Cientistas criam minicérebros com células de idosos supercentenários

No Brasil, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) desenvolvem minicérebros, a partir de células de idosos supercentenários, para entender os segredos por trás de tanta longevidade e os genes que conferem este “superpoder”. Os selecionados não apresentam nenhum tipo de doença neurodegenerativa e já ultrapassaram os 100 anos, como a freira Inah Canabarro Lucas, que é reconhecida como a pessoa viva mais velha do mundo.

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A participação da pessoa mais velha do mundo no estudo é um dos diferenciais. A brasileira Inah Canabarro Lucas já completou 116 anos de vida e segue completamente lúcida, onde vive na cidade de Porto Alegre. Recentemente, a sua incrível longevidade foi reconhecida mundialmente pela equipe do Guinness World Records.

 

Além do caso de Inah, outros idosos supercentenários são recrutados para a pesquisa do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) com minicérebros. São os casos do veterinário Milton, de 108 anos, que vive em Brasília e da nadadora Laura, de 105 anos, em Minas. No total, 75 indivíduos já forneceram amostras.


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Minicérebros de supercentenários

Em uma frente, as células presentes no sangue dos supercentenários passam por um complexo processo dentro do laboratório. Ali, essas células sanguíneas são convertidas em células-tronco pluripotentes induzidas (iPS). Neste estágio, elas podem se diferenciar (“transformar”) em qualquer outro tipo de célula do organismo.

Como o objetivo é criar minicérebros (organoides), a equipe de cientistas reprograma as células do sangue em células nervosas. Aqui, “estamos desenvolvendo organoides mais complexos [que o normal], capazes de mimetizar de um modo mais amplo o que acontece no cérebro dos centenários”, detalha Mayana Zatz, cientista e coordenadora do CEGH-CEL, para a Agência Fapesp.

Essa “massa” de células que simula um cérebro humano é composta por neurônios e pelas micróglias. São células capazes de reconhecer e sinalizar a presença de patógenos no tecido cerebral, além de desempenharem papel fundamental no desenvolvimento.

“Com esse modelo experimental complexo e mais sofisticado é possível replicar vários aspectos das funções, interações e organização do cérebro. É um modelo ideal para estudar tanto questões referentes ao desenvolvimento cerebral quanto anomalias e distúrbios neurológicos [como o Alzheimer], pois mimetiza a arquitetura celular e os processos fisiológicos do cérebro humano”, conta Raiane Ferreira, pesquisadora do CEGH-CEL e bolsista de doutorado da Fapesp.

Criando minicérebros e descobrindo formas de proteção contra Alzheimer, estudo da USP busca idosos que já passaram dos 100 anos e se tornaram supercentenários (Imagem: Mahmut Göğüs/Pexels)

A partir da análise desses modelos, a equipe poderá obter novos insights sobre estratégias naturais de proteção do cérebro contra o Alzheimer, algo com potencial de beneficiar milhares de pessoas em todo o mundo.

Genoma de quem passou dos 100 anos

Na outra frente, o grupo de pesquisadores da USP sequencia os genomas dos idosos supercentenários, o que permite identificar possíveis genes protetores de doenças que podem surgir com o avanço da idade, como a doença de Alzheimer, outras demências e perda de massa muscular. 

“Sabemos que manter um estilo de vida saudável é muito importante para se obter uma velhice com qualidade de vida. No entanto, sabemos também que, depois dos 90 anos, a genética é muito mais determinante que o ambiente”, comenta a cientista Zatz.

Tanta diversidade no DNA “é algo que não existe no mundo, visto que eles têm uma variabilidade genética muito grande em decorrência de nossa miscigenação [brasileira]. Isso pode nos permitir identificar um maior número de genes protetores [do que outras pesquisas do tipo]”, detalha sobre a importância da iniciativa. Em breve, os primeiros resultados devem ser compartilhados.

Sem ligação com a pesquisa brasileira, outros cientistas do Instituto Karolinska (KI), na Suécia, realizam um experimento parecido com a coleta de sangue de idosos. Entretanto, a variabilidade genética no país é muito menor, e isso compromete a aplicabilidade dos achados em outras populações. 

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