Como o “terrorismo nutricional” nas redes sociais prejudica a saúde da população

“Nunca coma esse alimento!”. “Esse ingrediente é um veneno!”. “Coma isto e queime gorduras!”. “O detox que vai salvar sua vida!”. Muitas mensagens semelhantes a essas, de tom alarmista e apelativo, têm bombardeado as redes sociais e os celulares de muitos usuários. Em geral, elas são disparadas diariamente por influenciadores que se apresentam como médicos, estudiosos, instrutores, atletas ou simplesmente praticantes de exercícios, que procuram ditar que se deve ou não comer ou usar na alimentação, ou mesmo chamar a atenção para venda de um curso ou de um produto.

Este comportamento, chamado pelos especialistas de “terrorismo nutricional”, traz na realidade um efeito devastador para muitas pessoas e também para os profissionais de Nutrição. Em janeiro deste ano, o Conselho Federal de Nutrição (CFN) lançou uma ampla campanha de esclarecimento voltada principalmente às redes sociais, que procura combater a desinformação e a disseminação de orientações nutricionais sem embasamento técnico e científico. Uma destas mensagens é direta: “Nutrição é com nutricionista!”

Para a professora Cristiani Brandão, preceptora do estágio em Nutrição Clínica no curso de Nutrição da Universidade Tiradentes (Unit), o terrorismo nutricional prejudica a credibilidade e a prática profissional dos profissionais de nutrição, comprometendo o trabalho dos que fazem uma orientação nutricional baseada em ciência e equilíbrio. “Isso acontece porque: gera medo e desconfiança; distorce o conhecimento científico; incentiva dietas restritivas e insustentáveis; impacta a relação das pessoas com a comida e desvaloriza o papel do nutricionista”, alerta, citando a desvalorização do trabalho científico, a concorrência com a desinformação; a dificuldade na adesão dos pacientes; o impacto na saúde mental dos pacientes e os desafios na comunicação, entre outros problemas.

Ela descreve seis padrões de discurso e comportamento que identificam o terrorismo nutricional nas mensagens e publicações: o uso de termos alarmistas e extremistas; a proibição de grupos alimentares sem justificativa científica; a falsa sensação de controle absoluto sobre a saúde; o excesso de regras e restrições muito rígidas; a indicação de alimentos ou produtos milagrosos; e a propagação de informações sem base científica, com base em estudos isolados, mal interpretados ou fora de contexto. A estas características, acrescenta-se a demonização de tipos específicos de alimentos, sem considerar o contexto geral da alimentação.

“Esse é um tipo de abordagem que pode ser prejudicial à saúde mental e física, levando a transtornos alimentares, comportamentos obsessivos e uma relação ruim com a comida. Ele traz esses e diversos outros prejuízos para as pessoas em geral, levando a deficiências nutricionais; ao gasto desnecessário com produtos milagrosos, confusão, desinformação, problemas na socialização e na qualidade de vida”, afirma Cristiani, apontando que grande parte das pessoas influenciadas por estas mensagens acabam fazendo escolhas alimentares extremas e prejudiciais à saúde.

Quem são os terroristas?

A prática do terrorismo nutricional é atribuída principalmente a influenciadores e vendedores de cursos ou produtos alimentares nas redes sociais são os principais disseminadores do terrorismo nutricional. De acordo com a professora, isso acontece porque as mensagens com discursos alarmistas chamam atenção, geram engajamento e, muitas vezes, são usadas como estratégia de marketing para vender produtos, serviços ou cursos. Ela explica que, para diferenciar um profissional sério de um terrorista nutricional, é importante observar o discurso, a abordagem e a base científica das informações que ele transmite.

“Pessoas sem conhecimento ou formação adequada na área nutricional têm maiores chances de se comportar como “terroristas nutricionais” quando se envolvem com esses assuntos, por razões como falta de compreensão científica; propagação de modismos; busca por reconhecimento e audiência; uso de “experiência pessoal” como argumento; falta de entendimento sobre os riscos; manipulação de inseguranças e medos. Em contraste, profissionais qualificados têm o conhecimento necessário para balancear as informações de forma segura, considerar o contexto individual de cada paciente e promover uma abordagem que seja tanto saudável quanto sustentável”, diferencia.

A principal orientação contra o terrorismo nutricional é a busca por conhecimento qualificado e fontes confiáveis, através da educação formal em Nutrição; cursos e certificações confiáveis (a exemplo do CFN); acompanhar pesquisas científicas e estudos; consultar profissionais qualificados; desenvolver pensamento crítico; participar de comunidades e discussões profissionais; estudo contínuo e atualizações, além de adotar a ética e responsabilidade na comunicação. “Dessa forma, a pessoa pode evitar cair na tentação de seguir abordagens alarmistas e, ao mesmo tempo, se tornar uma fonte responsável de informações sobre nutrição”, conclui Cristiani.

Fonte: Asscom Unit

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