Palestinos voltam para o norte de Gaza após cessar-fogo

Israel autorizou o retorno dos palestinos após a entrada em vigor da trégua com o Hamas no enclave, em 19 de janeiro. Os deslocados, que estavam presos há meses no sul da Faixa de Gaza, começaram a voltar para suas casas na estrada costeira de Nusseirat por volta das 7h desta segunda-feira (27/1), no horário local. Em troca, o Hamas anunciou que seis reféns serão libertados.

“Após negociações intensas e determinadas, Israel recebeu do Hamas uma lista com a situação de todos os reféns (vivos ou mortos)” que poderiam ser libertados na primeira fase do acordo, informou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nesse domingo (26/1). O governo israelense também afirma que recebeu informações do Hamas sobre a situação dos 26 reféns que ainda serão soltos durante a primeira fase do acordo.

De acordo com o correspondente da RFI, parceiro do Metrópoles, em Tel Aviv, Nicolas Falez, o governo israelense anunciou que três reféns devem ser libertados na quinta-feira (30/1).

Entre eles, a jovem Arbel Yehud, capturada no ataque do Hamas de 7 de outubro, uma militar, Agam Berger, e outro civil que não teve a identidade revelada. Outros três reféns devem ser soltos no sábado (1º/2).

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, alertou em uma mensagem na rede social X que os acordos de cessar-fogo seriam “rigorosamente aplicados” na Faixa de Gaza e no Líbano. “Qualquer um que desrespeite as regras ou ameace as forças do Exército israelense pagará um preço alto. Não permitiremos um retorno ao 7 de outubro”, escreveu ele logo após o início do retorno dos deslocados de Gaza ao norte do território, em referência ao ataque do Hamas que desencadeou a guerra em outubro de 2023.

Já o ex-ministro da Segurança Nacional israelense Itamar Ben Gvir, de extrema direita, que se opõe ao acordo, disse em outra mensagem que as imagens do retorno dos habitantes de Gaza eram “de vitória” para o Hamas.

Hamas denuncia proposta de Trump

O Hamas e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, denunciaram nesse domingo (26/1) a proposta do americano Donald Trump de “limpar” a Faixa de Gaza e transferir seus habitantes para o Egito e a Jordânia. Trump afirmou ter conversado com o rei Abdullah II da Jordânia e que esperava falar com o presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi.

Em reação às declarações de Trump, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reiterou a rejeição de seu país à proposta. “Nossa rejeição ao deslocamento dos palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos”, disse o chanceler.

O presidente al-Sissi reiterou “o apoio constante” do Egito à permanência “do povo palestino em sua terra”, e criticou “tudo o que afete os seus direitos, como a colonização, anexação de terras, deslocamento ou transferência dos palestinos de seu território, seja temporária ou permanente”.

A Liga Árabe criticou “as tentativas constantes de tirar os palestinos da sua terra”. “O deslocamento forçado e a expulsão de pessoas de sua terra só podem ser chamados de limpeza étnica”, segundo o secretariado-geral da organização.

Ataque no Líbano

O Exército israelense abriu fogo na fronteira com o sul do Líbano nesse domingo (26/1), matando 22 pessoas, incluindo um soldado libanês e seis mulheres. A operação deixou 124 feridos, segundo um balanço do Ministério da Saúde.

O ataque ocorreu enquanto centenas de pessoas tentavam retornar para os seus vilarejos, após o fim do prazo para a retirada das tropas israelenses, previsto na trégua com o Hezbollah.

Segundo o acordo negociado entre os dois países, que em novembro pôs fim a dois meses de conflito, o Exército israelense deveria concluir neste domingo sua retirada do sul do Líbano. Mas Israel já declarou que dará continuidade à operação militar.

O compromisso prevê que apenas o Exército libanês e os capacetes azuis da ONU mantenham tropas no sul do Líbano. O acordo, supervisionado pelos Estados Unidos, foi prorrogado até 18 de fevereiro, segundo a Casa Branca, que não mencionou um cessar-fogo.

De acordo com o governo americano, os Estados Unidos vão negociar com Israel e o Líbano o retorno de prisioneiros libaneses capturados desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.

Novo presidente pede “calma”

O presidente libanês, Joseph Aoun, pediu à população para manter “a calma e confiar em seu Exército”, que busca “garantir o retorno seguro aos seus lares e vilarejos”.

O Exército libanês havia aconselhado a população a não se dirigir para áreas ainda ocupadas pelas tropas israelenses, mas acrescentou que “continuará ao lado dos habitantes para protegê-los dos ataques”.

A ONU também pediu “cautela” aos deslocados. “As condições ainda não foram estabelecidas para o retorno seguro dos cidadãos aos seus vilarejos ao longo da Linha Azul”, afirmaram em um comunicado conjunto a representante da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, e o general Aroldo Lázaro, comandante da Força Provisória das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês), em referência à fronteira entre os dois países, delimitada pela ONU.

O Hezbollah pediu aos países que mediam o acordo que “assumam suas responsabilidades face às violações e crimes do inimigo israelense”, e pedindo que o país seja forçado a bater retirada.

O acordo de 27 de novembro prevê que o Hezbollah retire suas forças para o norte do rio Litani, a cerca de 30 quilômetros da fronteira, e desmantele sua infraestrutura militar no sul.

Israel evacuou a zona costeira do sul do Líbano, mas permanece em áreas no leste. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou na sexta-feira que a retirada continuaria além do prazo de 26 de janeiro.

“O acordo de cessar-fogo não foi totalmente cumprido pelo Líbano, e o processo de retirada em etapas continuará”, afirmou sobre a adoção do pacto, supervisionado pelos Estados Unidos.

Macron pede retirada de Israel

O presidente francês, Emmanuel Macron, instou, também nesse domingo (26/1), Netanyahu a “retirar” suas forças ainda presentes no Líbano.

A guerra entre Israel e o Hezbollah forçaram 60 mil israelenses e outros 900 mil libaneses a fugirem de suas casas. A guerra deixou mais de 4 mil mortos, de acordo com as autoridades libanesas.

O deputado do Hezbollah, Ali Fayyad, afirmou no sábado (25/1) que “os pretextos de Israel” visam “seguir uma política de terra arrasada” e tornar “o retorno dos moradores impossível”.

O Hezbollah abriu uma frente contra Israel um dia após o ataque do movimento palestino Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, onde uma trégua está em vigor desde 19 de janeiro.

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