Cenário gelado do Ártico pode ficar irreconhecível em 2100, diz estudo

Um estudo recém-publicado na revista científica Science aponta que a paisagem gelada da região polar do Ártico deve ficar irreconhecível em menos de 80 anos, em 2100. Conforme o artigo, os pesquisadores afirma que, mesmo se todos os países cumprirem suas promessas já divulgadas para redução de emissões de gases de efeito estufa, a temperatura global poderá subir 2,7°C até o fim do século.

O aumento da temperatura aceleraria as transformações drásticas no Ártico, uma das regiões que mais sofre com o aquecimento do planeta, causando não só o derretimento do gelo e danos à infraestrutura, mas também o colapso de ecossistemas e impactos graves nas comunidades locais.


Entenda

  • O planeta ainda não chegou aos 2,7°C de aquecimento projetados para o final do século, mas em 2024, pela primeira vez, as temperaturas globais superaram 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. E esse 1,5°C é o chamado “limite seguro” do aquecimento global, o aumento máximo que devemos impedir para evitar os piores efeitos da crise climática.
  • A projeção dos pesquisadores considera as chamadas Contribuição Nacional Determinada (NDC, na sigla em inglês) assumidas pelos países. As NDCs são as metas climáticas das nações signatárias do Acordo do Clima de Paris. Ambientalistas e pesquisadores cobram NDCs com metas mais ousadas.
  • Caso o aumento se confirme, a região enfrentará temperaturas mais altas do que as observadas antes da industrialização, afetando diretamente o clima e os ecossistemas locais.
  • Espécies como ursos polares, focas e baleias Beluga enfrentarão mudanças em seus habitats e alimentação, com algumas populações possivelmente desaparecendo devido à perda de gelo.
  • O derretimento do permafrost afetará a infraestrutura e as comunidades locais, danificando estradas, edifícios e gerando riscos à segurança das populações.

Impactos

De acordo com o estudo, se o aumento de temperatura atingir esse nível alarmante de 2,7°C, praticamente todos os dias do ano no Ártico terão temperaturas mais altas do que as extremas observadas antes da industrialização para a região.

Isso impactaria o Oceano Ártico como um todo, por exemplo, a camada de gelo existente poderia deixar de existir, algo que nunca aconteceu. Durante o verão, o Ártico também poderá ficar sem gelo por vários meses, o que não ocorre desde o último interglacial, um intervalo geológico há cerca de 130 mil anos.

Além disso, a Groenlândia poderá vivenciar um aumento tão intenso nas suas temperaturas que a área do gelo que derrete será até quatro vezes maior do que antes da industrialização. E esse derretimento poderá acelerar o aumento do nível do mar, com grandes volumes de água fluindo para os oceanos e impactando cidades costeiras.

Ondas de calor, secas e inundações

O estudo foi realizado a partir de uma análise detalhada das mudanças climáticas no Ártico. A pesquisa partiu inclusive de modelos climáticos para entender como essas mudanças, em particular o derretimento do gelo marinho e a diminuição da camada de permafrost, um solo permanentemente congelado, impactariam não apenas o Ártico, mas o clima global.

Dessa forma, os pesquisadores compararam o impacto do aquecimento global em cenários de 1,5°C, 2°C e 2,7°C de aumento de temperatura, baseando-se em estudos existentes e nas projeções mais recentes, como as do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Eles descobriram que o aquecimento do Ártico mais rápido do que outras regiões pode alterar profundamente o gradiente de temperatura entre os polos e o equador. Na prática, isso resulta no enfraquecimento dos ventos e pode levar a extremos climáticos que ficam “presos” por mais tempo em determinadas regiões. E esses fenômenos podem gerar ondas de calor, secas ou inundações, dependendo do clima que está “preso” na região.

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