Laudos de peritos viabilizaram esquema de desvio de drogas na Civil

São Paulo — Um esquema de desvio de cargas de drogas, feito por policiais civis, posteriormente vendidas para traficantes internacionais, só foi viabilizado graças a emissão de laudos, feitos por peritos criminais envolvidos com a quadrilha de agentes públicos, na capital paulista e na Grande São Paulo.

Até o momento, três policiais civis foram presos, entre eles o chefe de investigações do 77º DP (Santa Cecília), Cléber Gimenes. A delegada titular do mesmo distrito da capital paulista, Maria Cecília Castro Dias, foi afastada judicialmente do cargo, na sexta-feira (7/2), sob suspeita de envolvimento no esquema.

No mesmo dia, um mandado de busca e apreensão foi cumprido no apartamento dela — em um bairro nobre da zona leste de São Paulo — durante o qual foram apreendidos equipamentos eletrônicos, além da arma, distintivo e funcional policial dela. A defesa da delegada não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

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Cargas de drogas eram apreendidas e trocadas por talco ou gesso
Policial foi preso sob a suspeita de chefiar esquema criminoso
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Arte/Metrópoles

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Reprodução/Polícia Civil

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Policial foi preso sob a suspeita de chefiar esquema criminoso

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O distrito da Santa Cecília é coordenado pela 1ª Seccional, cujo chefe de investigações, Elvis Cristiano da Silva, é alvo de apurações feitas pela Corregedoria da instituição, além do Ministério Público de São Paulo (MPSP), suspeito de vender postos de chefia em distritos, para que os ocupantes contribuíssem com o esquema de desvio e venda de cargas de drogas.

Em relatório do órgão fiscalizador policial, obtido pela reportagem, é afirmado que somente um perito, atuante na região de São Bernardo do Campo (ABC), teria fraudado ao menos 23 grandes apreensões de drogas, feitas por Cléber Gimenez, quando ele chefiava as investigações na cidade da Grande São Paulo.

Talco e gesso

Foi na região metropolitana em que ele desenvolveu a “expertise” criminal usada posteriormente na capital paulista — principalmente a partir de janeiro de 2023, quando Elvis assumiu a chefia da seccional centro, segundo investigações, e indicou pessoas de confiança em postos estratégicos, entre eles o chefe do 77º DP.

Cléber Gimenez foi preso, no fim de janeiro, suspeito de contribuir com uma equipe de criminosos que apreendiam as cargas de drogas, as trocavam por talco e gesso e, posteriormente, as vendiam para traficantes internacionais.

Um galpão no Bom Retino, pertencente ao policial, era usado para a substituição das cargas. Um perito do Instituto de Criminalística estaria também envolvido com a quadrilha, com a função de emitir laudos oficiais, constatando a pureza de substâncias que, na verdade, não eram entorpecentes.

Todas as apreensões foram formalizadas em boletins de ocorrência, em esquema de rodízio no 1º DP, 2º DP, 12ºDP e 77º DP, com o intuito de despistar o MPSP. O esquema teria rendido, somente aos policiais da 1ª Seccional, ao menos R$ 50 milhões, em quase dois anos.

Junto com Cléber Rodrigues Gimenez, também foram presos, no último dia 23, os investigadores Gustavo Cardoso de Souza, 38, e Thiago Gonçalves de Oliveira, 35 — subordinados dele no 77º DP (Santa Cecília) — além do empresário do ramo da construção Maxwell Pereira da Silva, 30, e Matheus Cauê Mendes Parro, 27. As defesas deles não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.

Peritos no ABC

Antes de ser preso, Cléber Gimenez teria agido em parceria com peritos criminais corruptos no ABC.

Em um inquérito policial há o registro de que ao menos quatro peritos da região são investigados por subtrair drogas custodiadas no Núcleo de Exame de Entorpecentes do Instituto de Criminalística, onde também teriam fraudado licitações para adquirir equipamentos, além de falsificar a perícia na elaboração de laudos.

Perícias feitas por eles teriam contribuído para o desvio de 100 quilos de cocaína, apreendidos em 27 de janeiro de 2021 e de 78 tijolos da droga, quase um mês depois. Ambos os flagrantes foram feitos por delegacias do Departamento Estadual de Investigações Criminais, para as quais cargas de droga batizada, cujos laudos constatavam “pureza”, foram encaminhados.

Com a emissão dos laudos, a quadrilha composta por policiais corruptos ficava com o caminho livre para negociar as cargas de droga pura, por meio de uma rede de contato com criminosos, inclusive de origem colombiana.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou que “todos os fatos citados” pelo Metrópoles “são alvo de apuração para aplicação das medidas cabíveis”.

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