Piscinões aliviam, mas não são solução definitiva contra enchentes

São Paulo — Os piscinões ajudam a conter as enchentes, mas estão longe de ser uma solução definitiva para evitar alagamentos na cidade de São Paulo. Não por acaso, a própria prefeitura desloca agentes de trânsito para pontos estratégicos, em avenidas beneficiadas pelos reservatórios, quando é decretado estado de atenção na capital paulista.

A construção de piscinões veio à tona nesta semana após o alagamento que provocou destruição e morte nos bairros da Vila Madalena e Pinheiros. Na segunda-feira (27/1), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) prometeu retomar um projeto criado em 2002, durante a gestão de Marta Suplicy, que previa um reservatório na Rua Abegoária. Especialistas dizem que essa não deve ser encarada como solução isolada e definitiva.

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Rio Aricanduva, na zona leste de São Paulo

Viatura da CET na Avenida Aricanduva, na zona leste de São Paulo
Viatura da CET na Avenida Aricanduva, na zona leste de São Paulo
Agente da CET na Avenida Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo
Viatura da CET na Avenida Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo
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Túnel do Anhangabaú, na região central de São Paulo

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Rio Aricanduva, na zona leste de São Paulo

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Viatura da CET na Avenida Aricanduva, na zona leste de São Paulo

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Viatura da CET na Avenida Aricanduva, na zona leste de São Paulo

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Agente da CET na Avenida Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo

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Viatura da CET na Avenida Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo

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Viatura da CET na Avenida Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo

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Viatura da CET na Avenida Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo

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Carro passa em área alagada na Avenida Ricardo Jafet, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo

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Carro passa em área alagada na Avenida Ricardo Jafet, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo

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Piscinão Aricanduva IV, na zona leste de São Paulo

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Piscinão Aricanduva IV, na zona leste de São Paulo

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Piscinão Aricanduva IV, na zona leste de São Paulo

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Piscinão Jooji Hato, no Jabaquara, zona sul de São Paulo

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A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) tem cerca de 160 pontos de interferência por chuva na capital paulista, para onde são deslocados os agentes quando a cidade ou determinada região entra em estado de atenção para alagamentos. Eles são responsáveis por implementar desvios do trânsito, com cavaletes, cones e viaturas, na tentativa de impedir que motoristas avancem para o meio de uma enchente.

Parte desses lugares fica nas proximidades de rios e córregos que contam com piscinões e que, mesmo assim, podem sofrer com alagamentos.

Nesta quarta, a capital paulista entrou em estado de atenção e os agentes da CET estavam em seus postos na Avenida Aricanduva, que margeia o rio de mesmo nome, na zona leste. São quatro piscinões no curso d’água, moradores e comerciantes dizem que a situação é hoje muito melhor do que no passado, mas mesmo assim o trânsito sofre intervenções.

Um dos agentes disse que, no mês passado, a CET foi obrigada a promover desvios nas proximidades da Rua Baquiá e da Avenida Itaquera, por causa de alagamentos. O Rio Aricanduva nem chegou a transbordar. Entretanto, um detalhe faz com que a água fique represada na via.

Segundo um agente, há pontos de referência que seus colegas usam na região para saber se já é hora de promover os desvios na Avenida Aricanduva. Quando a água atinge o tabuleiro (parte inferior) da ponte, é sinal de que as galerias não conseguem mais drenar a enxurrada da via.

Zona sul

O Piscinão Deputado Jooji Hato, próximo ao início da Rodovia dos Imigrantes, deu um alívio para quem precisa passar pela Avenida Professor Abraão de Morais, na zona sul de São Paulo. Entretanto, sempre que chove forte e a região entra em estado de atenção, agentes da CET são deslocados para cinco locais na própria via e em sua continuação, a Avenida Ricardo Jafet.

Foi exatamente isso que aconteceu nesta quarta, quando agentes de trânsito estavam nos cruzamentos da Abraão de Morais com ruas como Francisco Tapajós, Fagundes Filho e Praça Leonor Zaupa.

Segundo os profissionais ouvidos pela reportagem, a situação no passado era muito pior, quando qualquer chuva um pouco mais forte provocava alagamentos gigantescos na região. Apesar disso, ainda há locais onde o acúmulo de água é grande e causa transtornos para os motoristas, como no cruzamento da Ricardo Jafet com a Vergueiro, cerca de 3 km depois do piscinão, nas proximidades do Viaduto Saioá, um dos pontos de atenção.

Atenção

Um agente da CET acompanhava atento a chuva na Rua Alves dos Santos, no Campo Limpo, zona sul da cidade. “Eles ficam ali prontos para colocar os cones para os carros não descerem”, explica o mecânico Benedito Salvador da Silva, de 62 anos, que mora na região há mais de uma década.

Perto dali, três piscinões coletam a água da chuva. Mesmo assim, a rua costuma alagar depois de tempestades mais fortes, segundo Benedito.
“Qualquer chuvinha além do limite a água vem na sarjeta, na guia. Eu toda hora tô procurando prestar atenção aí fora por causa disso”.

A casa dele tem uma comporta, instalada para evitar prejuízos com as enchentes. Na última grande enchente, há quatro anos, o volume de água assustou a cachorra Pandora, que acordou a família aos latidos.

O que diz a Prefeitura de SP

A Prefeitura de São Paulo afirma que os reservatórios mencionados pela reportagem têm se mostrado eficazes no controle de grandes alagamentos. Segundo dados do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo (CGE), a média de ocorrências de alagamentos nas avenidas Professor Abraão de Morais e Ricardo Jafet caiu mais de 45% se comparada aos últimos cinco anos. Para o Córrego Paciência, que também conta com um novo reservatório, os eventos de transbordamento tiveram redução de 25%.

“Vale destacar que os piscinões sozinhos não são responsáveis por conter os alagamentos, especialmente, diante de eventos climáticos extremos. Eles agem como ferramenta essencial para mitigar o planejamento urbano inadequado de décadas e a impermeabilização do solo”, diz, em nota.

A prefeitura diz que, no ano passado, foram retiradas mais de 286 mil toneladas de detritos dos piscinões. Em 2023, este número foi de 224 mil.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) afirma que existem três soluções principais para o controle de cheias: a convencional, que envolve a ampliação das galerias de águas pluviais; o uso de dispositivos para aumentar a infiltração e retenção, como jardins de chuva; e os reservatórios. “Todas elas são utilizadas pela prefeitura, a depender sempre de sua viabilidade técnica e financeira. As intervenções propostas pela Secretaria já levam em consideração as alterações dos regimes de chuvas na cidade”, diz.

Para enfrentar os eventos climáticos extremos, a prefeitura diz que também tem empregado estratégias de ampliação da permeabilização do solo – como a obrigatoriedade dos lotes municipais possuírem uma taxa de permeabilidade mínima, sem possibilidade de redução; expansão dos jardins de chuva; incorporação de soluções baseadas na natureza em novos projetos públicos; recuperação de áreas de mananciais e várzeas de rios e córregos.

“A cidade de São Paulo tem um dos melhores índices (54%) de cobertura vegetal entre as capitais do mundo”, afirma.

A atual gestão diz que, em 2024, declarou 32 áreas verdes particulares como de utilidade pública, o equivalente à cidade de Paris, elevando para 26% o total do território paulistano dedicado à preservação ambiental. “Todas estas medidas têm auxiliado a manter e ampliar as zonas de amortização hídrica do Município para as gerações futuras”, afirma.

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