Itaú vai à Justiça contra ex-diretor financeiro e pede R$ 3,3 milhões

O Itaú Unibanco entrou, nessa quinta-feira (30/1), com uma ação judicial contra Alexsandro Broedel, ex-diretor financeiro da empresa, pedindo uma indenização de R$ 3,35 milhões.


Entenda o imbróglio

  • Em dezembro do ano passado, o Itaú acusou Broedel de ter violado políticas internas do banco e agido em “grave conflito de interesses”, supostamente em benefício próprio, em contratações de pareceres técnicos.
  • A acusação estava na ata de uma assembleia geral extraordinária do Itaú Unibanco, publicada no dia 7 de dezembro. Entre as acusações apresentadas pela instituição financeira, estão as de gestão abusiva, conflituosa e irregular e desvio de poder.
  • O documento foi assinado pelos diretores José Virgilio Vita Neto e Álvaro Felipe Rizzi Rodrigues. Na ocasião, o Itaú também reportou a apuração ao Banco Central (BC), ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
  • De acordo com o Itaú, Broedel teria se valido do cargo para aprovar pagamentos a um fornecedor com quem supostamente tinha vínculos.
  • Segundo a companhia, os pagamentos teriam somado mais de R$ 10 milhões entre 2021 e 2024.
  • Procurado pela reportagem do Metrópoles, o Itaú informou que não comentaria o caso.

A investigação do Itaú

A apuração interna do Itaú sobre o caso começou em agosto e foi concluída em novembro do ano passado. No início de dezembro, o banco protocolou o chamado protesto interruptivo de prescrição – medida judicial que estabelece que eventuais irregularidades cometidas em um período anterior a três anos não prescrevam.

Na assembleia geral extraordinária, o Itaú também pediu a anulação das contas aprovadas pelo ex-diretor financeiro entre 2021 e 2023. O objetivo do banco é recuperar valores que teriam sido pagos indevidamente.

De acordo com o Itaú, Broedel teria contratado, entre 2019 e 2024, cerca de 40 pareceres da Care – empresa que tem como sócios Eliseu Martins e seu filho, Eric Martins. O valor total dessas contratações chega a R$ 13,26 milhões.

Outro dado importante levantado pelo Itaú envolve a relação de proximidade entre Broedel e Martins. Eles são sócios desde 1998 em uma empresa, a Broedel Consultores, informação que teria sido omitida pelo então diretor financeiro.

Os controles internos do Itaú estipulam que esse tipo de relação deve ser devidamente informada e detalhada ao banco, para que sejam cumpridos requisitos regulatórios.

“Dada a gravidade dos fatos, o aprofundamento das apurações envolveu também a revisão das movimentações financeiras em conta-corrente, para fins de verificação de indícios dos crimes previstos na Lei nº 9.613/98”, afirmou o Itaú, na época.

Em uma análise preliminar, o banco identificou 56 transferências da Care e de uma outra empresa de Martins, a Evam, para Broedel e sua empresa. Segundo o Itaú, 23 transferências teriam sido realizadas em datas próximas às dos pagamentos do banco à Care. Essas operações somariam R$ 4,8 milhões.

Ainda de acordo com a investigação interna do Itaú, o ex-diretor financeiro do banco recebia um “rebate” de cerca de 40% ao contratar os pareceres da Care.

Inicialmente, o Itaú entrou com o protesto, que não é uma ação judicial, mas uma espécie de notificação. Agora, foi à Justiça, reiterou as acusações e pediu a indenização.

“O renome dos envolvidos, entretanto, contrasta com a natureza do ilícito praticado ao longo dos anos, uma vez que, após acurada investigação interna, descobriu-se que o ex-CFO (Alexsandro Broedel), Eliseu Martins, seus filhos e empresas engendraram um esquema que, embora sofisticado nas medidas para encobrimento do ilícito, tinha como objetivo realizar uma fraude rasteira”, afirma a defesa do Itaú, a cargo do escritório Bermudes Advogados, na ação judicial.

“É de sabença geral (principalmente para alguém tão sofisticado quanto o Sr. Eliseu) que não se pode pagar ao administrador da sociedade anônima que o contrata – do mesmo modo que se sabe que é crime pagar um político para obter um contrato com o Estado”, prosseguem os advogados do Itaú.

Ainda de acordo com a defesa da instituição financeira, “também pairam graves dúvidas a respeito das circunstâncias da contratação e a efetiva prestação dos serviços”. “O que, entretanto, não será discutido nessa ação judicial, em que se busca apenas a devolução dos valores recebidos indevidamente pelo ex-CFO”, completa a defesa do Itaú.

O que diz Alexsandro Broedel

Logo depois de ter sido acusado de conflito de interesses pelo Itaú, Alexsandro Broedel se manifestou. Em nota à imprensa divulgada no dia 7 de dezembro, o agora ex-diretor financeiro do banco disse que as denúncias eram “infundadas e sem sentido”. Na época, ele afirmou ainda que tomaria “medidas judiciais cabíveis”.

Segundo Broedel, “os serviços mencionados eram do conhecimento do Itaú e requeridos por diferentes áreas do banco”.

De acordo com o ex-diretor do Itaú, Eliseu Martins era fornecedor do banco havia décadas, sem que qualquer irregularidade tivesse sido apontada. O Itaú não confirma essa informação.

“Causa profunda estranheza que o Itaú levante a suspeita sobre supostas condutas impróprias somente depois de Broedel ter apresentado a renúncia aos seus cargos no banco para assumir uma posição global em um dos seus principais concorrentes,” afirmou o ex-diretor financeiro do banco, na ocasião.

Até o momento, Alexsandro Broedel não se pronunciou sobre a ação judicial do Itaú que lhe cobra R$ 3,3 milhões de indenização.

Depois de 12 anos, o executivo pediu demissão do Itaú, em julho do ano passado, para assumir um cargo no Santander, em Madri. Ele ainda depende da aprovação do Banco Central espanhol.

O que diz Eliseu Martins

Na época das acusações do Itaú, em dezembro, a defesa de Eliseu Martins, também por meio de nota, negou qualquer conduta indevida e acusou o banco de “má-fé”.

Martins afirmou que todos os serviços prestados ao Itaú, de pareceres técnicos e consultoria, foram entregues.

“Há vários materiais de suporte das consultorias que foram feitos sem formalidade, algo de que me arrependo agora, dada a má-fé da interpretação dada pelo banco. Trabalho com, aproximadamente, seis outros colegas e temos, inclusive, a condição de só opinarmos verbalmente ou via parecer”, disse Martins, na ocasião.

“Assim, há opiniões que não geram parecer e não aparecem em qualquer documento. Mas são serviços efetivamente prestados, como todos os que fiz ao Itaú”, destacou.

Ainda segundo Martins, ele e Broedel trabalharam de forma conjunta na elaboração de pareceres para terceiros, “às vezes assinando em conjunto e às vezes com ele sempre ajudando tecnicamente, como com outros colegas, com o faturamento por uma única empresa”.

“Talvez influenciados pela perda de tão brilhante profissional, estão, no banco, interpretando de forma totalmente incorreta o que, de fato, ocorreu. E, além de me envolverem para atingi-lo, cometem ainda o absurdo de envolverem meus filhos, que nada têm a ver com os fatos que o banco relata e mal interpreta”, concluiu Martins.

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