sempre vai existir”, disse o músico Criolo ao Metrópoles, em uma quinta-feira de janeiro de 2025. Não, você não leu errado. O autor de “Não Existe Amor em SP” acredita, sim, que há amor na maior cidade do país. Ele explica: “Porque eu acredito que a cidade não existiria sem as pessoas”.

“O que salva a cidade de São Paulo são as pessoas que habitam a cidade de São Paulo. São as pessoas que fazem com que a gente se apaixone”, diz o rapper.

No aniversário de 471 anos da capital paulista, o Metrópoles conversou com moradores em busca de histórias de amor em São Paulo. Para todos os entrevistados, a reportagem perguntou: Afinal, existe amor em SP? – em referência à música lançada em 2011 e que se tornou um hino da cidade.

Uma cidade “para todos”

Criolo aceitou o convite para participar da reportagem e respondeu à mesma pergunta feita aos outros entrevistados.

O cantor se disse apaixonado pela cidade, um lugar que chamou de “incrível”, e com “um tanto de cada cantinho do Brasil”. Mas também disse que a cidade produz “desamor”, quando desconstrói a dignidade das pessoas que vivem nela.

Foto colorida de Criolo - Metrópoles
Criolo

“Quando o interesse passa por cima de assuntos, quando uma família de determinado bairro, com determinada história, não tem direito à dignidade, aí é um desamor profundo.”

“A gente pode ficar falando de tanta coisa linda, incrível, de tantos avanços tecnológicos na área da saúde, na área de mobilidade, de segurança, mas, se não é para todos, qual a razão disso? Então, uma cidade do tamanho de São Paulo ou uma cidade do tamanho de um quarteirão, se não é pensado para todo mundo, esse desamor vai acontecer”, diz Criolo.

Leia a entrevista completa com Criolo aqui.

Forró e lambe-lambe

Nas ruas e nas redes, o Metrópoles ouviu as mais diferentes opiniões sobre o amor em São Paulo. Teve gente que não titubeou em dizer que sim, ele existe. Como a vendedora de churrasco de Paraisópolis Neide Melo.

“Se eu não estivesse aqui não tinha conhecido meu marido, não tinha minhas duas filhas”, diz Neide. O casal, ela pernambucana, ele paraibano, se conheceu em um forró. Hoje, tem duas filhas, uma delas recém-nascida. Neide e o marido, José, estão entre os personagens do texto Do hall do prédio ao farol: casais contam como se apaixonaram em SP, que faz parte desta série.

Teve também quem respondesse à pergunta da reportagem com outra questão. “A pergunta é: existe amor na gente? Cadê o nosso amor? O nosso amor próprio. Se a gente não tiver, não vai encontrar amor em lugar nenhum”, disse o artista plástico Átila Fraga, 43 anos.

O baiano Átila Fraga espalha lambe-lambe em SP criou o projeto Paulestinos

Cocriador do Paulestinos, projeto que transforma lambe-lambes em arte e cujo nome é uma referência à mistura de paulistas com nordestinos, o artista baiano tem sua história contada no texto Artista baiano espalha amor em forma de lambe-lambe pelas ruas de SP.

Luta pelos direitos LGBT

Também da Bahia, Helcio Beuclair, de 40 anos, contou ao Metrópoles sua história de amor pela cidade, lugar que ele chama de “ilha de esperança”. Foi na capital paulista sentiu que podia ser quem era.

Helcio Beuclair é ativista LGBT, veio da Bahia para SP; ; na imagem, ele está no Largo do Arouche - Metrópoles
Helcio Beuclair é ativista LGBT, veio da Bahia para SP; na imagem, ele está no Largo do Arouche

“Tem muitas dores [em São Paulo], mas eu acho que, quando a gente põe na balança, poder ser quem sou, amar quem eu quero, viver como eu quero, as dores se tornam pequenas. São Paulo é uma ilha de esperança, uma das maiores e mais estruturadas, no país que persegue e mata LGBTs.”

A relação de Helcio com a cidade não são apenas flores. Pouco tempo depois de chegar a São Paulo, ele morou nas ruas. Hoje, é coordenador de um coletivo que luta pelos direitos da população LGBT na cidade, um jeito de tornar São Paulo um lugar melhor. Ele faz parte da reportagem SP é ilha de esperança onde posso ser quem eu sou, diz o ativista LGBT.

Teve ainda, claro, quem foi categórico em dizer para o Metrópoles que falta amor em São Paulo, onde individualismo parece predominar, como o aposentado Flávio Camilo, que participa dos vídeos que compõem esta reportagem no Instagram.

“A gente vê muito individualismo na cidade, ninguém se preocupa mais com ninguém, são muito poucos que se preocupam, que fazem doação. Tá difícil confiar nas pessoas, confiar nos políticos. A gente sobrevive, na verdade.”

O amor nas cartas

Mesmo assim, o amor parece ser a principal busca de quem vive na cidade. Ou, melhor dizendo, pelo menos o principal interesse que leva as pessoas a procurarem respostas para suas vidas nas cartas de Marilene Francisca da Silva, 59 anos, a cartomante Madalena.

Marilene Francisca da Silva, 59 anos, é a cartomante Madalena, que atende no Viaduto do Chá - Metrópoles
Marilene Francisca da Silva, 59 anos, é a cartomante Madalena, que atende no Viaduto do Chá

“De cada três que jogam, a conversa é amor. Amor. Que foi embora, que é para voltar, essas coisas assim. Aí, você ensina uma reza, faz aquele pensamento positivo. É aí que entra o amor. Ela fala ‘ah, mas ele não presta’. Daí eu digo ‘mas você falou direitinho com ele?’. Tudo o que faz, tem que fazer com amor, senão não dá certo.”

Ela tem até receita para ter amor em São Paulo, dadas as características peculiares da metrópole. “É preciso ter muita calma, porque aqui as pessoas andam aperreadas, muito avexadas, ainda mais na situação que a gente anda. Mas eu acho que, se usar a cabeça, tirando um instantinho assim para pensar, você consegue achar.”

Na cidade onde tantas desigualdades têm vez, o amor entre as pessoas e da própria população com a capital paulista parece ser, afinal, o que sustenta essa grande metrópole, como bem adiantou Criolo.

Falando nele, a reportagem perguntou ao cantor se ele tinha algum verso sobre o amor em São Paulo. A resposta, pensada na hora, é uma verdadeira poesia sobre a metrópole. Veja abaixo:

“Eu acho que o verso de amor por São Paulo é a nossa existência, porque tudo foi feito pra gente não estar sorrindo. Tudo é construído de um jeito para a gente estar prestando serviço pra alguém.

Então, a nossa existência, o nosso sorriso, o nosso brilho, a nossa esperança, o nosso jeito de deixar um ambiente bom dentro de casa, fora de casa, no trabalho. Eu acho que essa é uma poesia viva, é um verbo vivo que tá acontecendo, que é o que faz a gente acreditar, acreditar que pode ser melhor.

Eu acho que essa poesia se dá nessa pulsação de simplesmente querer ver as coisas melhorarem. E talvez ela seja silenciosa, não tá no outdoor, mas a melhor campanha de todas é estar perto de alguém que acredita junto com você. Não acreditar só, não se sentir só neste acreditar, talvez essa seja a maior poesia de todas.”

Esse é o texto principal da série comemorativa do aniversário de 471 anos de São Paulo. Confira todas as reportagens da edição especial:

  • “Existe muito amor na cidade, sim”, diz Criolo no aniversário de SP
  • Artista baiano espalha amor em forma de lambe-lambe pelas ruas de SP
  • Cartomante tira a sorte de SP e garante: “Tem amor, sim”
  • “SP é ilha de esperança onde posso ser quem eu sou”, diz ativista LGBT
  • Do hall do prédio ao farol: casais contam como se apaixonaram em SP
CEO
Lilian Tahan
DIRETOR-EXECUTIVO
Otto Valle
EDITORA-CHEFE
Márcia Delgado
DIRETORA DE OPERAÇÕES E INOVAÇÃO
Olívia Meireles
COORDENAÇÃO
Érica Montenegro
EDIÇÃO
Angélica Sales
Fabio Leite
REPORTAGEM
Jessica Bernardo
William Cardoso
REVISÃO
Geisiane Sousa
Juliana Afione
EDIÇÃO DE ARTE
Gui Prímola
DESIGN
Caio Ayres
EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA
Daniel Ferreira
Michael Melo
FOTOGRAFIA
William Cardoso
Rodrigo Freitas
COORDENAÇÃO DE VÍDEO
Gabriel Foster
CAPTAÇÃO DE VÍDEO
Rodrigo Freitas
William Cardoso
EDIÇÃO DE VÍDEO
Rodrigo Freitas
VIDEOGRAFISMO
Tauã Medeiros
TECNOLOGIA
Italo Ridney
Saulo Marques

Adicionar aos favoritos o Link permanente.