Amazônia sitiada: a batalha da PF contra o crime organizado

No coração da maior floresta tropical do mundo, a Polícia Federal (PF) enfrenta o crime organizado em um terreno traiçoeiro, onde o garimpo ilegal e facções criminosas se espalham por áreas inacessíveis. Patrulhar uma área de mais de 4 milhões de km² exige helicópteros, embarcações e uma força policial que, apesar dos esforços, ainda é insuficiente.

O coordenador-geral de Proteção da Amazônia, Meio Ambiente e do Patrimônio Histórico e Cultural da PF, Renato Madsen, conta que realizar operações na floresta impõe um nível de dificuldade extremo.

“Na Amazônia, o ambiente é inóspito, é difícil operar lá, então você depende de meios logísticos diferenciados. É diferente de você fazer algum tipo de repressão ao crime ambiental no Distrito Federal, Goiás ou Minas Gerais, onde é possível se deslocar com muita facilidade. Na Amazônia, são rios ou distâncias que só com helicóptero é possível chegar”, explica Madsen.

As facções criminosas, por sua vez, aproveitam essas brechas para expandir sua influência. O garimpo clandestino, por exemplo, já ocupa vastas áreas da floresta e continua a se proliferar, mesmo diante das multas, que ultrapassam R$ 11 milhões – ação que visa enfraquecer financeiramente essas operações ilegais.

Extração de ouro obedece regras da ANM

De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), apenas 9,5% da extração de ouro segue as regras ambientais e minerárias. O restante opera na ilegalidade, com impactos devastadores.

“Quando se descobre um novo veio de ouro, todos vão ali para tentar a vida”, conta Madsen. Para algumas comunidades, essa é a única fonte de renda, tornando o combate ao garimpo ainda mais complexo.

Em uma recente operação de desintrusão na Terra Indígena Munduruku (PA), foi mobilizada uma força-tarefa composta por diversos órgãos federais, resultando em um prejuízo de R$ 112,3 milhões às atividades ilícitas, com a destruição de equipamentos e a interrupção da logística que sustenta a mineração ilegal na região.

Condições sociais

A luta esbarra não só na geografia, mas com questões sociais. Atividades como o garimpo representam a única forma de sobrevivência para algumas comunidades. Dados do relatório da Hutukara Associação Yanomami, indicam que o garimpo cresceu 46% na Terra Indígena Yanomami (TIY) entre 2020 e 2021 e 3.350% de 2016 a 2020.

“Muitas vezes, pessoas vão procurar essa atividade ilegal. Seja a mineração, seja a exploração da madeira, como uma forma de se manter, de se sustentar, sustentar a família”, conta o coordenador-geral.

Contenção

O Brasil se comprometeu internacionalmente a atingir o desmatamento zero até 2030, e as mudanças começaram a ser percebidas após a transição de governo em 2023, quando a PF criou uma diretoria exclusiva para a Amazônia e o meio ambiente, intensificando as operações na região.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.